Bolsonaristas voltam a atacar a democracia amanhã
Foto: Vinicius Victor Correia/CB
Movimentos bolsonaristas que defendem um golpe militar organizam uma manifestação para amanhã, no feriado da Proclamação da República. Corre no acampamento em frente ao Quartel General do Exército, no Setor Militar Urbano, que caravanas de diversos estados estão mobilizadas para vir à capital federal.
“Os patriotas têm que vir todos aqui para Brasília, não adianta ficar nos estados”, discursou um dos líderes do acampamento, em cima de um trio elétrico, na noite de ontem. Os manifestantes, com pautas antidemocráticas, reuniram-se no meio da via que separa o QG da Praça dos Cristais para o encerramento dos protestos. O espaço estava demarcado por cones e monitorado pela polícia do Exército.
Em suas falas, os líderes criticaram o STF, pediram a saída do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e clamaram pelo auxílio das Forças Armadas. “Dizem que nós temos que aceitar o resultado de uma eleição fraudulenta”, soaram os alto falantes do trio, que podiam ser ouvidos a quilômetros de distância. Após os discursos, os manifestantes ouviram uma música gospel e apelos para manter o local organizado, respeitar as áreas demarcadas pelos militares e não agir de forma violenta. “Ninguém aqui está incitando a violência nem vai fazer isso”, disse um dos líderes.
A manifestação de amanhã está sendo organizada, principalmente, nas redes sociais bolsonaristas. Entre os presentes no acampamento — instalado em frente ao QG desde o segundo turno das eleições —, a expectativa é que seja a maior mobilização já feita até agora. “Meu cunhado está mandando 40 caminhões do Sul para cá”, contou um dos manifestantes. Segundo ele, seu cunhado é frotista, ou seja, dono de todos os veículos. Mais de 100 carretas estão estacionadas na Praça dos Cristais. Além de Brasília, atos antidemocráticos estão acontecendo em todo o país.
O acampamento em frente ao QG está bastante organizado, com áreas demarcadas para as barracas, banheiros químicos esvaziados diariamente, alimentação gratuita — com três refeições — e trio elétrico. Mesmo à noite, subia fumaça das barracas destinadas à alimentação, onde a janta era preparada. Segundo alguns manifestantes, empresários fornecem a estrutura necessária para a permanência dos bolsonaristas. A presença dos frotistas é a mais marcante, com caminhões padronizados, pertencentes ao mesmo dono.
O Ministério Público Federal (MPF), um dos alvos dos discursos antidemocráticos, monitora as manifestações em pelo menos 17 estados e no Distrito Federal, para identificar quem são os financiadores do movimento. É claro a quem visita o acampamento em Brasília a padronização de bandeiras, faixas e dos demais materiais presentes.
Há pelo menos outras quatro frentes de investigação pelo MPF: violações de direitos ao impedir o direito de ir e vir dos cidadãos; uso de mulheres, crianças e idosos como escudo humano para evitar ações policiais; discursos de ódio e gestos nazistas; e listas de boicotes por motivação política. Em comunicado, o órgão considerou que as autoridades locais têm sido “lenientes” com os manifestantes. Procuradores confirmaram a falta de empenho em alguns estados para dispersar os atos, mesmo após ordem do STF.
O procurador federal dos Direitos do Cidadão Carlos Alberto Vilhena, um dos nomes à frente da articulação do MPF, disse que as manifestações, “por se dizerem patriotas, tendem a ter maior leniência e tolerância das autoridades públicas federais e estaduais”. “No entanto, os ânimos estão mais exaltados por conta da divisão ideológica e não podemos admitir manifestações que violem outros direitos, como a nossa ordem democrática” defende.
Mesmo com os ditos apelos por manter a manifestação pacífica, há casos por todo o país de brigas, hostilidade e ferimentos causados pelos bolsonaristas. Os protestos investigados ocorreram em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Acre, Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Paraíba, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Roraima, Rio Grande do Norte, São Paulo, Santa Catarina e Tocantins.
Ontem, o advogado Carlos Alexandre Klomfahs entrou na Justiça com um pedido de habeas corpus coletivo para todos os manifestantes que protestam contra o resultado das urnas em frente aos quartéis. Segundo o advogado, o salvo conduto é necessário para assegurar a liberdade de manifestação, reunião e locomoção.
Klomfahs diz ainda que a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, em determinar a liberação das vias é inconstitucional e que o “único meio jurídico e republicano de obrigar” Moraes a “concretizar o direito de manifestação” é por meio de uma decisão colegiada. O plenário do STF já confirmou, em julgamento unânime no plenário virtual, a ordem do ministro para liberar vias públicas bloqueadas por bolsonaristas.