Apoio de Moro envergonha bolsonaristas
Foto: Matheus Veloso/Metrópoles
O senador eleito Sergio Moro (União Brasil-PR) mostrou que, como o narrador na música de Raul Seixas, prefere ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo. E mesmo que guinadas e mudanças de lado na política estejam longe de ser exceção, o novo abraço do ex-juiz da Lava Jato no presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) não está sendo bem digerido por todo o resto da militância conservadora.
Após ser ignorado por Bolsonaro e por seu entorno ao longo da campanha de primeiro turno, quando já tentava uma reaproximação, Moro conseguiu alçar novo patamar como conselheiro do presidente da República no último domingo (16/10), quando foi exibido como troféu pelo candidato na entrevista depois do evento (imagem em destaque).
O problema, principalmente para apoiadores de Bolsonaro que tiveram embates mais ruidosos com Moro, é que a mágoa entre os dois lados ainda é muito recente. Moro, que viveu uma lua de mel com o bolsonarismo ao ser anunciado “super” ministro da Justiça ainda na campanha de 2018, deixou o governo atirando, em abril de 2020, ao acusar o ex-chefe de tentar interferir nos órgãos de segurança para proteger familiares e aliados.
Os passos seguintes do ex-juiz, que chegou a garantir, em 2016, que “jamais” entraria para a política, foram para se construir como alternativa presidencial de terceira via. Com esse objetivo, Moro passou a maior parte deste ano batendo forte em Bolsonaro – e apanhando do presidente e de seus aliados.
Veja, por exemplo, esta postagem de Moro em janeiro:
Assim como Lula, Bolsonaro mente. Nada do que ele fala deve ser levado a sério. Mentiu que era a favor da Lava Jato, mentiu que era contra o Centrão, mentiu sobre vacinas, mentiu sobre a Anvisa e o Barra Torres e agora mente sobre mim. Não é digno da Presidência.
— Sergio Moro (@SF_Moro) January 10, 2022
No mês seguinte, ao comentar a viagem de Bolsonaro para se encontrar com o presidente russo Vladimir Putin às vésperas da invasão da Ucrânia, o ex-juiz chamou o presidente, em caixa alta, de “um trapalhão no Kremlin” e disse que ele tinha “a incrível capacidade de estar no lugar errado e na hora errada”.
Já Bolsonaro, que viu as acusações de Moro se transformarem em uma investigação no Supremo Tribunal Federal (STF), tripudiou do então inimigo político em março deste ano, quando o procedimento foi arquivado, e chamou seu ex-ministro de “traíra e mentiroso”.
Hoje, para o candidato Bolsonaro, porém, tudo mudou e Moro agora é muito bem-vindo. “Pode ter certeza que, caso eu seja reeleito, se Deus quiser, ele [Moro] vai me visitar muitas vezes na presidência, vai almoçar muitas vezes comigo”, disse o presidente na segunda-feira (17/10), já após a ajuda de Moro no debate.
Para bolsonaristas como a deputada federal reeleita Carla Zambelli (PL-SP), porém, há claro constrangimento em aceitar o ex-ministro de volta no barco. Zambelli, que teve Moro como padrinho de casamento quando estava tudo bem entre eles, preferiu, até agora, se calar sobre a reaproximação.
O mesmo acontece com influenciadores digitais importantes no bolsonarismo, como o youtuber Kim Paim. Apesar de ter comentado intensamente o debate da Band, com postagens em texto e um longo vídeo no Youtube, Paim praticamente ignorou a volta de Moro, a quem criticou pesadamente nos últimos meses.
O influenciador, porém, comentou informações do colunista Guilherme Amado, do Metrópoles, de que o plano de Moro é ser candidato à presidente em 2026 e contar com o eleitor bolsonarista. “Beleza, é importante, neste momento, todo mundo junto para vencer. Mas, pelo amor de Deus, não abracem o Moro. Quer usar ele para a eleição? Usem, mas joguem fora”, pediu Paim, em vídeo postado nesta segunda.
Moro só está ganhando afagos mais abertos por sua posição de aliados de Bolsonaro que estão mais distantes do entorno do presidente, como o vereador paulistano Fernando Holiday (Republicanos), que escreveu, nas redes sociais, que o reencontro entre os ex-inimigos “só demonstra a grandeza dos dois”, que, para ele, “foram capazes de deixar as diferenças de lado para defender o nosso país”.
O deputado federal reeleito Marcel Van Hattem (Novo) foi na mesma linha e, ao postar a imagem de Moro e Bolsonaro juntos, escreveu: “sobre ter grandeza e deixar divergências de lado (…) para fazer o que é melhor para o país”.
Crítico ferrenho e Moro após sua saída do governo, o deputado federal reeleito Eduardo Bolsonaro (PL-SP), foi mais contido ao comentar a reaproximação e não elogiou Moro, mas o pai: “Com Bolsonaro não há espaço para rancores ou vaidades. Todo apoio é bem-vindo”.
Por fim, o movimento de Sergio Moro, de se reaproximar de Bolsonaro, também causou espanto em fãs da operação Lava Jato que haviam vibrado com seu rompimento com o bolsonarismo. “A falta de caráter de Moro emporcalha sua biografia, associando-o a um sujeitinho imundo como Bolsonaro”, escreveu o jornalista Diogo Mainardi, em postagem no Twitter.
O comentarista Merval Pereira, da GloboNews, que já elogiou o ex-juiz inúmeras vezes, avaliou que “a presença do Moro como assessor do Bolsonaro num debate só mostra uma coisa: que o alvo dele sempre foi o Lula” e que “depois de ter falado tanto de Bolsonaro, voltar a apoiá-lo para derrotar Lula é um atestado de que, desde o início, estava com esse objetivo”.