Se Lula vencer, partido de Bolsonaro vira tchutchuca
Foto: Alan Santos/PR
Apesar de ter conseguido eleger 187 deputados, a atuação do Centrão dependerá de quem estiver no Palácio do Planalto a partir de 2023. Como a marca do bloco é o pragmatismo, já há quem avalie que caso o petista Luiz Inácio Lula da Silva seja eleito, não haverá uma feroz oposição — apesar da presença de vários “bolsonaristas-raiz” nos partidos que, hoje, compõem a base do governo.
Das três legendas que compõem o Centrão, o PL de Jair Bolsonaro foi o que emergiu das urnas mais fortalecido — contará, na próxima legislatura, com 99 deputados. Somada às cadeiras conquistas pelas outras duas agremiações (47 do PP e 41 do Republicanos), o Centrão soma 187 deputados federais. Caso o presidente da República seja reeleito, o bloco deve se engordado por parte considerável da bancada do União Brasil — que obteve 59 cadeiras na Câmara e trabalha pela incorporação do PP.
Apesar de ser a nova locomotiva do Centrão, o PL tem dois parlamentares de perfis distintos nas suas fileiras: os “bolsonaristas-raiz”, eleitos devido à proximidade com o presidente, e os negociadores pragmáticos. Compõem a ala radical da legenda, entre outros, Carla Zambelli (SP), Eduardo Bolsonaro (SP), Eduardo Pazuello (RJ), Hélio Bolsonaro (RJ), Carlos Jordy (RJ), Ricardo Salles (SP), Nikolas Ferreira (MG), Bia Kicis (DF) e Mário Frias (SP). Com eles, dificilmente haverá conversa em caso de vitória de Lula.
Mas nos estados onde Bolsonaro tem menor penetração — sobretudo os do Nordeste —, há quadros do PL que colocam os interesses políticos pessoais e paroquiais acima dos do próprio partido. Esse grupo do Centrão não se importaria em negociar pontualmente com Lula, pelo menos no começo do governo. O mesmo acontece em relação ao PP e ao Republicanos.
Já a federação PT, PCdoB e PV — que atua junto no Congresso — conta com 80 cadeiras, 19 a menos que o PL. Caso saia a fusão entre o União Brasil e o PP, movimento já indicado pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP), o Centrão passaria a ter 246 cadeiras. Com esse peso, o bloco pode “tratorar” qualquer votação na Câmara, o que fará com que o Palácio do Planalto tenha de fazer uma imensa ginástica para preservar as pautas pelas quais tem interesse.
A coligação em torno de Lula soma 121 parlamentares eleitos pelos partidos que a integram. O presidenciável tem repetido na campanha que quer dialogar com todos. O PSD, por exemplo, pode desembarcar da proximidade que criou com o bolsonarismo em um eventual governo do PT — seu presidente, Gilberto Kassab, foi ministro da ex-presidente Dilma Rousseff e Lula tentou fechar seu apoio formal antes do primeiro turno da corrida pelo Planalto. A expectativa é de que o petista tente trazer o partido para a frente que está formando.
O PT também tenta ampliar alianças dentro do MDB e do próprio União Brasil, além de abrir diálogo com o PSDB e o Cidadania. A ideia de Lula é fechar alianças para reverter a hostilidade contra seu nome. A aposta é que a governabilidade não ficaria comprometida se houver embarques nesta frente ampla.