Datafolha diz que Lula vai crescer mais
Foto: Ricardo Stuckert
A maioria dos eleitores de baixa renda declara a intenção de votar no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno. Dados do Datafolha mostram que o petista pode atrair ainda mais votos desse segmento se o grupo dos “indecisos brandos” for considerado.
As principais empresas têm como praxe fazer duas perguntas no mesmo questionário: uma espontânea e outra estimulada. Na primeira, o eleitor diz em quem pretende votar sem receber nenhuma informação sobre quem são os candidatos. Na segunda, o entrevistador apresenta a lista completa com os postulantes ao cargo em questão. O indeciso brando não sabe dizer o nome na espontânea e acaba escolhendo alguém na estimulada.
A pesquisa mais recente do Datafolha, divulgada no fim da semana passada, mostra que Lula é citado espontaneamente por 46% dos eleitores com renda familiar de até dois salários mínimos por mês. As intenções de voto desse grupo no petista saltam para 54% quando os eleitores são apresentados à relação com os nomes de todos os candidatos. Ou seja, quando lembrados que Lula está na disputa, muitos dizem apoiar o ex-presidente.
Já o presidente e candidato à reeleição pelo PL, Jair Bolsonaro, é o candidato que está na cabeça de 22% dos eleitores de renda mais baixa. Na pesquisa estimulada, esse percentual avança para 26%.
O peso do eleitorado mais pobre é conhecido pelos candidatos, que dão atenção especial a esse segmento da população em suas campanhas. O Datafolha calcula que cerca de metade das pessoas aptas a votar (52%) vive mensalmente com renda familiar igual ou inferior a dois salários mínimos.
Para ganhar terreno entre esses eleitores, Bolsonaro aumentou os gastos com o Auxílio Brasil e estendeu os pagamentos do programa até o fim do ano. O benefício médio do benefício foi reajustado para R$ 600 a poucos meses da eleição.
O programa de transferência de renda criado para substituir o Bolsa Família atende parte da população mais pobre. São mais de 21 milhões de brasileiros na lista de beneficiários.
Os esforços do candidato à reeleição, no entanto, pouco reduziram sua distância para Lula nas pesquisas. Entre os mais pobres, Bolsonaro tinha 23% das intenções de voto em meados de agosto, 32 pontos a menos que Lula. Hoje o atual presidente tem 26% e está 28 pontos atrás do petista.
Para o professor Sérgio Simoni Junior, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, os discursos dos dois líderes nas pesquisas têm grande influência sobre o modo como Lula e Bolsonaro são percebidos pela camada mais pobre da população. Simoni Junior lembra de declaração do ministro da Economia de Bolsonaro, Paulo Guedes, ironizando viagens de empregadas domésticas à Disney:
— A grande maioria dos eleitores não tem conhecimento ou interesse em entender a diferença entre as equipes econômicas de cada candidato. Mas o eleitor é capaz de captar informações, mesmo que de forma indireta, por intermédio de alguém. Por exemplo, quando o Guedes diz aquelas coisas sobre empregadas irem para a Disney, isso tem uma difusão que pode chegar a certas parcelas da população por meio do boca a boca, das redes sociais. Então mesmo para a população que não acompanha cotidianamente o noticiário político, muitos captam o sinal de que um candidato tem a diretriz de defesa dos pobres e o outro fala em tirar direitos para conseguir mais empregos.
Segundo o Datafolha, 20% do grupo que ganha até dois salários mínimos se declaram indecisos na pesquisa espontânea. Já na estimulada, só 3% dizem não saber em quem votarão no primeiro turno. Os dados indicam que, embora quase todos desse segmento declarem ter preferência por algum candidato, ainda há um estoque considerável de eleitores de baixa renda que não têm o voto na ponta da língua.
A margem de erro geral das pesquisas do Datafolha é de dois pontos percentuais para mais ou menos, mas varia para cada grupo analisado individualmente. Para a população que ganha até dois salários mínimos por mês, a margem de erro é estimada em três pontos para mais ou menos.