Líderes nas pesquisas são mais rejeitados
Foto: Clauber Cleber Caetano/PR
Entre os candidatos a governador que são líderes de rejeição em seus estados, a maior fatia é apoiada por Jair Bolsonaro (PL) ou associa sua imagem à do presidente (12 dos 27). Já oito candidatos apoiados por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ou que o defendem na disputa presidencial, também são os mais rejeitados em seus estados. Os líderes do ranking nacional nesse quesito, porém, passam ao largo da polarização entre os dois candidatos a chefe do Executivo com mais intenções de voto: os três candidatos com maior índice de rejeição do país não têm associação com nenhum dos dois candidatos, de acordo com levantamento feito pelo GLOBO a partir das mais recentes pesquisas do Ipec.
O top 3 dos mais rejeitados é formado por Gilvam Borges (MDB- AP), Sérgio Petecão (PSD- AC) e Wilson Witzel (PMB – RJ), com, respectivamente, rejeições de 50%, 46% e 42%. Seus casos se explicam sobretudo por especificidades da política local. Enquanto os dois primeiros ocupam cargos públicos há décadas e já concorreram a governador outras vezes — e, portanto, sofrem desgaste com parte da população — , Witzel deixou o governo por acusações de corrupção e sofreu um impeachment, em 2021. Ontem, sua candidatura à eleição deste ano foi indeferida em definitivo pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Os mais rejeitados em cada estado, por aliança política
Bolsonaristas
Fernando Collor (PTB-AL): 42%.
Capitão Wagner (União-CE): 35%.
Wilson Lima (União-AM): 34%.
João Roma (PL-BA): 31%.
Teresa Surita (MDB-RR)*: 29%.
Carlos Moises (REP-SC)*: 27%.
Zequinha Marinho (PL-PA): 27%
Carlos Manato (PL-ES): 26%.
Pastor Marcos Ritela (PTB-MT)*: 26%
Ibaneis Rocha (MDB-DF): 25%.
Anderson Ferreira (PL-PE): 23% (em empate com Danilo Cabral, do PSB)
Nilvan Ferreira, (PL-PB): 23%.
* Não têm o apoio formal de Bolsonaro, mas declaram voto nele
Lulistas
Roberto Requião (PT-PR): 34%.
Fernando Haddad (PT-SP): 33% .
Fátima Bezerra (PT-RN): 31%.
Rogério Carvalho (PT-SE): 25%.
Pimenta de Rondônia
(PSOL-RO ): 25%*.
Alexandre Kalil (PSD-MG) : 24% (em empate técnico com Romeu Zema, do Novo).
Danilo Cabral (PT-PE): 23% (em empate com Anderson Ferreira, do PL).
Rafael Fonteles (PT – PI): 21%.
* Não tem o apoio de Lula, mas declara voto nele
Fora da polarização
Gilvam Borges (MDB-AP): 50%.
Sérgio Petecão (PSD-AC): 46%.
Wilson Witzel (PMB-RJ): 42%*.
André Pucinelli (MDB-MS): 26%.
Romeu Zema (Novo): 22% (em empate técnico com Alexandre Kalil, do PSD).
Eduardo Leite (PSDB-RS) 24%.
Irajá (PSD-TO): 24%.
Simplício Araújo (SDD-MA): 23%.
Ronaldo Caiado (União-GO): 18%.
* A candidatura foi indeferida em definitivo ontem
Para especialistas, a forte presença de apoiadores de Bolsonaro entre os mais rejeitados é uma consequência natural do índice de rejeição do próprio presidente, de 51%, segundo o Ipec. Isso mesmo nos casos em que os candidatos tentam esconder a imagem de Bolsonaro nas suas campanhas, como acontece no Espírito Santo, na Bahia e no Ceará.
— É muito difícil, numa eleição polarizada como essa, o candidato não acabar sendo identificado com o Lula ou com Bolsonaro, no caso do presidente, mesmo se tentar escondê-lo, como acontece com alguns candidatos, sobretudo no Nordeste. Ainda assim, os adversários vão explorar essa associação recorrentemente, como uma fraqueza eleitoral — avalia Eduardo Grin, cientista política da FGV-SP.
Entre os 12 candidatos que são líderes de rejeição em seus estados e aliados de Bolsonaro, nove recebem apoio do presidente. Outros três — Pastor Marcos Ritela (PTB- MT), Teresa Surita (MDB-RR) e Carlos Moises (REP-SC) — não contam com a aliança formal, mas associam suas imagens à de Bolsonaro na campanha. Em oito desses estados, Lula é o atual líder das pesquisas eleitorais. Já em dois, DF e Espírito Santo, há empate técnico entre Lula e Bolsonaro pelo Ipec. Em Roraima e Santa Catarina, a preferência dos eleitores é por Bolsonaro. Nos dois estados, todos os candidatos competitivos ao governo se declaram apoiadores do presidente, incluindo os mais rejeitados.
Lula, por sua vez, apoia formalmente sete candidatos que são líderes de rejeição em seus estados. Todos concorrem em locais onde o petista é o líder das pesquisas eleitorais, com exceção de Roberto Requião (PT), no Paraná. Já o oitavo caso é o de Pimenta de Rondônia (PSOL), que tem rejeição de 25% e está na última colocação das pesquisas, sendo o único dos lulistas sem chance de vitória. Apesar de seu partido ser da aliança nacional do PT, em Rondônia a campanha de Lula apoia o candidato Daniel Pereira (SD).
— No caso do PT, entram outros fatores e casos específicos — diz Grin. — Há estados em que o Lula bomba, como Piauí ou Sergipe, mas situações de alianças e política local explicam a alta rejeição dos candidatos que ele apoia. Mas muitos deles não têm índices altíssimos de rejeição.
Especialistas frisam que a taxa de rejeição não significa, necessariamente, que o candidato não é competitivo, como demonstram as pesquisas Ipec mais recentes. Entre os líderes de rejeição nas 27 unidades da federação, dez são justamente os nomes que estão em primeiro na preferência dos eleitores, e outros dez estão em segundo.
— Na rejeição entram muitos fatores, como a competitividade do candidato. Quando perguntado, o entrevistado costuma rejeitar um nome entre os mais competitivos. Ele pode não gostar de outros, que, por contarem com menos intenções de voto, têm menos rejeição — diz o cientista político Antonio Lavareda, do Ipespe.
Ele destaca a possibilidade de esta ser a eleição com maior taxa de reeleição dos governadores:
— Esse fator impacta diretamente no índice de rejeição, porque candidatos mais conhecidos tendem a carregar rejeição.
Entre os candidatos que acumulam, ao mesmo tempo, maiores índices de rejeição e de intenção de votos, quatro são ligados a Bolsonaro — Wilson Lima (União-AM), Ibaneis Rocha (MDB-DF), Capitão Wagner (União-CE) e Carlos Moisés (REP-SC), os dois últimos em empate técnico na ponta. Outros dois são apoiados por Lula: Haddad (PT-SP) e Fátima Bezerra (PT-RN). Há ainda quatro que não apoiam nenhum dos dois: Romeu Zema (Novo-MG), Ronaldo Caiado (União-GO), Eduardo Leite (PSDB-RS) e Andre Pucinelli (MDB- MT).
— Fátima Bezerra acumula um desgaste natural comum a todo candidato à reeleição. Além disso, o Rio Grande do Norte tem um traço bastante machista. Já em São Paulo, há um antipetismo muito consolidado, especialmente no interior — diz Grin.
Ao todo, fogem do contexto da polarização presidencial oito candidatos que são os líderes de rejeição em seus estados. Estes não apoiam formalmente nem Lula nem Bolsonaro, ou têm alianças com Simone Tebet (MDB), Felipe D’Avila (Novo) ou Ciro Gomes (PDT).
— Existem muitas outras variáveis regionais que precisam ser consideradas nessas taxas de rejeição. O apoio de um candidato a presidente é uma variável de curto prazo, mas a rejeição tem um componente de longo prazo, em especial para políticos já conhecidos do eleitorado — diz Emerson Cervi, cientista político da UFPR.