Esquerda vence disputa sobre 7/9 nas redes
Foto: Hermes de Paula/ Agência O GLOBO
A oposição ao presidente Jair Bolsonaro (PL) dominou o debate nas redes sociais durante o 7 de Setembro, com críticas ao uso eleitoral do feriado e ao discurso no qual ele se refere à primeira-dama Michelle Bolsonaro como uma “princesa” e que termina com o coro de “imbrochável”. Levantamento da Quaest mostrou uma disputa equilibrada na internet, com 53% de menções negativas ao presidente, chamado de “misógino” por suas falas, e 45% de mensagens positivas, relembrando a presença massiva nas ruas durante o feriado. Ao todo, foram 316,78 mil citações ao tema, entre meia-noite e 18h de quarta-feira.
O termo “imbrochável”, usado por Bolsonaro ao fim de seu discurso em Brasília, foi citado em cerca de 39,2 mil publicações, o que está relacionado às acusações de misoginia. Em fala machista, Bolsonaro conclamou seus apoiadores a compararem Michelle com a mulher do rival Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a socióloga Rosângela da Silva, conhecida como Janja.
O petista foi o autor da publicação de maior alcance no período analisado, que chegou a 6,4 milhões de pessoas: um vídeo publicado pela manhã, com legenda que celebra o Bicentenário da Independência e diz que a data deveria ser “um dia de amor e união pelo Brasil”. Além disso, dentre os dez tuítes com maior alcance, sete faziam críticas a Bolsonaro.
Para o diretor da Quaest, Felipe Nunes, ficou claro que o presidente transformou a celebração da Independência em evento de campanha. Ele explica que o presidente fez “sinais” aos grupos que considera mais importantes eleitoralmente:
— Bolsonaro cita o MST para acenar ao agro, fala do aborto e de ideologia de gênero para os evangélicos e os mais conservadores e tenta falar para as mulheres, e mais uma vez não consegue, quando compara Michele a Janja. Ao chamar a esposa de princesa, que seria “para casar”, ainda surge o “imbrochável”, que virou a principal pauta da oposição — afirma.
Ainda segundo ele, a oposição foi rápida em apresentar medidas judiciais para investigar se houve abusos no uso da máquina pública e soube reagir às declarações machistas de Bolsonaro — que enfrenta o desafio de diminuir a rejeição entre as mulheres, hoje próxima de 60%. De acordo com Nunes, “foi uma reação coordenada”.
Outro levantamento, da Escola de Comunicação, Mídia e Informação da Fundação Getulio Vargas (FGV ECMI), mostra que a denúncia sobre a compra de apartamentos em dinheiro vivo pela família Bolsonaro foi uma das munições usadas pela oposição nas redes, que investiu em uma narrativa de “boicote” ao presidenciável.
A pesquisa analisou 54,5 mil links sobre os presidenciáveis, compartilhados no Facebook entre 30 de agosto e 7 de setembro, e demonstra que houve aumento da associação entre Bolsonaro e intervencionismo durante os atos do 7 de Setembro.
— Nos dias anteriores, o tema voltou como forma de mobilizar a militância bolsonarista. Por mais que a mensagem não tenha sido tão direta nos discursos do presidente, o fato é que o ataque às instituições foi bastante presente nas redes — explica Amaro Grassi, coordenador do grupo de pesquisa Inovação para Políticas Públicas, da FGV.
A afirmação vai ao encontro do que diz uma pesquisa do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT.DD) — que envolveu pesquisadores de UFBA, FESPSP e UFPR — registrou cerca de 77.015 publicações no Twitter, Facebook e Youtube sobre o feriado.
Foram selecionadas, para fazer a análise de sentimentos 337 postagens que alcançaram em média 21 milhões de usuários, das quais 76% mencionam ataques à democracia e ao sistema eleitoral.
— O que as redes bolsonaristas fizeram, assim como Bolsonaro, foi desacreditar a imprensa e os institutos de pesquisa. Há uma narrativa pronta de fraude nas urnas, que é apresentada com naturalidade aos eleitores bolsonaristas, por causa do “data povo” — diz Maria Paula Almada, pesquisadora do instituto.
Segundo ela, para apoiadores, os atos demonstram o patriotismo de Bolsonaro. Ao mesmo tempo, a apropriação da data para fazer palanque político foi muito criticada pela oposição.