Bolsonaro terá que afagar evangélicos para sobreviver

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Foto: Reprodução

Desde a derrota na eleição e falando pouco desde o segundo turno, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem visto aliados já em tratativas de participação no futuro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Já os que não devem mudar de lado afirmam que o capital político extraído das urnas cacifa Bolsonaro a liderar a oposição.

A ideia é que ele continue no PL e, a partir de janeiro, assuma o cargo de presidente de honra da sigla. O atual partido de Bolsonaro deve se posicionar esta semana sobre o futuro governo Lula.

Nos próximos dias, o presidente da Câmara, o deputado Arthur Lira (PP-AL), líder do centrão e aliado de primeira do Bolsonaro, se encontrará com petista em Brasília. O eventual desembarque do bloco fisiológico liderado por PP, PL e Republicanos não significa, porém, o esvaziamento de um político que obteve 58 milhões de votos contra Lula.

Aliados de Bolsonaro dizem que o atual presidente tem condições de ser um nome forte para a corrida presidencial de 2026, mas ressaltam que será preciso manter a defesa das pautas de costumes que agradam aos conservadores e que renderam uma votação tão robusta.

Coerência para permanecer relevante. O senador Esperidião Amin (PP-SC) foi companheiro de Bolsonaro no PP e afirma que é natural o ex-companheiro de legenda ser o comandante da oposição. Ele acrescenta, entretanto, que a liderança não será necessariamente partidária — o presidente está na nona sigla na carreira política.

Para o senador, a relevância de Bolsonaro e do grupo de parlamentares fiéis que ele ajudou a eleger será diretamente dependente da manutenção do discurso que rendeu sua votação expressiva. Medidas do governo Lula que afrontarem as bandeiras defendidas na campanha de reeleição deverão ser criticadas para manter o capital político.

“Coerência é a habilidade mais importante”, disse Amin.

Deus, família, pátria e liberdade. O deputado Marco Feliciano (PL-SP) resume em uma frase a postura que Bolsonaro deve adotar para continuar sendo o líder da direita. “Basta ele ser ele mesmo”.

Durante a campanha de reeleição e até no debate da Globo, o então candidato fazia discursos em defesa de pautas conservadoras, valores religiosos e a favor do armamento da população. Estas bandeiras eram resumidas pelo slogan “Deus, pátria, família e liberdade”, tão repetido nos comícios.

Feliciano avalia que a manutenção deste posicionamento permite que a corrida eleitoral de 2026 tenha Bolsonaro como um candidato de novo com chances de vitória. “Com quatro anos de desgaste de Lula, não dando picanha nem cerveja, já temos uma mão na taça”, disse.

Presidente do PSD, Gilberto Kassab foi na mesma linha em entrevista ao UOL. Ele declarou que Bolsonaro é a maior liderança da direita em décadas. A manutenção deste status vai depender dos posicionamentos que tiver.

“Bolsonaro sai da eleição como o nome forte da direita. Desde Paulo Maluf a direita não tinha uma cara. Hoje tem: Jair Bolsonaro. O futuro dependerá dele. Sem governo, vai responder com sua conduta se vai ter força, se vai ser ouvido. Sai fortalecido, com quase 50% dos votos, mas daqui para frente só vai ter suas manifestações. Se for infeliz nas manifestações, vai perdendo musculatura a cada momento”, afirmou Kassab.

Oi, sumido. Antes da votação, Bolsonaro ouviu do centrão que não teria apoio caso contestasse o resultado. Outro recado foi a possibilidade de desembarque de parlamentares do bloco — a dúvida é a velocidade em que a migração na direção de Lula se dará. As negociações começaram logo na primeira semana depois da eleição.

O PL, partido de Bolsonaro, já tem uma previsão dos próximos passos. Deve anunciar oposição, mas a leitura interna é que pelo menos 40 dos 99 deputados federais estão na iminência de migrar para a base do governo petista.

A situação é um exemplo do comportamento do centrão. O bloco tem 235 deputados federais e o cenário deve se repetir em outras legendas.

 

Edir Macedo acena e PT reage. Outro caso de sinalização ao governo Lula foi a postagem do bispo Edir Macedo, liderança da Igreja Universal do Reino de Deus e do Republicanos. O partido deu sustentação ao atual presidente e tem o bolsonarista Tarcísio de Freitas, governador eleito de São Paulo, em seus quadros.

Edir Macedo se engajou na campanha do atual presidente e chegou a imprimir seus discursos em jornais distribuídos nos templos. Mas terminada a eleição, ele aproveitou um evento na Suíça para acenar ao PT.

A resposta de Gleisi Hoffmann, presidente do PT, porém, não foi amistosa. Ela refutou a sinalização de aproximação.

Composição vai além dos partidos. O tamanho da tropa de Bolsonaro a partir de 2023 não será definido apenas pelos acordos político, afirma o senador Amin. Ele justificou que há parlamentares que representam segmentos e alguns deles são mais maleáveis e outros de difícil composição com o PT.

Um exemplo é a bancada que defende a liberação das armas, que tem convergência muito difícil com as pautas do governo Lula. Amin disse que a situação é diferente para os representantes do agronegócio. As necessidades deles podem caber em um governo petista e a migração se torna possível.

O senador ainda ressalta que nomes eleitos por serem ligados ao bolsonarismo, como a futura senadora Damares Alves (Republicanos-DF) ou a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), não acompanharão seus partidos caso uma aliança com o PT seja fechada. Ele explicou que estes parlamentares não têm fidelidade partidária, mas a seu líder.

Por enquanto, Bolsonaro falou pouco desde a derrota nas eleições. Houve um pronunciamento na terça-feira e a divulgação de um vídeo na quarta. Os aliados avisam que ele precisará acertar no tom para preservar o imenso capital político conquistado.

Uol