Partido de Roberto Jefferson é esmagado
Foto: Jorge William / Agência O Globo
Uma das legendas mais fiéis ao presidente Jair Bolsonaro (PL), o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) perdeu 11 das 12 cadeiras que ocupava no Congresso e não alcançou a cláusula de barreira nas eleições deste ano. Com isso, perderá o acesso ao tempo de TV e deixará de receber recursos públicos dos fundos eleitoral e partidário.
O fracasso nas urnas atingiu até algumas das principais apostas do partido para o pleito. Nomes ligados ao presidente de honra da sigla, o ex-deputado Roberto Jefferson, não conseguiram se eleger, apesar do alto investimento feito nas candidaturas deles. O ex-jogador e atual deputado estadual Bebeto (RJ) será o único filiado à legenda empossado no Congresso em 2023, como deputado federal.
Em 2018, o PTB faz 10 deputados federais e dois senadores. Na ocasião, já havia perdido musculatura, uma vez que, em 2014, conquistara 25 assentos na Câmara e dois no Senado. Fundado há 77 anos pelo ex-presidente Getúlio Vargas, o PTB vem minguando a cada ano. A sigla chegou a ter 116 deputados federais nos anos 1960.
No ano passado, o PTB recebeu R$ 114,5 milhões do fundo eleitoral, a 12ª maior fatia entre todos os partidos do país, o que representa 7% do total de R$ 4,9 bilhões do fundão.
Parte significativa do montante a que a legenda teve direito, R$ 8,4 milhões foi usada para financiar campanhas de três familiares e pessoas próximas do presidente de honra do PTB, Roberto Jefferson, como os filhos dele. Nenhum deles foi eleito neste domingo.
Herdeira de Jefferson, a ex-ministra Cristiane Brasil, que tentou uma vaga na Câmara por São Paulo, recebeu R$ 2,87 milhões do partido, mas conquistou apenas 6.730 votos e não voltou ao Congresso. O irmão dela, Roberto Jefferson Filho, disputou o mesmo cargo pelo Pará, ganhou R$ 2,5 milhões do fundo eleitoral, conseguiu o voto de apenas 1.833 eleitores.
Já o ex-presidente do partido, Marcus Vinicius Neskau, que é ex-genro de Roberto Jefferson, recebeu R$ 3,03 milhões do fundo eleitoral. Com 24.219 votos, contudo, conseguiu apenas eleger-se suplente.
Roberto Jefferson chegou a se lançar na corrida ao Palácio do Planalto, mas teve o registro de candidatura negado pela Justiça Eleitoral. Considerado ficha suja, ele está inelegível até 2023 por ter sido condenado no escândalo do mensalão.
Impedido de concorrer, ele lançou em seu lugar o personagem mais folclórico da eleição presidencial deste ano: o Padre Kelmon, que na prática atuou como linha auxiliar do presidente Jair Bolsonaro (PL) durante a campanha. Ele chegou a elogiar explicitamente o atual titular do Planalto durante os debates.
Além do PTB, caíram na cláusula de barreira Solidariedade, Novo, Pros, PSC, PRTB, PMN, Agir, DC, PMB, PCB, UP, PSTU e PCO. A regra tem por objetivo, ao fim, reduzir o número de legendas no país — hoje são 32.
Introduzida nas eleições de 2018, a cláusula exigia neste ano que cada sigla obtivesse ao menos 2% dos votos válidos da eleição para a Câmara em todo o país, com um mínimo de 1% em nove estados, ou que elegesse ao menos 11 deputados federais distribuídos por um terço das unidades da federação.
Além de vetar acesso ao fundo partidário e ao tempo de TV a partir de 2023 para os partidos que não alcançaram este patamar, a emenda constitucional da cláusula de barreira libera parlamentares de partidos que ficaram abaixo do piso estipulado a mudar de sigla, sem risco de perda de mandato por infidelidade partidária.
O PTB e outras siglas barradas pela regra estão negociando fusões, de modo a atingir o limite imposto pela legislação, como diz Cristiane Brasil, filha de Jefferson.
— Há conversas para compormos com outros partidos, mas nada certo ainda. Outra alternativa é atrair outros políticos de direita, que integram a base bolsonarista — disse a ex-deputada.