PT estranha decisão que cassou direitos de resposta
Foto: Renato Pizzutto/Band/Divulgação
O QG da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a Presidência da República foi surpreendido na noite desta quinta-feira (20) com o recuo da ministra do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Maria Claudia Bucchianeri, que decidiu suspender uma decisão dela própria que havia concedido à legenda 164 inserções de direito de resposta na TV.
Integrantes da campanha de Lula consideraram “surreal” a decisão, que vale até o caso ser apreciado pelo plenário do TSE. A expectativa é a de que o julgamento ocorra nos próximos dias.
Na prática, ao invés de carregar sozinha o ônus da decisão, Maria Claudia decidiu que o entendimento deve ser do colegiado do TSE. Após uma reunião de emergência na noite desta quinta-feira, o PT decidiu que vai recorrer para garantir os direitos de resposta.
A decisão de Maria Claudia, indicada ao TSE por Jair Bolsonaro, foi bombardeada por aliados do presidente da República, que viram na perda das inserções mais um reforço à narrativa de que a Corte Eleitoral é parcial e persegue o mandatário.
“Uma medida drástica dessas, mesmo que seja mantida, é melhor que seja dada de forma colegiada”, avalia um interlocutor da ministra.
Lula havia conseguido direito de resposta em ações movidas contra inserções de Bolsonaro que associaram o adversário à criminalidade, sob a alegação de que “onde o Lula teve mais votos foi dentro de presídio”.
No direito de resposta, é lido um texto por um apresentador, ou sobre uma tela azul.
“A Justiça Eleitoral reconheceu que são mentirosas as informações divulgadas por Bolsonaro sobre a votação de Lula em estabelecimentos prisionais. Desesperado, insiste em espalhar fake news, achando que pode enganar o povo nas eleições. Bolsonaro e os filhos já foram condenados a retirar das suas redes sociais dezenas de acusações falsas que propagam contra Lula. Não acredite nas mentiras de Bolsonaro. A justiça está de olho”, dizia o texto do direito de resposta que o PT queria emplacar na TV.
A ministra Maria Claudia, no entanto, havia determinado que esse texto fosse ajustado e sofresse alterações, por entender que “apenas as três primeiras linhas da resposta apresentada na inicial prestam-se a esclarecer os fatos tidos como descontextualizados e inverídicos”. Uma versão mais suavizada seria levada ao ar.
Cada inserção é de 30 segundos – ou seja, pela primeira decisão da ministra, Lula teria direito a 82 minutos de propaganda que seriam de Bolsonaro na reta final do segundo turno.
Uma outra decisão, do ministro Paulo de Tarso Sanseverino, concedeu outros 20 direitos de resposta a Lula – por ora, essa decisão segue de pé.
Integrantes do núcleo duro da campanha petista disseram à equipe da coluna que o ex-presidente pretende nesta reta final da campanha não apenas rebater as acusações de Bolsonaro, mas também aproveitar as inserções “regulares” para pautar os temas que interessam à campanha e partir para o ataque.
“Lula vai para cima”, avisa um interlocutor do ex-presidente.
No tempo regular de Lula, ele vai aproveitar para tratar de inflação, miséria, pedofilia, junto com a artilharia contra a desastrosa resposta do governo Bolsonaro no enfrentamento da pandemia.
Conforme informou a coluna, um dos golpes do PT mais sentidos pela campanha de Bolsonaro foi pelo vídeo que mostrou uma colagem de falas do presidente sobre a Covid-19 (“gripezinha”, “não sou coveiro”), tendo ao fundo o barulho de um ventilador mecânico conectado a um paciente em um hospital.
As decisões que haviam concedido os direitos de resposta foram comemoradas pela campanha lulista, em um momento em que aumentou o grau de preocupação dentro do PT com a disputa presidencial após o último Datafolha mostrar o encurtamento da vantagem do petista sobre Bolsonaro.
“Nós temos que entender que o Poder Judiciário existe para isso. Quando você se sente ofendido ou atacado, prejudicado, ao invés de fazer o que eles fazem, a gente vai para a Justiça”, disse Lula em entrevista a jornalistas nesta quinta-feira.