Delegado pede investigação sobre interferência na PF
Foto: Infoglobo
O delegado de Polícia Federal Bruno Calandrini convocou o diretor-geral da corporação, Márcio Nunes de Oliveira, e outros integrantes da cúpula da PF para prestar depoimento sobre uma suposta interferência no inquérito aberto para investigar o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro. Também já foram intimados o diretor de Combate ao Crime Organizado, Caio Pellim, e o superintendente da PF em São Paulo, Rodrigo Bartolamei.
O caso foi revelado inicialmente pela “GloboNews” e confirmado pelo GLOBO. Até agora, entre os membros da cúpula, apenas o diretor-geral Márcio Nunes já foi ouvido. A reportagem apurou que, além de Oliveira, Pellim e Bartolamei, outros policiais que atuaram no cumprimento da ordem de prisão de Milton Ribeiro foram intimados a depor.
A ação de Calandrini deflagrou nova crise dentro da PF. Um dos delegados convocados a prestar esclarecimento, Raphael Astini, protocolou um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) em que pede a suspensão da apuração às suspeitas de interferência. De acordo com as intimações, essa apuração corre no mesmo inquérito em que Milton Ribeiro é investigado.
Dessa forma, Astini alega que a relatora do caso, ministra Cármen Lúcia, ainda não definiu se a investigação ao ex-ministro deve tramitar na Corte suprema ou na primeira instância e, portanto, as diligências determinadas por Calandrini para apurar a suposta interferência não poderiam ocorrer. No habeas corpus, a defesa de Astini define o caso como “investigação paralela conduzida fora dos autos” e diz que Calandrini poderia estar atuando “como forma de vingança pessoal”.
Internamente, o chefe da Coordenadoria de Inquéritos nos Tribunais Superiores (Cinq), a área responsável por investigar autoridades, delegado Leopoldo Lacerda, também reagiu às investidas de Calandrini. Ele enviou um ofício à Corregedoria da PF em que aponta possíveis irregularidades na atuação do colega. Assim como Astini, argumenta que a investigação não pode andar sem o aval de Cármen Lúcia.
As suspeitas levantadas por Calandrini, delegado titular do inquérito em que Milton Ribeiro é investigado, começam no dia 22 de junho. Naquela data, a PF cumpriu mandados de buscas e prisão contra o ex-ministro. À época, Calandrini escreveu em uma mensagem enviada a colegas que houve interferência na investigação porque a PF não realizou a transferência de Ribeiro de Santos (SP), onde foi executada a prisão, para Brasília. O delegado suspeita que a cúpula da corporação atuou para impedir a transferência do ex-ministro.
Relatório de sindicância aberto para apurar o caso concluiu, porém, que não houve irregularidades no fato de Ribeiro não ter sido levado a Brasília. Responsável por executar a prisão em Santos, o delegado Raphael Astini disse em depoimento prestado na sindicância que não houve planejamento operacional para a transferência. Argumentou ainda que recebeu uma ordem de Calandrini para transportar Milton Ribeiro imediatamente ao sistema carcerário de São Paulo, mas que seu cumprimento seria ilegal, já que ele ainda não havia passado por audiência de custódia e porque o ex-ministro possui prerrogativas de advogado.
Após a operação, executada por ordem da 15ª Vara Federal de Brasília, o inquérito foi enviado em 24 de junho ao STF porque uma interceptação telefônica de Milton Ribeiro fazia referência ao presidente Jair Bolsonaro. Desde então, o processo está com a ministra Cármen Lúcia, mas ainda não houve despacho dela a respeito da continuidade da investigação, que pode continuar tramitando na Corte ou ser enviado para a primeira instância.