Lula reforça suspeita sobre imóveis de Bolsonaro
Foto: Miguel Schincariol
As campanhas dos dois principais candidatos à Presidência inverteram os focos de seus discursos: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) começou a dar mais destaque à corrupção, enquanto o presidente Jair Bolsonaro (PL) passou a explorar temas relacionados à economia. A situação é oposta ao que vinha ocorrendo no início da campanha, quando o petista preferia dar destaque a indicadores econômicos de seu governo e o chefe do Executivo batia nos escândalos que marcaram as gestões petistas.
A corrupção é um ponto considerado sensível pela campanha do ex-presidente. Inicialmente, ele estava sendo aconselhado a abordá-lo somente para responder a ataques de Bolsonaro. Paralelamente, o petista bateria na tecla de que a sua gestão foi a responsável por criar instrumentos de combate à corrupção, como a Controladoria-geral da União (CGU), além de dar autonomia para a Polícia Federal investigar. A mesma narrativa pregaria que Bolsonaro instrumentalizou as instituições e “colocou a corrupção para debaixo do tapete”.
Recentemente, porém, a campanha de Lula decidiu levar à pauta de debates a acusação de que o atual titular do Palácio do Planalto e sua família compraram 107 imóveis desde os anos 90, parte deles em dinheiro vivo, de acordo com reportagem do Uol. A nova estratégia petista já foi posta em prática. Um vídeo que classifica as aquisições de “escândalo tamanho família” passou a ser veiculado na TV e espalhado pelas redes sociais. Durante um discurso na segunda-feira, em São Paulo, Lula mirou o assunto:
— Vocês viram que saiu denúncia no UOL de que o presidente honesto comprou 107 imóveis desde que começou na política e os últimos imóveis foram R$ 26 milhões à vista em dinheiro vivo. E é de se perguntar, você é deputado há quanto tempo? Paulo Teixeira (deputado federa pelo PT-SP), por que você não compra tantos imóveis assim? Tem algo podre no ar, e é importante que essas coisas sejam investigadas.
Aliado a isso, Lula voltará a afirmar que foi um preso político. Os processos contra ele foram anulados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), depois de a Corte concluir que o ex-juiz Sergio Moro, responsável pelas ações, atuou com parcialidade. O ex-presidente, agora, passou a se comparar a figuras históricas como o ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela, o líder do movimento dos direitos civis nos Estados Unidos, Martin Luther King e o político indiano Mahatma Gandhi.
— Eu fico vendo o Mandela. Foi preso e saiu para ser presidente da república. Gandhi foi preso e foi ele quem libertou um país do tamanho da Índia da Inglaterra e depois mataram ele. Luther King foi preso e depois fez a luta que fez. E eu estou convencido de que aqui no Brasil vai acontecer a mesma coisa — disse durante o mesmo discurso em São Paulo.
Nas redes sociais um vídeo produzido pela campanha de Lula e publicado no canal do petista no Youtube afirma que a “prisão do Lula foi uma grande armação política para tirá-lo da eleição de 2018. O cara liderava as pesquisas quando foi preso sem crime e sem provas, condenado por um juiz que depois virou ministro, olha só, de Bolsonaro.”
No outro lado da corrida ao Palácio do Planalto, Bolsonaro adotou o caminho inverso, ao deixar a corrupção em segundo plano e passar a explorar comparações sobre a situação econômica de seu governo e o do petista. Trata-se de uma guinada. Em maio, quando seu foco era outro, o presidente chegou a reconhecer que a população “vivia melhor” durante o governo Lula, mas disse que o quadro poderia ter sido ainda mais favorável se não tivesse havido corrupção.
Em linha com a estratégia inicial, Bolsonaro usou a primeira pergunta do debate da Band, no dia 28, para questionar Lula sobre acusações de malfeitos no governo dele. No mesmo debate, também se referiu ao petista como “ex-presidiário”
Esse discurso, entretanto, foi enfraquecido na última semana por uma sequência de acontecimentos. Além da denúncia a respeito da compra de imóveis, O GLOBO revelou que a Polícia Federal (PF) afirmou que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o serviço secreto brasileiro, atrapalhou o andamento de uma investigação envolvendo Jair Renan Bolsonaro, filho do presidente.
Além disso, a PF solicitou a abertura de um inquérito para investigar a compra de uma mansão por parte de uma ex-mulher de Bolsonaro, o que também foi antecipado pelo GLOBO.
Em paralelo a isso, a campanha de Bolsonaro decidiu investir no discurso econômico ao explorar indicadores positivos divulgados nos últimos dias. Na quarta-feira, o IBGE anunciou que o número de desempregados caiu abaixo de 10 milhões pela primeira vez desde 2016. No dia seguinte, foi divulgado que o Produto Interno Bruno (PIB) cresceu 1,2% no segundo trimestre deste ano, o sétimo maior crescimento do mundo.
Os números tem sido propalados pelo presidente, como em um discurso em Curitiba na quinta-feira:
— O Brasil na economia está dando exemplo para o mundo. Inflação para baixo. Produto Interno Bruto pra cima. Desemprego pra baixo. Este é o nosso Brasil que dá certo.
No mesmo dia, ele também citou diversos indicadores econômicos em uma publicação no Twitter. “Brasil crescendo acima das expectativas e superando países do G7 (OCDE). Inflação menor que EUA e Alemanha (IPCA). Desemprego caindo (Caged). Investimentos em alta (Banco Central). Violência em queda (estados/DF). São fatos! Contra fatos não há argumentos. Que comece o ‘mas’!”, escreveu o presidente.