Carcereiro de Lula pede voto para ele
Foto: Marlene Bergamo/Folhapress
Ex-chefe do Núcleo de Operações da Polícia Federal em Curitiba e responsável pela carceragem da superintendência durante os 580 dias em que o ex-presidente Lula ficou preso por conta de processos da Lava Jato, o agente federal Jorge Chastalo Filho decidiu tornar público o seu voto em 30 de outubro: ele vai de Lula.
“Diante da tragédia que estamos vivendo, eu declaro voto com todo vigor do meu peito”, disse à coluna o agente, que hoje atua como adido da Polícia Federal em Lima, no Peru.
Chastalo ficou famoso a partir de 2017, pela sua onipresença em fotos de presos pela operação Lava Jato no momento em que chegavam ou saíam da carceragem da PF em Curitiba. Ficou conhecido também como “Rodrigo Hilbert da PF”, por conta de sua semelhança física com o ator global.
Na condição de chefe da carceragem, cabia a Chastalo escalar em modelo de rodízio agentes para cuidar da vigilância na carceragem do ex-presidente, e também decidir o que era permitido e o que não era permitido na cela onde Lula cumpria parte de sua pena de prisão.
A função aproximou-o do ex-presidente, figura que agora ele diz admirar por conta de sua força política.
“A sensibilidade de sua preocupação com a pobreza, com a desigualdade social, com o bem-estar das pessoas, tudo isso se mostrou algo muito verdadeiro nele e foi algo que me marcou. Nunca o vi deprimido, na carceragem era um sujeito humilde e que sempre demonstrou gratidão e compaixão por quem estava ali com ele”, diz o ex-carcereiro.
Chastalo afirma não gostar de ser encaixado em tipos ideológicos (“a gente precisa de um governo que seja competente, não importa se de esquerda ou de direita”) e diz ter evitado se manifestar politicamente até aqui sobre eleições, por conta de sua condição de funcionário público diretamente envolvido em questões sensíveis, como a própria prisão do ex-presidente.
Mas ele afirma estar disposto a se “arriscar” e “arcar com as consequências disso” diante de sua indignação em relação à qualidade do atual governo, que considera “abominável”.
“Diante deste absurdo que a gente tá vivendo, de ataque à democracia, essa falta de civilidade, de desamor gigante, do ódio estimulado entre as pessoas, tenho absoluto desprezo pelo governo que está aí. Como disse um dia Ulisses Guimarães, ‘tenho nojo’. Então me sinto moralmente obrigado a me manifestar”, justifica.
Chastalo afirma já ter escrito o esboço de um livro de memórias sobre o período em que conviveu com o ex-presidente na carceragem da PF. Ainda não fechou contrato com editora, mas afirma já estar com decisão “encaminhada” em torno disso.
Durante o período em que Lula esteve preso, o agente conversava com ele sobre diversos temas – família, filhos, futebol, entre outros. E também sobre política e acusações de corrupção em governos petistas, corroboradas por acordos de colaboração premiadas e devolução aos cofres do Estado de valores pagos ilegalmente a dezenas de agentes públicos.
Segundo Chastalo, Lula nunca demonstrou sentir-se culpado pelo que foi revelado nas investigações da força-tarefa, sustentando que, na condição de presidente, deixava órgãos de controle “trabalharem livremente”, por considerá-los “aliados do governo”.
Lula considerava-se preso por conta de um “fato indeterminado”, segundo o agente. Dizia na cela que voltaria um dia a ser presidente do país.