Disputa por cargos tumultua transição

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Foto: Cláudio Kbene/Divulgação

Ao longo dos últimos dias, a equipe de transição do governo Lula 3.0, capitaneada pelo vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB), tem anunciado a conta-gotas os nomes dos integrantes dos grupos de trabalho criados para cuidar de diversas áreas.

Mas, na prática, a maioria desses núcleos ainda patina nos trabalhos, em uma transição marcada pelo improviso, falta de coordenação e ausência de diretrizes para as atividades – além da já deflagrada disputa por cargos nos bastidores.

A equipe da coluna conversou com três especialistas que estão direta ou indiretamente envolvidos nos núcleos criados pelo novo governo até Lula subir novamente a rampa do Palácio do Planalto.

Os relatos obtidos mostram que em áreas estratégicas, como economia, educação e direitos humanos, os trabalhos da transição ainda estão incipientes – e sem um roteiro para as próximas semanas.

Um dos tropeços na montagem da equipe, já público, foi o convite para o ex-ministro Guido Mantega compor o time do Planejamento. Mantega, porém, está inabilitado para exercer função pública pela Lava-Jato até 2030 após ter sido responsabilizado no processo das chamadas “pedaladas fiscais” pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

“Estou estarrecido com o grau de silêncio. Estou angustiado, quero ir para Brasília, colaborar, não estou pedindo cargo”, disse à equipe da coluna um especialista convidado pela equipe de Lula que pediu para não ser identificado.

“Tem gente achando que a transição vai construir programa de governo. Não é isso. Vai fazer diagnóstico da situação hoje, da gestão Bolsonaro, depois faz avaliação das políticas em geral e por último apresenta sugestões, mas este é o terceiro passo.”

Além dos convites improvisados, que deixaram alguns integrantes surpresos, outro ponto tem levantado insatisfação dentro dos grupos: a presença de “celebridades” das redes sociais e do universo acadêmico, como a cantora Bela Gil, a jogadora de vôlei Ana Moser e o professor Silvio Almeida.

São três nomes que atraem mídia e holofotes para os trabalhos, mas que eles consideram sem experiência em cargos no Executivo, o que já fez os grupos temáticos serem chamados de “repositórios de celebridade” nos bastidores.

Além da falta de coordenação dos trabalhos, outro motivo que dificulta o avanço das discussões, segundo integrantes desses grupos, é a indefinição com o Orçamento de 2023.

O governo ainda trabalha a melhor alternativa para excluir o Bolsa Família do teto de gastos, abrindo uma “licença para gastar” para Lula da ordem de mais de R$ 170 bilhões.

A própria redação da PEC tem provocado disputas na equipe de transição, já que parte da equipe defende uma PEC mais enxuta e que valha apenas para o primeiro ano de governo – considerada de mais fácil aprovação no Congresso –, enquanto outro grupo quer aproveitar para já estender a licença para gastar nos próximos quatro anos.

A disputa por cargos também tem incomodado os especialistas convidados para ajudar na transição. “Já tem gente loteando ministério”, reclama um deles.

Uma das pastas mais visadas é a do Ministério da Educação (MEC), dona de um dos maiores orçamentos de Brasília.

O Globo