Diplomacia brasileira voltará à moderação
Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação
Essa é a avaliação de especialistas ouvidos pelo Metrópoles, que apontam como principal desafio do terceiro mandato de Lula a superação de barreiras criadas por Bolsonaro, que focou os esforços apenas nos EUA de Trump e nos Emirados Árabes. A análise é que a política externa da atual gestão distanciou e, em alguns casos, até isolou o Brasil no contexto mundial.
Lula é tido como um líder de perfil mais moderado, além de ser bem-visto por grandes potências. O futuro presidente já anunciou que pretende fazer um giro internacional antes da posse, mesma tática que adotou em 2002.
“Antes da posse, eu também quero fazer viagens para países da América do Sul para reestabelecer uma aliança e para os Estados Unidos, por mais divergências que tenhamos precisamos nos aproximar dos Estados Unidos, visitar a China, a União Europeia”, declarou o petista.
Um dos primeiros acenos positivos recebidos pelo futuro chefe do Executivo federal veio de Joe Biden, presidente dos Estados Unidos. No dia seguinte às eleições, o norte-americano teve uma conversa de 20 minutos com Lula sobre temas como democracia e a preservação do meio ambiente. Quando Biden foi eleito, Bolsonaro demorou 38 dias para reconhecer a vitória do democrata.
Mesmo antes da vitória de Lula, Douglas Koneff, o encarregado de negócios entre EUA e Brasil, se reuniu com o presidente eleito. “Estamos montando uma equipe para se reunir e discutir o que podemos fazer juntos. Ele quer focar no meio ambiente, na democracia, lidar com os pobres em seu país e salvar a Amazônia”, descreveu Biden.
I send my congratulations to Luiz Inácio Lula da Silva on his election to be the next president of Brazil following free, fair, and credible elections. I look forward to working together to continue the cooperation between our two countries in the months and years ahead.
— President Biden (@POTUS) October 31, 2022
O cientista política André Felipe Rosa explica que o desafio de Lula será na reconstrução da diplomacia na América do Sul, China, Estados Unidos e União Europeia. “Lula precisará recomeçar praticamente do zero os acordos de cooperação internacional, visto que, a exacerbação ideológica levou o Governo Bolsonaro a se isolar das principais potências econômicas, principalmente a China, um dos maiores compradores do Brasil”, diz.
O presidente da França, Emmanuel Macron, inclusive, também parabenizou Lula após sua vitória. Macron foi alvo de ataques por Bolsonaro durante todo o seu governo, principalmente em relação à questão ambiental. Um dia antes do segundo turno, o jornal Le Monde publicou um artigo de Lula em que ele se comprometeu a instituir uma nova política para a área.
Após a vitória do petista, Macron foi um dos primeiros chefes de Estado a reconhecer o resultado. “Eu devo dizer que eu esperava com muita impaciência esse momento para que pudéssemos relançar a parceria estratégica, no patamar de nossa historia e dos desafios que estão diante de nos”, disse Macron.
O cientista político Roldofo Marques explica que as abordagens de Bolsonaro e de Lula para a política externa são opostas. “O Lula não tem um discurso antiglobalista. Muito pelo contrário, ele entende o quanto é importante a parceria com os outros países”, explica.
“Lula prioriza parcerias, por exemplo no enfrentamento dos problemas ambientais, mudanças climáticas”, diz. “Ele deve promover a retomada de investimentos no país nesse sentido. O Brasil vai precisar realmente se recolocar.”
Veja outras autoridades que congratularam o novo presidente:
Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia
Rishi Sunak, primeiro-ministro do Reino Unido
Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá
Pedro Sánchez, presidente do governo da Espanha
Alberto Fernández, presidente da Argentina
Vladimir Putin, presidente da Rússia
Andrés Manuel López Obrador, presidente do México
Miguel Díaz-Canel, presidente de Cuba
Marcelo Rebelo de Sousa, presidente de Portugal
Olaf Scholz, chanceler da Alemanha
Guillermo Lasso, presidente do Equador
Gabriel Boric, presidente do Chile
Nicolás Maduro, presidente da Venezuela
Embaixada da China
Gustavo Petro, presidente da Colômbia
Luis Arce, presidente da Bolívia
Pedro Castillo, presidente do Peru
Luis Lacalle Pou, presidente do Uruguai
Al Gore, ex-vice-presidente dos EUA
Josep Borrell, representante da União Europeia para assuntos internacionais
Luis Almagro, secretário-geral da OEA
Mesmo antes da posse, Lula já está na lista de autoridades convidadas à 27ª conferência do clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP 27, que começou nesse domingo (6/11) em Sharm el Sheikh, no Egito.
O evento conta com a participação de representantes de mais de 150 países. Entre eles, o Brasil. É a primeira vez que um chefe de Estado fora do exercício do poder é convidado para um encontro entre lideranças internacionais.
Durante a COP26, em Glasgow, no Reino Unido, o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) fechou acordos importantes para proteção do meio ambiente, como a neutralização de dióxido de carbono até 2028, redução das emissões de metano em até 30% e o compromisso para reverter a perda florestal e a degradação do solo até 2030.
Entretanto, a gestão atual não executou ações concretas para cumprir os acordos e chega ao Egito sem apresentar bons resultados sobre a preservação do meio ambiente e a redução de gases de efeito estufa.
A expectiva é de que Lula coloque o Brasil no centro do debate sobre a preservação de biomas, com enfoque à questão climática.
Também há a expectativa de que Lula participe do evento anual do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. O encontro está previsto para janeiro, quando Lula já terá tomado posse do cargo. Em Davos, o petista terá um palco para expor suas propostas para a economia do Brasil, e colocará o país no centro das discussões sobre política externa.
A principal questão agora é quem comandará o Itamaraty no governo petista. Rosa destaca que Lula irá buscar um nome de boa envergadura em termos de articulação. “As relações diplomáticas, atualmente, não estão em fase de continudade, mas de readequação de acordos, que ficaram prejudicados face a um Itamaraty ideológico e com pouca fluidez política”, afirma.
“Em um primeiro momento, as relações exteriores no Governo Lula dão novo ânimo ao Sistema Internacional em relação as tratativas com o Brasil, e se espera uma aliança tal como a que levou a grande exportação de commodities a China, em 2003.”