Rejeição feminina a Bolsonaro atinge aliados
Foto: Maria Isabel Oliveira/Agência O Globo | Leo Martins/Agência O Globo | Jorge William/Agência O Globo
A maior rejeição do eleitorado feminino ao presidente Jair Bolsonaro (PL) se manifesta também nas disputas pelos governos estaduais. O percentual de homens dispostos a votar em algum candidato apoiado pelo chefe do Executivo supera numericamente o de mulheres que dizem ter essa intenção em 23 estados e no Distrito Federal.
O levantamento do Pulso considerou pesquisas realizadas pelo Ipec (ex-Ibope) em todas as unidades da federação desde meados de agosto. A margem de erro estimada para cada estudo é de três pontos percentuais, mas varia para os recortes por sexo, a depender da amostragem e do perfil do eleitorado em cada estado.
As dificuldades dos nomes bolsonaristas nas disputas estaduais são bem ilustradas pelos casos de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, os três maiores colégios eleitorais do país.
Em São Paulo, Bolsonaro faz campanha pela eleição de Tarcísio de Freitas (Republicanos), hoje vice-líder da corrida ao Palácio dos Bandeirantes, atrás do petista Fernando Haddad. Segundo pesquisa divulgada nesta semana pelo Ipec, o ex-ministro da Infraestrutura é escolhido por um quarto dos eleitores do sexo masculino (26%), enquanto entre as mulheres o percentual de intenções de voto cai para 16%.
No Rio, também há dez pontos percentuais separando homens e mulheres que declaram apoio a Cláudio Castro (PL). O atual governador e correligionário de Bolsonaro marca 42% entre eles e 32% entre elas.
O marqueteiro Paulo Vasconcelos, estrategista da campanha de Castro pela reeleição, reconhece a existência de elementos que “assustam” as mulheres no discurso bolsonarista. Mas diz não haver preocupação em relação ao voto feminino no candidato do PL no Rio:
— Castro nunca teve nenhuma questão que pudesse colocá-lo sob suspeita por parte das mulheres. O que o atrapalha é só o desconhecimento. Os homens são capazes de colocar dentro de casa um amigo que conheceu no mesmo dia. As mulheres não fazem isso. O Castro era desconhecido até o início da campanha e, mesmo tendo percentual maior de votos entre os homens, ele alcança bom desempenho entre as mulheres.
Em Minas Gerais, a maior antipatia das eleitoras por nomes associados a Bolsonaro se manifesta nas intenções de voto no candidato à reeleição, Romeu Zema (Novo). O atual governador apoiou o presidente na eleição de 2018, mas evitou formalizar aliança neste ano. Zema é escolhido por 42% das mineiras e por 54% dos homens do estado.
O candidato oficial do bolsonarismo em Minas é Carlos Viana (PL), nome desconhecido por 68% dos eleitores, segundo pesquisa da Quaest. No Ipec, o senador alcança só 2% das intenções de voto no primeiro turno.
A cientista política Hannah Maruci avalia que a rejeição feminina a Bolsonaro não se “transfere” automaticamente aos nomes apoiados pelo presidente:
— Há sim alguma influência, mas ela não explica tudo sozinha. Os candidatos apoiados por Bolsonaro têm características semelhantes às dele e que motivam repulsa das mulheres. O presidente integra uma rede baseada no machismo e que não coloca as mulheres como prioridade. Ele não está sozinho.
Diretora do projeto social A Tenda das Candidatas, que estimula a ampliação da presença feminina nos espaços políticos, Hannah critica a falta de candidatas nos palanques bolsonaristas. No feriado de 7 de Setembro, a única mulher a discursar em ato eleitoral do presidente em Brasília foi a primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
— A figura da Michelle é usada para tentar aproximar o eleitorado feminino, mas fica clara a forma como as mulheres são usadas. Elas não estão no lugar de protagonismo, de real inserção. Quem está em condições de decidir algo são os homens. A mulher que aparece é a esposa, fazendo o papel de esposa, de “princesa”. E princesa não governa — diz a cientista política.
O único estado em que a proporção de mulheres que votam em um candidato bolsonarista é numericamente maior que a dos homens é o Amazonas. O candidato à reeleição, Wilson Lima (União Brasil), tem apoio de 32% das eleitoras e de 28% dos eleitores.
Já o Mato Grosso e o Acre são os únicos lugares do país onde pelo menos metade das mulheres aptas a votar escolhe um candidato a governador apoiado por Bolsonaro.
Em Goiás está a candidatura bolsonarista de menor popularidade entre as mulheres. Ex-líder do governo na Câmara e aliado próximo de Bolsonaro, Major Vitor Hugo (PL) alcança só 1% das intenções de voto das goianas. Entre os eleitores do sexo masculino, ele sobe para 7%.