Bolsonaro falhou ao tentar desestabilizar Lula
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Lula ganhou o debate da Globo, primeiro, porque foi melhor do que Bolsonaro, muito melhor. Segundo… Bem, porque podendo até empatar sem que isso ameaçasse suas chances de se eleger, não empatou. Terceiro, porque podendo até perder por pouco, não perdeu. Quarto, porque errou menos do que Bolsonaro.
A repetição é obrigatória: debate não decide eleição, a não ser que um dos debatedores derrape muito, muito feio. Isso não aconteceu com Lula e Bolsonaro. De curioso, apenas curioso, o ato falho de Bolsonaro na declaração final, livre de qualquer tipo de pressão, momento em que os candidatos sabem de cor o que dirão.
Ao mencionar Deus duas ou três vezes em um minuto e meio, Bolsonaro afirmou:
“Muito obrigado, meu Deus. Se essa for a sua vontade, estarei pronto para cumprir com mais um mandato de deputado federal”.
E rapidamente acrescentou:
“Presidente da República”.
Bolsonaro não compareceu ao debate para debater coisa alguma, mas para provocar Lula, tirá-lo do sério e vê-lo se pautar por suas perguntas. Bolsonaro foi poucas vezes tão ele mesmo quanto ontem. Comportou-se como um arruaceiro, não como um presidente da República que aspira permanecer no cargo.
Começou chamando o adversário de Luiz Inácio, como se isso o diminuísse, ou se chamando-o assim revelasse o seu desprezo. Gastou todo seu tempo do primeiro bloco do debate empenhado em carimbar Lula como corrupto, ladrão e chefe de organização criminosa. Seu claro propósito: aumentar a rejeição a Lula.
Todo o debate foi tenso, especialmente o primeiro bloco. Lula devolveu os ataques, não ficando na defensiva como talvez esperasse Bolsonaro. Chamou-o de comprador de imóveis com dinheiro vivo e citou um levantamento que descobriu que Bolsonaro já mentiu 6.498 vezes durante seu governo.
A certa altura, Bolsonaro chegou a ordenar a Lula: “Fique aqui”, apontando para o meio do palco onde estava. E Lula cometeu a primeira frase marcante do debate: “Não quero ficar perto de você”. Lula falou a maior parte do tempo olhando para as câmaras, ou seja: diretamente para quem estava em casa, assistindo.
Bolsonaro falou a maior parte do tempo consultando papéis preparados por seus assessores. Ele falou para sua bolha – os eleitores que jamais o abandonarão. Lula falou para fora da sua bolha, mirando os eleitores indecisos ou que ainda admitem trocar de lado. Um parecia presidente, o outro moleque de rua.
Lula estava bem treinado. Se Bolsonaro foi treinado, desobedeceu aos treinadores. Lula soube tirar proveito do escancarado desinteresse de Bolsonaro em discutir propostas para o país ao pedir mais de uma vez desculpas aos espectadores pelo baixo nível do debate. Bolsonaro fez de conta que isso não era com ele.
No debate anterior da Band, Lula defendeu-se em excesso, falou em excesso e esgotou seu tempo antes da hora, dando quase três minutos para que Bolsonaro falasse sozinho. Desta vez, não. Lula foi na base do bateu, levou, e administrou melhor o seu tempo. Sua linguagem corporal foi superior à do seu adversário.
Acabou sendo um debate mais sobre o passado do que sobre o futuro? Acabou. Mas se isso frustrou quem preferia olhar para frente e não para trás, ponha-se na conta de Bolsonaro. E, aqui, ele novamente deu-se mal: quem tem melhor passado é Lula, que governou o país duas vezes. Bolsonaro desgovernou-o.
Estão dadas, portanto, as condições para que Lula derrote Bolsonaro amanhã. A decisão caberá unicamente à Sua Excelência, o Eleitor.