Moro aumenta bajulação a Bolsonaro

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Foto: Valdemir Barreto/Agência Senado

Com alta exposição no cenário político nacional nos últimos anos, o ex-juiz Sérgio Moro (União Brasil) sofre com um forte concorrente na campanha eleitoral. Na disputa por uma vaga de senador pelo Paraná, Moro está 11 pontos distante de seu ex-aliado Alvaro Dias (Podemos), segundo o Ipec.

O ex-ministro da Justiça não tem partidos aliados em sua candidatura, já Dias tem o apoio formal até do PSB, legenda de esquerda e que apoia o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Formalmente, o PT está na coligação da candidatura de Rosane Ferreira (PV) ao Senado, que pontuou apenas 2% na pesquisa, mas apoiadores do partido no Paraná têm estimulado um “voto útil” no senador do Podemos para impedir que Moro, que foi o responsável pela condenação que levou Lula a ser preso, seja eleito.

Eleitores do PT no Estado têm afirmado que vão votar em candidatos do partido para todos os outros cargos, mas que, para o Senado, se sentem “obrigados” a votarem em Dias para evitar Moro. O senador tem um forte discurso contrário à legenda, mas é considerado um “mal menor”. O movimento acontece ao mesmo tempo que o ex-juiz tem acenado ao presidente Jair Bolsonaro (PL), com quem havia rompido ao sair do ministério da Justiça em 2020.

Dias afirmou que espera receber votos de “todos os lados”. “Aqui não há polarização. Tenho nove concorrentes e não distingo um dos outros. Como o voto é secreto, será difícil dizer de onde vieram. Pela minha história no Paraná, imagino que virão de todos os lados”, disse ao Estadão.

O parlamentar do Podemos foi um dos principais incentivadores da entrada de Moro na política. Inicialmente, o ex-juiz havia se filiado ao Podemos para poder disputar a Presidência da República. Após atritos e disputas por recursos financeiros, no entanto, ele acabou indo para o União Brasil e vai concorrer ao Senado pelo Paraná.

Em conversas reservadas, Moro minimiza o levantamento e diz que outras pesquisas o apontam na liderança. Ainda que o ex-magistrado tenha garantido exposição permanente por ter sido o juiz responsável pela Operação Lava Jato e, depois, assumido o Ministério da Justiça, Dias é um político bastante conhecido no Paraná. Ele é senador desde 1999 e, antes disso, governou o Estado, além de também ter exercido os cargos de deputado federal, estadual e vereador. Em 2014, Dias foi reeleito senador com 77% dos votos válidos.

Mesmo com o apoio velado do PT neste ano, o candidato à reeleição tem a carreira política marcada por críticas ao partido. Quando concorreu à Presidência, no último pleito, Dias tentou fazer com que o então candidato do PT ao Palácio do Planalto, Fernando Haddad, entregasse um bilhete para Lula, que na época estava preso. O episódio aconteceu no último debate da eleição de 2018, promovido pela TV Globo. Ao falar sobre o bilhete, o senador classificou o ex-presidente como o “verdadeiro candidato do PT”. Um dia depois do debate, Dias revelou nas redes sociais que o conteúdo do bilhete era: “Quem mandou matar Celso Daniel? Você sabe!” Celso Daniel foi um prefeito petista de Santo André (SP). A sua morte é usada de forma recorrente por adversários do PT, que alegam que integrantes da legenda teriam relação com o caso. A legenda sempre negou qualquer envolvimento.

O vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos) é outro que deseja ser senador e tem enfrentado percalços na corrida. O Ipec mostra que o vice-presidente está com 16% das intenções de voto no Rio Grande do Sul. Lá os favoritos são Ana Amélia (23%), do PSD, e o petista Olívio Dutra (25%).

“Se eles estivessem disputando uma cadeira na Câmara, estariam em uma posição muito mais confortável, porque eles têm um contingente de apoiadores muito significativo. Como eles optaram por uma disputa para o Senado, nesse caso a rejeição pesa bastante”, avaliou o cientista político Bruno Carazza, professor da Fundação Dom Cabral. Tanto Dias quanto Dutra têm experiência política e já governaram seus respectivos Estados.

“Tanto o Mourão quanto o Moro, apesar de serem dois personagens da política brasileira com grande exposição midiática, carregam consigo uma carga de rejeição muito grande”, observou Bruno Carazza. De acordo com o cientista político, a grande exposição não necessariamente garante uma avaliação positiva. “De um lado, o Mourão, pela inevitável associação ao governo Bolsonaro. Do outro, o Moro, por sua atuação na Lava Jato, que gera muita ojeriza dos eleitores”, avaliou o cientista político.

Ao falar sobre as dificuldades na eleição, Mourão adota o mesmo discurso de Moro e cita levantamento do Paraná Pesquisas, divulgado na última quinta-feira, 25, que o mostra empatado, dentro da margem de erro, com o candidato do PT. De acordo com a pesquisa, o vice-presidente tem 24,2% das intenções de voto e Dutra tem 25,2%. Ao Estadão, o general negou que sua campanha vá focar em criticar o petista.

“Não farei ataques pessoais, mas, sim, vou defender minhas ideias”, afirmou Mourão. Diante da forte concorrência do ex-governador do Rio Grande do Sul, no entanto, o vice-presidente já pediu nas redes sociais para os gaúchos não votarem em Dutra.

 

Assim como Alvaro Dias é bastante conhecido no Paraná, Olívio Dutra se tornou uma figura popular da política gaúcha. Além de já ter governado o Rio Grande do Sul, ele também foi prefeito de Porto Alegre e deputado federal. Fora do contexto estadual, também já presidiu o PT e foi ministro das Cidades.

De acordo com as mais recentes pesquisas Ipec, o ex-presidente Lula e Bolsonaro estão empatados na liderança, nos dois Estados, dentro da margem de erro de três pontos percentuais. No Rio Grande do Sul, Lula tem vantagem numérica: marcou 40%, contra 35% de Bolsonaro. Já no Paraná quem aparece numericamente na frente é o atual presidente, que tem 41% contra 35% do petista. Na eleição gaúcha para governador quem lidera é o tucano Eduardo Leite, que rejeita tanto Lula quanto Bolsonaro. Na disputa paranaense, o atual governador Ratinho Júnior (PSD), candidato de Bolsonaro, é o favorito.

Estadão