Mercadante coordenará campanha de Lula
Foto: Divulgação/Ricardo Stuckert
De frente para uma plateia de empresários, o ex-ministro Aloizio Mercadante, coordenador do programa de governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), lançou mão de seu estilo de comunicação calcado em mensagens diretas para dizer que qualquer sugestão vinda do setor produtivo passaria por um “espancamento”.
— Você (empresário) vai ser convidado para sentar com a nossa equipe técnica, e nós vamos fazer um espancamento da sua proposta. Não é só uma apresentação e uma resposta rápida. Se a gente não for a fundo, a gente não constrói — avisou Mercadante, durante reunião na Confederação Nacional de Transportes (CNT), em Brasília, no final de julho.
O ex-ministro de Dilma Rousseff (passou por Casa Civil, Educação e Ciência e Tecnologia) volta a ocupar um espaço de relevância da cena política nacional seis anos e quatro meses depois de deixar um governo interrompido por um processo de impeachment. Conhecido pelo comportamento sisudo e inflexível em sua passagem por Brasília, Mercadante tem demonstrado maleabilidade e capacidade de construir consensos em debates internos do partido, de acordo com integrantes da campanha.
Assim ocorreu durante as conversas para definir como Lula se posicionaria diante da reforma trabalhista aprovada na gestão de Michel Temer, amplamente comemorada pelo empresariado, que o petista pretende conquistar, e duramente criticada pelos sindicatos, que ele não pode perder. O próprio presidenciável declarava inicialmente apoiar a “revogação” completa das medidas. Com o passar do tempo, Mercadante mediou as negociações internas na campanha até receber das mãos das próprias centrais sindicais uma proposta, prontamente incorporada ao plano, que apontava o caminho do meio, ou seja, substituía-se a ideia de revogação completa por parcial.
As sinalizações de flexibilização no comportamento de Mercadante, contudo, ainda são insuficientes para convencer antigos aliados de que ele aprendeu com os percalços do passado. No Congresso, durante a gestão Dilma, o então ministro da Casa Civil era tido como a mais fiel representação da dificuldade daquele governo em dialogar com parlamentares. Desta vez, Lula o escalou na posição que ele melhor sabe desempenhar: formular ideias, levantar dados e elaborar discursos. O afastamento da articulação política — Mercadante não esteve à frente da formação de chapa e das negociações regionais — o preservou de desgastes. Cabe ao economista por formação reabrir canais com entidades do setor privado como a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), a Confederação Nacional do Comércio (CNC) e a Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
Em eventos com membros desses segmentos, os papéis de candidato e coordenador são calculadamente definidos, e cada um trafega na via onde se sente mais à vontade. O ex-ministro expõe a parte técnica e deixa o espaço livre para Lula propalar o discurso político.
Até entre seus críticos, no entanto, o economista é reconhecido pela sua fidelidade e por não ter se afastado de Lula na época em que ele esteve preso em Curitiba e ter sido um dos nomes que fez a defesa pública do ex-presidente. Por conta disso e da experiência de ter acompanhado corridas presidenciais do PT desde 1989, o ex-presidente trabalhou para alçar Mercadante à presidência da Fundação Perseu Abramo, braço acadêmico e de pesquisa do partido. Ali, onde está há dois anos, o ex-ministro começou a preparar o time para compor o programa de governo de Lula.
Embora seja interlocutor do presidenciável com o setor privado, Mercadante sabe que não está entre os cotados para assumir a liderança da economia em uma eventual gestão petista. Questionado pelo GLOBO sobre qual papel poderia desempenhar em Brasília, Mercadante rechaça especulações e cita Fernando Henrique Cardoso, que antes de perder a eleição municipal de São Paulo posou para uma foto sentado na cadeira de prefeito às vésperas da votação:
— Não há hipótese de discutir composição do governo. É a sexta campanha presidencial de Lula . Acha que ele vai fazer papel do FHC e sentar na cadeira antes? Imagina.