Extremistas de direita perdem espaço no novo Congresso

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Foto: Marina Ramos/ Câmara dos Deputados

Após eleger as maiores bancadas do Congresso Nacional na esteira do presidente Jair Bolsonaro no primeiro turno, o PL tenta agora negociar espaços de poder nas duas Casas em um cenário desfavorável para os aliados mais leais ao chefe do Executivo, que deixa o cargo em janeiro. A legenda terá 99 deputados e 14 senadores (oito eleitos em 2022) a partir da próxima legislatura.

A legenda presidida pelo ex-deputado Valdemar Costa Neto se posicionou oficialmente na oposição ao governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas pleiteia seguir com a primeira-vice-presidência da Câmara e presidir o Senado em troca do apoio à reeleição do deputado Arthur Lira (PP-AL) ao comando da Casa.

Essa estratégia, porém, perde força se Lira fechar um acordo com a futura base governista, MDB e o Centrão. Esse acerto isolaria o PL, mas, pelo tamanho da bancada, a legenda ainda poderia reivindicar cargos na Mesa Diretora e em comissões em nome da proporcionalidade.

Em entrevista coletiva realizada nesta quarta-feira, 9, o presidente eleito disse que o Centrão “é uma composição de vários partidos políticos que o PT tem que aprender a conversar”. Questionado sobre como vai contornar a resistência da oposição em temas como a PEC da Transição, Lula respondeu que “ainda não sabe quem é oposição”. “Nós tivemos uma conversa com o presidente da Câmara, do Senado, há muita disposição dos dois, com concordância do que estamos propondo”, disse o petista.

No encontro com Lira, Lula afirmou ainda que o PT não terá candidato próprio à presidência da Câmara.

Independentemente do desfecho das negociações nos bastidores do Congresso, integrantes da cúpula do PL admitem em conversas reservadas que os bolsonaristas mais radicais não terão espaço relevante nas comissões, na Mesa Diretora e até na liderança da oposição ou do partido na Câmara e no Senado.

A votação que define os integrantes da Mesa, por exemplo, é secreta, mas assegura uma representação proporcional dos partidos ou blocos parlamentares, sem prejuízo de candidaturas avulsas. Como as siglas escolhem os candidatos que as representarão na eleição aos cargos, os quadros com discurso mais radicalizado podem ser preteridos dentro do próprio partido.

Sem a retaguarda do Palácio do Planalto, nomes que tiveram protagonismo na atual legislatura, como Carla Zambelli (PL-SP), Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Bia Kicis (PL-DF), devem perder protagonismo no Parlamento, enquanto as vozes moderadas do PL podem ocupar os espaços mais disputados.

Dentro da própria bancada já existe uma disputa pela vaga de líder na Câmara. Zambelli apresentou seu nome e Eduardo Bolsonaro também é citado, mas, segundo integrantes da sigla, é remota a possibilidade de um deles ser escolhido.

“Jair Bolsonaro vai voltar em 2026 e precisamos manter viva a representação do nosso presidente no Congresso. Vejo o Eduardo Bolsonaro como um bom nome para liderar o partido”, disse o deputado Capitão Alberto Neto (PL-CE).

O deputado e presidente da Comissão de Agricultura, Fernando Giacobo (PL-PR), argumentou que ser oposição ao governo não significa perder espaços no Congresso, que seguem uma distribuição regimental. “Nós temos a maior bancada, mesmo sem bloco, e vamos pleitear a presidência do Senado dentro de uma composição com Lira”, disse. Se o PP não compuser o bloco para apoiar o PL no Senado, o acordo estaria desfeito. O nome indicado pelo partido de Bolsonaro à Casa deve ser o do senador Carlos Portinho (PL-RJ), que é líder do governo.

Os representantes da ala mais radical do bolsonarismo também enfrentam resistência entre os partidos do centro e a rejeição da esquerda.

Para o vice-líder do PSD na Câmara, Fábio Trad, nomes radicais “não prosperarão” neste Congresso e “serão rejeitados naturalmente pelos pares”. “Porque não se coadunam com essa feição de centro que, pelo andar da carruagem, o governo Lula vai dar”, disse. “Vai haver uma mudança da água para o vinho no Congresso. Não tem sentido (ter) radical de direita (nos cargos principais do Congresso). Agora serão nomes de centro. Se não, vai ter reação”, completou o parlamentar.

Estadão