Tarcísio não consegue atrair votos de evangélicos
Foto: Caio Guatelli/AFP
Uma das prioridades na agenda de Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao longo da campanha para o governo de São Paulo foi a agenda de visitas a templos evangélicos. O ex-ministro da Infraestrutura do governo de Jair Bolsonaro (PL) acompanhou o presidente, por exemplo, em culto realizado no último domingo em unidade da Igreja Mundial do Poder de Deus na região central da capital.
Os evangélicos correspondem a cerca de 30% do eleitorado paulista, conforme as estimativas consideradas pelo Ipec para fazer suas pesquisas. A estratégia de Tarcísio de dedicar esforços para conquistar essa parcela da população visa a reproduzir em São Paulo o mesmo que Bolsonaro faz em nível nacional. Segundo a pesquisa mais recente do Ipec, o atual presidente tem 60% das intenções de voto nesse grupo, contra 34% de seu adversário no segundo turno, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em São Paulo, Tarcísio tem praticamente o mesmo placar a seu favor na disputa contra Fernando Haddad (PT): 61% a 31%.
A diferença entre a popularidade de Bolsonaro e Tarcísio no eleitorado evangélico aparece na análise da pesquisa espontânea, aquela na qual os entrevistados falam em quem pretendem votar sem antes serem lembrados dos nomes dos candidatos. Bolsonaro é citado nacionalmente por 59% dos votantes desse segmento (um ponto abaixo do que registra na pesquisa estimulada). Já Tarcísio alcança 45% (16 pontos a menos que na estimulada).
Ex-ministro da Educação nos governos de Lula e Dilma Rousseff (PT), Haddad tem 24% das intenções de voto da comunidade evangélica na pesquisa espontânea, percentual que era de 16% no levantamento anterior do Ipec, divulgado duas semanas atrás. No período, Tarcísio oscilou só um ponto para cima.
Os números mostram que a vantagem de 30 pontos percentuais que o candidato do Republicanos alcança na pesquisa estimulada é menor, de 21 pontos, quando os eleitores evangélicos dizem, de cabeça, em quem pretendem votar para governador de São Paulo.
Os resultados das pesquisas espontâneas são importantes para revelar o grau de consolidação das escolhas dos eleitores. Uma pessoa que consegue dizer, sem uma lista de nomes, em quem votará demonstra estar mais propensa a efetivamente seguir essa opção do que outra que precisa ver antes as opções disponíveis — o que não acontece na urna eletrônica, vale lembrar.
A discrepância entre os resultados das pesquisas espontânea e estimulada também pode indicar que o candidato do Republicanos fecha a última semana de campanha ainda sem ser amplamente conhecido dentro das igrejas de denominações evangélicas.
No eleitorado católico, que corresponde à maioria da população, o placar da pesquisa estimulada é de 45% para Haddad e 44% para Tarcísio (trata-se de um empate técnico, pela margem de erro de dois pontos para mais ou menos). Na espontânea, ambos os candidatos têm 34% das intenções de voto.
Sabedor da desvantagem que tem entre os eleitores evangélicos, Haddad fez propagandas nas quais associava Tarcísio a práticas de intolerância religiosa, como em um vídeo em que é exibido um ex-integrante da Igreja Universal do Reino de Deus chutando uma imagem de Nossa Senhora Aparecida. A Justiça Eleitoral concedeu direito de resposta ao candidato do Republicanos por causa desse comercial. Na réplica, o bolsonarista gravou um vídeo no qual diz “respeitar todas as religiões” e que “só Deus” pode julgá-lo.
O Ipec entrevistou presencialmente 2.000 eleitores de 16 anos ou mais em São Paulo. O levantamento tem margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou menos, para um nível de confiança de 95%, e está registrado na Justiça Eleitoral sob o número SP-06977/2022.