Governadores conhecidos serão eleitos em 2022
Foto: Rubens Cavallari/Folhapress
Em rota contrária à eleição de 2018, que trouxe surpresas de última hora e resultou em uma ampla renovação nos governos estaduais, a disputa nos estados em 2022 deve ser marcada pelo triunfo de nomes conhecidos, com experiência política e administrativa.
Em ao menos 11 estados, governadores em reeleição caminham para encerrar a fatura já no primeiro turno, segundo dados de pesquisas Datafolha e Ipec. Em alguns casos, como no Pará e em Mato Grosso, a reeleição deve acontecer com larga margem de diferença frente aos adversários.
Dentre os demais 8 governadores que concorrem a um novo mandato, 7 estão na liderança em seus estados e devem estar no segundo turno.
A exceção é o governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), que está em terceiro lugar segundo pesquisa Datafolha, e enfrenta o desgaste dos 28 anos de governos tucanos no estado, além da impopularidade de seu antecessor, o ex-governador João Doria (PSDB).
Entre os candidatos que lideram ou estão em segundo nas pesquisas, apenas três concorrem a uma eleição pela primeira vez: Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo, Jerônimo Rodrigues (PT) na Bahia e Rafael Fonteles (PT) no Piauí.
Mas os três têm experiência administrativa, ocuparam cargos públicos de relevo e estão ancorados em grupos políticos fortes em seus respectivos estados.
Há quatro anos, quando o país vivia uma onda de antipolítica impulsionada pela operação Lava Jato, o cenário era o oposto.
Sete governadores que foram eleitos em 2018 não tinham experiência com administração pública e concorriam a uma eleição pela primeira vez. Dentre eles estavam nomes como Wilson Witzel (PSC-RJ), depois cassado, e Romeu Zema (Novo-MG), favorito para a reeleição já no primeiro turno.
Por outro lado, naquele ano, seis governadores em reeleição foram derrotados já no primeiro turno. Outros quatro perderam a disputa no segundo turno.
O sociólogo Antonio Lavareda, do Ipespe (Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas), explica que as eleições de 2018 e 2022 têm cenários distintos em relação à natureza da disputa.
“Em 2018, tivemos uma eleição tipicamente crítica, onde há um profundo desalinhamento de comportamentos eleitorais anteriores. Em 2022, a eleição se dá dentro de um ciclo de relativa normalidade, o que beneficia as forças políticas tradicionais.”
Neste cenário, a experiência administrativa é um dos requisitos que os eleitores demandam dos candidatos, o que faz com que as campanhas eleitorais sejam marcadas pela comparação de realizações dos candidatos.
Desta forma, além de governadores em reeleição, aparecem entre os destaques na eleição deste ano sete ex-prefeitos de capital, incluindo Fernando Haddad (PT-SP) e ACM Neto (União Brasil-BA).
Também se destacam ex-governadores como Jorge Viana (PT-AC) e Amazonino Mendes (Cidadania-AM), que mesmo sem liderar as pesquisas em seus estados se reposicionam após derrota de seus grupos políticos há quatro anos.
Em Alagoas, o ex-presidente da República e senador Fenando Collor de Melo (PTB) tenta uma vaga no segundo turno. Caso não tenha sucesso, ficará sem mandato pela primeira vez desde 2006.
Bruno Schaefer, doutor em ciência política e professor na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, destaca que as taxas de reeleição seguem uma tendência história no Brasil e destaca que a pandemia da Covid-19 fez com que aumentasse a demanda por candidatos mais experientes.
Também afirma que o acirramento da eleição presidencial entre Lula e Bolsonaro fez com que os eleitores prestassem menos atenção nas disputas para os governos estaduais: “Assim, o eleitor acaba votando em quem ele já conhece.”
Entre os partidos, a tendência é de crescimento da União Brasil, criada em 2021 a partir da fusão do PSL com o DEM e que ganhou protagonismo no campo da centro-direita.
O novo partido tem candidatos competitivos em 12 estados e tende a reeleger ainda no primeiro turno os governadores de Goiás, Ronaldo Caiado, e de Mato Grosso, Mauro Mendes.
Em quatro desses estados, os candidatos do partido se alinharam ao presidente Jair Bolsonaro (PL), como em Amazonas e Rondônia. Nos demais, optaram por uma posição de neutralidade ou de apoio à presidenciável do partido, a senadora Soraya Thronicke.
Dentre os neutros estão os quatro candidatos do partido em estados do Nordeste, região onde o presidente tem baixa popularidade.
Na Bahia, por exemplo, aliados do ex-prefeito de Salvador ACM Neto incentivam o voto casado com Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para tentar encerrar a hegemonia de 16 anos de governos petistas no estado. Mas ele tem pela frente a candidatura de Jerônimo Rodrigues (PT), em ascensão empurrado pela onda Lula.
Enquanto a União Brasil avança turbinada por um fundo eleitoral de quase R$ 1 bilhão, o PSDB é um dos partidos que mais deve perder espaço nos estados. Caso a derrota em São Paulo se consolide, as urnas devem projetar o gaúcho Eduardo Leite como líder mais relevante do partido.
Em 2018, o partido elegeu governadores em São Paulo, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul, mas apenas neste último o partido desponta como favorito. Pesquisas ainda apontam chance de os tucanos chegarem ao segundo turno em dois estados do Nordeste embalados por nomes novos.
Em Pernambuco, a ex-prefeita de Caruaru Raquel Lyra disputa com outros quatro candidatos quem deve concorrer contra a deputada federal Marília Arraes (Solidariedade) no segundo turno. Na Paraíba, Pedro Cunha Lula desponta para enfrentar o governador João Azevêdo (PSB).
O MDB, que já chegou a ter sete governos em 2014 e na última eleição caiu para três, caminha para reeleger seus atuais governadores. Mas ainda deve ir para o segundo turno em Mato Grosso do Sul.
No campo da esquerda, o PT concorre com chances nos quatro estados que governa – Bahia, Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte. E deve estar no segundo turno nos estados de São Paulo e Sergipe.
A favorita entre os candidatos do partido é a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), que caminha para vencer já neste domingo (2).
Principal parceiro da coalização lulista, o PSB pode reeleger o governador Renato Casagrande no Espírito Santo e deve ir para o segundo turno com Marcelo Freixo, no Rio de Janeiro, Carlos Brandão, no Maranhão, e João Azevêdo, na Paraíba.
Por outro lado, o partido pode sofrer um duro golpe em Pernambuco, estado em que o PSB tem um de seus núcleos políticos mais fortes. Mesmo com o apoio de Lula, o candidato Danilo Cabral tenta se descolar de outros três concorrentes para tentar uma vaga no segundo turno.
O PL, partido de Bolsonaro, tem candidatos com mais de 10% das intenções de voto em 10 estados, mas aposta suas fichas na reeleição do governador Cláudio Castro, no Rio. Filiado ao partido desde o ano passado, Castro apoia o presidente, mas não faz parte do núcleo duro do bolsonarismo.
A legenda ainda deve chegar ao segundo turno no Rio Grande do Sul, com o ex-ministro Onyx Lorenzoni, em Santa Catarina, com o senador Jorginho Mello, e em Rondônia, com o senador Marcos Rogério. Em Pernambuco, Anderson Ferreira também briga por uma vaga no segundo turno.