PSB começa a perder hegemonia em PE
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Há 16 anos no comando de Pernambuco, o PSB enfrenta em 2022, na avaliação de aliados e adversários, sua eleição mais difícil pela manutenção da hegemonia em seu berço político desde a derrota de Miguel Arraes, fundador do partido, na disputa estadual de 1998. Em meio à elevada taxa de reprovação do governo de Paulo Câmara, sucessor do ex-governador Eduardo Campos, neto de Arraes, a legenda dobrou a aposta em sua bagagem no estado ao lançar para o Executivo o deputado federal Danilo Cabral (PSB), que foi secretário nas duas gestões. Cabral, que aparece com 8% nas pesquisas, está embolado com três ex-prefeitos, todos da oposição ao PSB — Raquel Lyra (PSDB), Anderson Ferreira (PL) e Miguel Coelho (União) — e distante da líder nas pesquisas, a ex-pessebista Marília Arraes (Solidariedade), com quem disputa o impulso eleitoral esperado pela associação ao ex-presidente Lula (PT).
Marília, neta que leva o sobrenome do ex-governador e líder histórico do PSB, tem 38% das intenções de voto, segundo o Ipec. Em 2016, dois anos após a morte de Campos, seu primo, em um acidente aéreo, ela protagonizou uma cisão no partido e na família Arraes ao migrar para o PT e fazer oposição a Paulo Câmara.
Alvo desde então da ala “eduardista” da família, cujo principal expoente é o prefeito de Recife, João Campos, filho de Eduardo, e sem espaço para disputar o governo nas hostes petistas, Marília migrou para o Solidariedade, partido da coligação nacional de Lula, e tem usado a imagem do ex-presidente na campanha mesmo sob protestos do PSB.
Na tentativa de garantir a transferência de votos lulistas para Cabral— o ex-presidente tem 62% da preferência no estado, segundo a última pesquisa Ipec —, o PSB costurou a gravação de vídeos de apoio de Lula ao candidato do partido ainda na pré-campanha, como parte do acordo para a aliança nacional com o PT.
Além da dificuldade de se colar a Lula diante do eleitorado, pesa contra Cabral a alta rejeição ao atual governo do PSB em Pernambuco: segundo o Ipec, 52% consideram a gestão Câmara ruim ou péssima, enquanto 15% a aprovam. Embora venha dosando as aparições de Câmara na campanha, Cabral não procura se dissociar da atual gestão — sua candidata a vice, Luciana Santos (PCdoB), é a atual vice-governadora —, mas procura trazer à tona a memória das gestões de Eduardo Campos. Ele afirma que as candidaturas adversárias seguem “projetos pessoais”, enquanto a sua representaria o legado de um “ciclo de 16 anos com duas fases distintas”.
— Temos uma aliança estratégica com Lula para que o estado repita os tempos de crescimento e parcerias da época de Eduardo. Paulo pegou o governo Bolsonaro, que nos trata como inimigos, e fortes crises econômicas. E mesmo assim conseguimos melhor nossa avaliação pelo Tesouro Nacional — defende Cabral.
Embora integrantes de partidos como PP e MDB, coligados formalmente a Cabral, venham flertando com um desembarque em favor de Marília, lideranças do PSB citam a eleição de 2018 como referência para manter o otimismo com a campanha atual. Na ocasião, Câmara se reelegeu por margem mínima no primeiro turno, mesmo com avaliação negativa (33%) superior à positiva (26%), segundo pesquisas do Ibope.
Duas décadas antes, em 1998, em outro momento de forte reprovação a uma gestão do PSB em Pernambuco, o prestígio de Arraes no estado não foi suficiente para evitar sua derrota em primeiro turno para o até então aliado Jarbas Vasconcelos, hoje senador pelo MDB. Arraes, fazendo à época uma campanha amparada pela forte expansão da luz elétrica na zona rural pernambucana — que inspiraria anos depois, no governo Lula, o programa “Luz para Todos” —, teve seu governo desgastado pelo chamado “escândalo dos precatórios”, que envolveu seu então secretário de Fazenda, Eduardo Campos. Acabou derrotado no primeiro turno. Na última eleição antes de seu falecimento em 2005, Arraes articulou a entrada do PSB no governo Lula, emplacando Campos como ministro da Ciência e Tecnologia.
Na campanha deste ano, os índices de educação substituíram a eletricidade como carro-chefe de gestão da campanha do PSB. Cabral, que foi secretário de Educação no governo Campos, busca atrair para si o salto de Pernambuco no Ideb — o estado é o terceiro colocado no Ensino Médio — e a expansão do ensino em tempo integral, que cobre hoje quase 60% das matrículas na rede estadual, o maior índice do país. Também há aposta de, em um eventual governo Lula, contar com auxílio federal para concluir obras de infraestrutura.
Todos os principais adversários, por sua vez, centram suas críticas em Cabral apontando problemas em indicadores como emprego, segurança e acesso à água na atual gestão. O estado, embora com taxa de desemprego inferior à de anos anteriores, tem hoje o segundo maior índice do Brasil, com 13,6%, atrás apenas da Bahia. Segundo a pesquisa Indicadores Sociais de Moradia do IBGE, em 2019, quase metade (47,9%) dos domicílios pernambucanos não tem abastecimento diário de água. Nos últimos três anos, interrompendo uma tendência de queda iniciada com o chamado “Pacto pela Vida”, o número de homicídios se estabilizou em mais de 3 mil por ano. Em 2022, o estado liderava até junho a taxa de mortes violentas no país.
— O Pacto pela Vida se perdeu em metas que só fazem sentido nas planilhas. Paulo Câmara deixa um estado muito pior do que recebeu, porque faz um governo cujo único foco é se manter no poder — critica Raquel Lyra, que foi secretária de Criança e Juventude na gestão Campos.
Enquanto Lyra, que tem 13% das intenções de voto, busca se afastar do debate nacional, Anderson Ferreira, que tem 12%, faz uma campanha diretamente ligada a Bolsonaro e ao eleitorado evangélico. Ferreira culpa problemas de relacionamento de gestões do PSB com o atual governo e também com a gestão Dilma Rousseff (PT), na qual houve uma queda de braço entre estado e União pela gestão do Porto de Suape, por atrasos em obras de estradas e na transposição do Rio São Francisco.
— Meus adversários acham que Lula é solução e fazem do estado quintal de briga familiar. Eu debato Pernambuco sem esconder meu candidato a presidente — afirma.
Miguel Coelho, filho do senador Fernando Bezerra (MDB), um dos principais operadores do “orçamento secreto” nos últimos dois anos, evita a associação a Bolsonaro, e também busca marcar diferenças para Lyra. Segundo ele, a fragmentação das candidaturas opositoras ao PSB se deu por estratégia.
— Desde 2006, a oposição se unifica e perde todas as eleições — resume Coelho, que elogia o apadrinhamento de emendas pelo pai: — Mesmo com a falta de competência e articulação política do governador, tem dinheiro federal na conta do estado.