PT lidera isolado a preferência por partidos
Foto: Marcos Alves / Agencia O Globo
Especialistas costumam estudar o impacto da identificação partidária na tomada de decisões dos eleitores. É, historicamente, um dos mais eficazes preditores de voto, ou seja, gostar ou não de um determinado partido amplia muito as chances de o eleitor votar — ou não — em seus candidatos.
No Brasil, as taxas de identificação partidária costumam ser baixas em relação a outros países da América Latina. Em 2020, o país tinha 21% de eleitores que se sentiam próximos de partidos políticos, enquanto o Uruguai e a República Dominicana lideravam com taxas de 59% e 52%, respectivamente, segundo dados do Instituto Latinobarómetro, sediado no Chile.
Desde sua criação, o impacto do PT nas decisões do eleitorado brasileiro tem sido foco desse debate, tendo seu ápice com a vitória de Lula em 2002. Em compensação, o antipetismo cresceu ao longo dos governos Lula e Dilma, tornando-se presente no debate político e influenciando processos como o impeachment da petista, em 2016, e a derrota de Fernando Haddad em 2018.
A pesquisa nacional A cara da democracia, feita em junho pelo Instituto da Democracia (INCT-IDDC), uma das mais recentes sobre o tema, mostra que atualmente apenas 20% dos eleitores brasileiros se identificam com algum partido político. Entre eles, o PT é a sigla com maior pontuação, sendo a preferida de 13% dos eleitores.
O segundo colocado é o PL, lembrado preferencialmente por 2% do eleitorado. No entanto, essa pontuação diz mais sobre a identificação com o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro. Em 2018, por exemplo, as taxas de identificação com o PSL subiram no período próximo às eleições, mas foram reduzidas assim que o presidente deixou o partido.
Atualmente, cientistas políticos têm estudado também o anti-partidarismo, isto é, os eleitores que não se identificam com nenhuma sigla, mas rejeitam alguma específica. Nesse quesito, pode-se dizer que também são impactados diretamente pelo partido rejeitado, mesmo que negativamente. No Brasil, 27% do eleitorado rejeita algum partido específico. O PT também lidera este “ranking”, com 17% de anti-identificação.
Os dados apontam, portanto, que o PT impacta as decisões de 30% dos eleitores, seja de forma positiva ou negativa. Essa pontuação representa 26 pontos percentuais a mais do que o segundo colocado, o PL, com 4%. Isso demonstra como o PT é o partido político mais influente do país, o que justifica sua posição central em todas as eleições presidenciais brasileiras desde a redemocratização.
*Otávio Z. Catelano é doutorando em Ciência Política pela Unicamp e pesquisador do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop-Unicamp). Petra Pinheiro e Silva é bacharela em Ciências Sociais pela Unicamp e pesquisadora do Cesop.
O texto acima faz parte do Observatório das Eleições, iniciativa do Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação (INCT IDDC), que reúne pesquisadores da Unicamp, UnB, Uerj, UFMG, entre outros. O grupo tem especialistas de diversas áreas, como cientistas políticos, juristas, sociólogos e comunicólogos.