Para Lula, Lava Jato criou Bolsonaro
Foto: Fernando Bizerra/EFE
Em um jantar com banqueiros e empresários, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera as pesquisas de intenção de voto na disputa pelo Planalto, afirmou que o governo Jair Bolsonaro é fruto de “injustiças” da Operação Lava Jato. A menção à investigação se deu no momento em que o petista respondeu a um questionamento do banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, sobre manter políticas consideradas “boas” do atual presidente.
O banqueiro, assim como Lula, chegou a ser preso sob acusação de participação nos esquemas de corrupção na Petrobras, mas foi absolvido e não responde mais a processos. Lula e Esteves chegaram a responder juntos um processo por suposta obstrução à Justiça para impedir a delação de um ex-diretor, mas foram absolvidos pela Justiça Federal em Brasília.
No jantar que reuniu parcela importante do PIB, Lula pediu para que, antes de falar, os empresários levassem duas demandas. “O que vocês esperam de mim e do Geraldo?”, disse. Entre os oradores no empresariado, estavam Abílio Diniz, Ermírio de Moraes e Esteves.
O banqueiro do BTG pediu a Lula para que não fossem revertidas “políticas úteis” do governo Bolsonaro. Em resposta, segundo afirmaram fontes presentes no jantar ao Estadão, o ex-presidente disse que o “atual governo é fruto das injustiças da Lava Jato” e que Esteves foi um dos exemplos de injustiçados pela Operação.
Abílio Diniz, em sua fala, reforçou a necessidade de uma reforma tributária. Lula disse que chegou a fazer em seu governo uma reforma, com apoio de governadores e dirigentes de partidos. “Chegou no Congresso, não foi nem apresentada, mas vamos continuar a trabalhar nisso”, disse.
Em seu pronunciamento, além de destacar o papel dos empresários, ao lado do governo, na retomada da economia e no combate às desigualdades, o petista pediu para compararem ele e Geraldo com outros candidatos.
Em um momento de descontração, Lula disse que está se preparando para o debate na Rede Globo como um “toureiro que vai para uma praça para se opor a cinco touros”. Os empresários reagiram aos risos.
Estiveram presentes no jantar empresários que apoiaram e que ainda apoiam o presidente Bolsonaro. Um deles é Flávio Rocha, da Riachuelo. O Estadão apurou que mesmo empresários bolsonaristas, como Rocha, aplaudiram Lula após sua fala.
O jantar foi promovido pelo grupo Esfera Brasil, que é presidido pelo empresário João Camargo. A entidade tem promovido debates no apartamento de Camargo no Morumbi, em São Paulo, com representantes da campanha.
Mais 150 cadeiras foram reservadas para empresários e outros convidados no jantar desta quarta, 27. Camargo teve de içar móveis com uso de um guindaste para fora de seu apartamento para fazer caber todos os convidados. Segundo fontes no Esfera, o interesse e a presença de empresários no jantar com Lula foi muito maior do que o evento com Bolsonaro.
Acompanham Lula no jantar desta terça a presidente do PT, a deputada Gleisi Hoffmann, o tesoureiro da campanha, Márcio Macedo, o coordenador do Grupo Prerrogativas, Marco Aurélio Carvalho, e o ex-ministro Aloizio Mercadante.
A articulação do jantar desta quarta, 27, coube a Marco Aurélio e a Rui Falcão. Petistas classificam o jantar de hoje como “pedágio”, em razão da presença de empresários que são refratários a Lula e que, em parte, continuam a apoiar Bolsonaro.
O candidato a vice-presidente na chapa petista, Geraldo Alckmin (PSB), que também esteve na reunião, afirmou que o encontro foi marcado por discussões sobre a reforma tributária. “Ficou claro que a reforma tributária é importante, necessária, tem dois projetos bem maduros, duas PECs. Acho que tem boa possibilidade de avançarmos”, declarou Alckmin após a reunião.
De acordo com o ex-governador de São Paulo, destacado para a interlocução com o empresariado, Lula ouviu a todos, os presentes sentiram “confiança” no petista e mostraram “reação positiva”. “Lula fez explanação aos empresários e recuperou (as conquistas de) seu governo”, relatou Alckmin, segundo quem a reforma trabalhista ficou de fora da pauta.
“Há uma preocupação com a âncora fiscal. Houve grande responsabilidade fiscal durante os oito anos, houve superávit primário”, acrescentou o candidato a vice, em meio à incerteza sobre qual seria a âncora fiscal em eventual governo petista, que descartaria o teto de gastos.
Não houve qualquer aceno por parte de Lula sobre quem seria o nome escolhido para comandar o ministério da Fazenda, disse Alckmin. “É uma imprudência, não é possível porque não se pode discutir nome antes da eleição”, declarou. Ele mostrou confiança de que o Brasil pode receber investimentos em eventual novo governo petista em razão da grande liquidez do mundo.