Bolsonaro esteve perto de cair
Foto: Alexandre Cassiano/Agência O Globo
O presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados passaram por um susto na manhã desta sexta-feira durante comício em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Minutos após o candidato à reeleição subir ao palanque, uma sacola foi jogada ao palco pelo público e a estrutura do palanque sofre uma aparente instabilidade. Junto do governador reeleito Cláudio Castro (PL), do senador Romário (PL) e do ex-prefeito Washington Reis (MDB), Bolsonaro chega a se escorar em pessoas que o acompanhavam. Em seguida, um militar isola o espaço, e Reis dá pulos no palco para se certificar de que não havia problema algum. E então, o senador Flávio Bolsonaro (PL), filho do presidente, se abaixa e pega para verificar se a sacola estava vazia.
O incidente aconteceu no instante em que Bolsonaro abraçava Romário. Na hora, um dos mais assustados é o senador eleito pelo Espírito Santo Magno Malta (PL), que também tenta salvaguardar o presidente, enquanto Castro se dirige ao fundo do palco. Quando se percebeu que não havia maiores riscos, o próprio Bolsonaro tenta acalmar seus aliados, puxa Reis para a frente do palanque, dá três pulos e levanta os braços para o público, demonstrando que estava tudo bem.
Quando seu discurso começou, Bolsonaro disse que durante comício em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, que, caso reeleito, trabalhará para que a redução da maioridade penal seja aprovada em seu primeiro ano do novo governo. Ele também prometeu se engajar da mesma forma para que seja aprovado o excludente de ilicitude para policiais em todo o território nacional. Para isso, o presidente se valeu de uma fake news compartilhada em aplicativos de conversa e redes sociais, que atribui ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) uma falsa fala, na qual teria dito que “ladrões roubam para tomar uma cervejinha”. Ao se referir ao governo do adversário, Bolsonaro chegou a afirmar que “usaram o povo nordestino para assaltar o Brasil”.
— No meu governo não há corrupção. Alguns não gostam que sou grosso. Não vou negar que sou mesmo. Dizem que falo palavrão, mas não dizem que sou ladrão. O outro lado não respeita a família de cada um de nós. Eles criaram uma ideologia de gênero para levar o sexo para a sala de aula. O outro lado quer legalizar as drogas. Enquanto isso, o outro (Lula) diz que o ladrão rouba para comprar uma cervejinha. No ano que vem, vamos aprovar a redução da maioridade penal e o excludente de ilicitude para você, policial — disse o presidente.
Além de Romário, Clarissa Garotinho (União) e Daniel Silveira (PTB) também estavam presentes no palco. Nenhum deles discursou e, no palco, não se cumprimentaram ou tiveram qualquer interação.
O candidato à reeleição visita a Baixada três dias após seu adversário na corrida ao Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cumprir agenda em Belford Roxo. O local, a Praça do Pacificador, fica na única zona eleitoral dos 13 municípios da região (a 103ª ZE) em que o petista se aproximou da votação do adversário — diferença inferior a três pontos percentuais.
Centenas de pessoas se aglomeravam desde 9h na Praça do Pacificador. No palco montado no local, um painel estampa a imagem da coligação formada em torno na reeleição de Bolsonaro, com Reis, Castro ao lado do presidente. Nas caixas de som, o jingle “Capitão do Povo” é tocado em repetição. A música só foi pausada por um breve momento, quando as caixas de som tocaram uma versão instrumental de Sampa, de Caetano Veloso, opositor de Bolsonaro e frequentemente atacado por seus eleitores.
Castro pediu para que seus eleitores convertam votos para Bolsonaro.
— Não se deixe enganar, quem colocou R$ 600 na mão do pobre foi Bolsonaro. Não adianta vir aqui hoje se não completarmos a nossa jornada, isso é bíblico — disse Castro sobre o auxílio que foi aprovado pelo Congresso Nacional.
Palco do comício, a cidade de Duque de Caxias tem escolas recém-abertas com os nomes do pai e da mãe do candidato à reeleição. É reduto do ex-prefeito Reis (MDB) e seus irmãos, aliados de primeira hora do presidente no Rio. E, nos últimos anos, recebe visitas de Flávio Bolsonaro (PL), filho zero um do clã que tenta se manter no poder, para inaugurar viaduto ou conhecer fazenda para tratamento de dependentes químicos. Mas, no primeiro turno, registrou a segunda menor vantagem de Bolsonaro sobre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Baixada Fluminense (13,08 pontos percentuais). E com um detalhe: o local da agenda de hoje, a Praça do Pacificador, fica na única zona eleitoral dos 13 municípios da região (a 103ª ZE) em que o petista se aproximou da votação do adversário — diferença inferior a três pontos percentuais.
Nessa conjuntura que a campanha bolsonarista enxerga em Duque de Caxias, segundo maior colégio eleitoral fluminense, um dos terrenos férteis para tentar manter e ampliar a supremacia do atual presidente na Baixada na volta às urnas de 30 de outubro. É uma expectativa já manifestada pelo governador reeleito Cláudio Castro (PL), uma das presenças esperadas no ato desta sexta-feira. O contra-ataque, porém, vem da vizinha Belford Roxo, onde o prefeito Waguinho (União), com crescente influência na região, recebeu Lula em um ginásio lotado na última terça-feira e chegou a chamar o atual mandatário de “presidente ditador”.