Disputa por ministérios agita base de Lula
Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
A decisão do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de “só começar a pensar” na montagem do futuro Ministério a partir do final deste mês abriu uma arena de disputas veladas entre aliados. Na busca por espaços na Esplanada, personagens importantes já começaram a se movimentar, especialmente mirando as pastas da Casa Civil, Fazenda, Justiça e Segurança Pública, Agricultura e Cidadania. Por outro lado, ministérios chave, como Saúde e Educação, não aparecem na prateleira de preferências de alguns dos principais nomes que almejam postos de destaque em 2023.
Três petistas da confiança de Lula estão de olho nos ministérios da Fazenda e da Casa Civil, considerados os mais relevantes do Executivo. São eles o ex-ministro da Educação Fernando Haddad, o ex-ministro da Saúde e deputado federal Alexandre Padilha (SP) e o senador eleito Wellington Dias (PI).
As ambições dos três, contudo, contrastam com as funções para as quais foram designados na transição. Padilha vai participar do grupo temático da Saúde, enquanto Haddad auxilia na montagem da equipe da Educação. Reservadamente, ambos indicam que não gostariam de voltar às cadeiras que já ocuparam. A Dias, foi dada a missão de articular junto ao Congresso novos espaços no Orçamento.
Dono da caneta, Lula não sinalizou quem seria seu preferido e já avisou que só tratará do assunto ao retornar da COP 27, no Egito. Ele só deverá chegar ao Brasil no dia 19.
— Quando eu voltar do Egito, vou começar a pensar na montagem do ministério — disse o petista na quarta-feira.
Internamente, há a clareza de que a escolha para a Fazenda é a mais delicada. O futuro titular tem potencial para acalmar ou afugentar de vez o mercado financeiro. O setor ainda apresenta fortes desconfianças em relação a Lula e anseia por um ministro de perfil liberal, como o ex-presidentes do BNDES Persio Arida, integrante da equipe da transição.
Ontem, no mais recente episódio que gerou incômodo na Faria Lima, o presidente eleito criticou o que chamou de “tal estabilidade fiscal” e o teto de gastos. A declaração ampliou as perdas da Bolsa, que caiu mais de 4%, e empurrou o dólar a R$ 5,39.
Nos últimos dias, agentes do mercado enviaram recados, por meio do vice eleito Geraldo Alckmin (PSB) e da senadora Simone Tebet (MDB-MS), de que é importante Lula anunciar o ministro o quanto antes. Também deixaram claro que a opção por Haddad seria mal recebida. A avaliação desses representantes do setor é de que o ex-ministro da Educação tem ideias econômicas que não agradam e não transmite segurança para negociar com o Congresso.
O próprio Lula mantém interlocução com o protagonistas do setor. Ele se reunirá em breve com o presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, com quem já se encontrou na festa de aniversário de Alckmin, no domingo.
Para além da Fazenda, outros nomes de confiança de Lula já se movimentam em busca de uma cadeira na Esplanda, como o senador eleito, Flávio Dino (PSB-MA). Ele é um dos poucos aliados que já tiveram a presença na equipe ministerial assegurada por Lula. Dino trabalha para que o petista mantenha sob o mesmo guarda-chuva as pastas da Justiça e da Segurança Pública, que ele estuda desmembrar. Na quarta-feira, Dino acompanhou Lula em visita ao Supremo Tribunal Federal (STF) e, num gesto simbólico, foi escalado para falar com a imprensa sobre a reunião que eles tiveram como ministros da Corte.
A necessidade de construir uma base forte do Senado, Casa em que o PL, partido do presidente Jair Bolsonaro, terá a maior bancada a partir de 2023, pode impedir a ascensão de Dino. Nesse caso, o ex-ministro do STF Nelson Jobim é tratado por integrantes do PT como uma alternativa. Entretanto, ele afirmou à colunista do GLOBO Bela Megale que pretende continuar trabalhando na iniciativa privada.
Correndo por fora está o advogado Marco Aurélio de Carvalho. Próximo a Lula, ele coordena o grupo Prerrogativas, entidade que reúne juristas críticos à Operação Lava-Jato, da qual o petista foi alvo. Carvalho articula para que o ex-assessor da Presidência durante a gestão de Dilma Rousseff Jorge Messias seja o advogado-geral da União.
Simone Tebet, escalada para o núcleo das políticas sociais da transição, já disse que se identifica com o Ministério da Cidadania, responsável pelo Bolsa Família. O MDB não gostaria que ela virasse ministra na cota do partido e, sim, fosse nomeada como escolha pessoal de Lula. Os emedebistas pretendem indicar um outro quadro, não definido. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, nome quase certo no primeiro escalão, também sonha com uma pasta ligada à área social.
A corrida ao poder deverá ganhar cada vez mais participantes. O PSD, por exemplo, ambiciona pelo menos duas cadeiras de relevância na Esplanada. Um dos cotados é o senador Otto Alencar (PSD-BA), que já confidenciou a aliados o desejo de atuar na área do Desenvolvimento Regional. Outro quadro da legenda, o deputado Pedro Paulo (RJ), surge como alternativa.
Há ainda candidatos para o Ministério da Agricultura, como o senador Carlos Fávaro (PDT-MT). Pesa contra ele, no entanto, o fato de sua suplente, Margarth Buzetti (PP), ser identificada com o bolsonarismo. Favaro não está sozinho. O deputado federal Neri Geller (PP-MT), que já comandou a pasta durante o governo Dilma, mira retomar a cadeira.