Bolsonaro está apagando vídeos comprometedores
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Nos dois primeiros dias após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições presidenciais, 59 canais bolsonaristas retiraram do ar, por conta própria, mais de 4,2 mil vídeos no YouTube. É o que aponta um monitoramento feito pela empresa de análise de dados Novelo Data a partir de informações da própria plataforma.
Entre os canais, está a conta oficial do presidente Jair Bolsonaro (PL), que retirou do ar um vídeo intitulado “Lula humilha o Trabalhador Brasileiro em nome de contribuição sindical obrigatória”. O GLOBO conseguiu localizar a publicação em questão em outros canais. O conteúdo trazia uma fala editada de Lula sobre o regime de Microempreendedor Individual (MEI) durante o debate da TV Globo. Na reta final da campanha, postagens de bolsonaristas associando Lula ao fim do MEI foram alvos de decisões de remoção determinadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O perfil que mais removeu conteúdo foi o do deputado federal eleito Gustavo Gayer (PL-GO), que tem pouco mais de 1 milhão de inscritos. Do total de 1,6 mil vídeos agora fora do ar, 159 citavam já no título o TSE, o Supremo Tribunal Federal (STF) ou o ministro Alexandre de Moraes. Parte das postagens repercutia alegações sem provas e depois descartadas envolvendo inserções de rádio da campanha de Jair Bolsonaro (PL) e trazia ataques ao TSE citando “censura” por decisões da Corte Eleitoral para remover desinformação. Na lista, há ainda falsas alegações de fraude no pleito de 2018 e outros conteúdos que lançam dúvidas sobre as urnas eletrônicas.
Em 308 vídeos, os ataques são direcionados a Lula e ao PT. No domingo do pleito, o canal de Gayer foi alvo de uma remoção determinada pelo TSE, após o parlamentar publicar uma foto de um panfleto apócrifo com falsas propostas de Lula para o país, como “liberação ordenada das drogas” e “descriminalização de pequenos delitos”, segundo informações da agência de checagem Lupa.
Ao todo, Gayer tinha 2.286 vídeos no ar há dois dias. Com as remoções, o número caiu para 680. Em abril, às vésperas do julgamento do deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), Gayer também fez “uma limpeza” e escondeu 59 vídeos com ataques direcionados ao STF e ao TSE.
O youtuber teve o canal desmonetizado durante o segundo turno das eleições por decisão da Corte Eleitoral. Na pandemia, a conta do agora deputado eleito apareceu como a segunda que mais lucrou no YouTube com desinformação sobre a Covid-19 em um relatório do Google enviado à CPI da Covid, no Senado.
Outro canal que escondeu vídeos desde as eleições é o da produtora Brasil Paralelo, também alvo de recente decisão do TSE de desmonetização. Ao todo, saíram do ar 82 vídeos. Entre eles, está um pronunciamento da empresa em resposta à determinação do tribunal antes do segundo turno que, além da desmonetização, proibiu a exibição de um documentário feito pelo grupo sobre o episódio da facada no presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2018 e o impulsionamento de conteúdos nas redes sociais.