Padre bolsonarista intimida eleitores de Lula
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O médico e padre Pablo Henrique de Faria, de Iporá (GO), disse em um áudio para uma fiel que quem votar no candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) “vai pagar no juízo final”. Uma irmã da mulher que recebeu a gravação denunciou o caso para uma instância superior da Igreja Católica.
“Diante de Deus, eu garanto para você, que no juízo final vai pagar quem votar nessa quadrilha de ladrão, assassino de criança e sexualizador de criança, e comunista”, disse o religioso em um trecho do áudio.
Conhecido por seu posicionamento a favor do presidente Jair Bolsonaro (PL), padre Pablo costuma usar o momento da missa para defender posições de extrema-direita. Em julho do ano passado, por exemplo, ele declarou que “esquerdistas são anticristãos”, conforme mostrou o Metrópoles.
Esse comportamento do líder religioso teria se intensificado com a proximidade das eleições de 2022, para insatisfação de parte dos fiéis.
A polêmica mais recente envolvendo padre Pablo, da Paróquia São Paulo VI de Iporá, começou quando uma fiel católica da zona rural da cidade, que apoia Lula, discordou de um posicionamento do líder religioso. Ela reclamou nas redes sociais e ele passou a falar com ela em conversas privadas.
Durante essas conversas, padre Pablo acusou Lula de posicionamentos que seriam anticristãos e, por fim, disse que quem apoiá-lo pagaria no juízo final. Indignada, a fiel repassou a mensagem em um grupo formado por irmãs. Uma delas protestou dos áudios nas redes sociais.
“Ele está literalmente usando a igreja para ganhar votos. Isso para mim é voto de cabresto”, disse a professora Rosimar Sebastiana Barbosa Silva, de 50 anos, que criticou a situação nas redes na última segunda-feira (10/10).
A publicação de Rosimar repercutiu muito na cidade, e o padre até usou um momento da missa de terça-feira (11/10) para desaprovar a divulgação dos áudios. Ele recortou o trecho da gravação da missa em vídeo e publicou em seu Instagram com a legenda: “Nota de esclarecimento sobre ‘fake news’ no meu nome”.
Sem citar nomes, padre Pablo chamou Rosimar de “filha do pai da mentira” e salientou que ela não seria sua ovelha e não frequentaria a congregação. De fato, ela disse que não é mais católica, mas suas irmãs ainda são e frequentam a igreja.
Ex-freira e agente de saúde, Agda Luzia Barbosa, de 52 anos, juntou-se ao coro dos descontentes com o padre bolsonarista. Ela é irmã de Rosimar e da mulher que recebeu os áudios do religioso.
“Na minha interpretação, hoje, ele [padre] está usando a igreja como palanque para Bolsonaro e entrando até na questão do ódio”, lamentou Agda em conversa com o Metrópoles. Ela formalizou uma denúncia na Diocese de São Luís de Montes Belos (GO), instância acima da paróquia de Iporá.
A ex-freira argumentou que um documento recente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lamentou a “intensificação da exploração da fé e da religião como caminho para angariar votos no segundo turno”.
O Metrópoles entrou em contato com o padre Pablo Henrique de Faria e aguarda retorno. Em suas redes sociais, ele repercutiu mensagens de apoio e publicou trechos de falas de religiosos católicos defendendo o envolvimento do cristão na política.
A reportagem também entrou em contato com a Diocese de São Luís de Montes Belos e aguarda um posicionamento.