Leite promete “dar suporte” a Lula
Foto: Guito Moreto/Agência O Globo
Primeiro governador reeleito do Rio Grande do Sul após a redemocratização, Eduardo Leite defende que o PSDB, seu partido, faça “oposição responsável” e prega diálogo e relação “republicana” com o governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ao reconhecer que sua legenda encolheu no Congresso — a bancada caiu de 32 deputados em 2018 para 13 na próxima legislatura —, Leite entende que a sigla precisa fazer alianças para dar sustentação ao que chama de “centro democrático”. Sobre os ataques homofóbicos que pautaram sua reeleição, o governador disse que foi mais fácil enfrentar a situação após se declarar gay em julho do ano passado. Quanto ao segundo mandato, afirma que a marca de sua gestão será a educação.
O antipetismo sempre foi um dos pontos centrais do seu discurso. Como será sua relação com o presidente eleito Lula?
De forma republicana. Fui prefeito de Pelotas no governo Dilma e governador sob Bolsonaro. Vamos conversar e construir uma relação em benefício do estado. O papel de um governador não é ser oposição ao governo federal. Ele é um representante do seu povo e precisa estabelecer relação em defesa do seu estado.
O PSDB deve participar do governo?
Eu vou a Brasília na próxima semana conversar com as lideranças do PSDB. Sei que cumpro um papel em relação ao partido, e a gente precisa estar conectado a essas pautas nacionais. Podemos dar suporte no sentido de dar estabilidade para o país. Para dar sustentação à nossa democracia que esteve estressada, mas não significa adesão ao governo eleito. Temos divergências programáticas. Na minha visão, temos que fazer uma oposição responsável para os temas mais relevantes.
Qual o futuro do PSDB após perder o governo de São Paulo e ver sua bancada encolher?
Vamos ter que conversar com deputados, governadores eleitos. Raquel Lyra (eleita em Pernambuco) é super-relevante e um quadro da melhor qualidade. Fiquei feliz com a vitória dela e também do Eduardo Riedel (eleito no Mato Grosso do Sul). Do ponto de vista partidário, quero que o Brasil tenha uma força política no centro e isso significa o PSDB conversar com outros partidos. O PSDB diminuiu seu tamanho no Congresso. É menos sobre o PSDB e mais sobre o centro democrático, que tem uma visão equilibrada: liberal para economia, de menor intervencionismo do estado e com responsabilidade fiscal. Mas que ao mesmo tempo concilia a preocupação social e o desenvolvimento humano.
Qual o significado da sua reeleição após quase ficar de fora do segundo turno? Críticos atribuem sua dificuldade no pleito a erros políticos e à quebra da promessa de não se reeleger. Como o senhor responde a isso?
Isso me honra por um lado, mas por outro eleva a cobrança da população. Como o primeiro reeleito, já tenho facilidade de conhecer a máquina. Tenho dito que o voto não é acompanhado de justificativa. O que interferiu no primeiro turno foi a polarização nacional. Muitas pessoas que votariam na nossa chapa acabaram alinhando seu voto à eleição nacional. Isso favoreceu os nossos adversários. É claro que os movimentos políticos que eu mesmo fiz também tiveram sua implicação para que os adversários explorassem isso politicamente e tentassem gerar dúvida no eleitor. Mas o resultado final foi expressivo no sentido de reconhecer que temos uma agenda que merece ser respeitada.
Os ataques homofóbicos praticamente pautaram a campanha eleitoral do seu adversário (Onyx Lorenzoni). Como foi lidar com isso?
Pessoalmente foi a mais fácil de lidar por estar aberto. Nas outras eleições vinham piadinhas no subterrâneo da política. Agora a gente pode partir para um enfrentamento do tema. (…) Recentemente, recebi uma mensagem de uma mãe que tem um filho gay adolescente e do quanto isso significa para ela, de que a orientação sexual é algo que precisa ser respeitado. E o quanto é preciso respeitar a diversidade racial, de crenças religiosas, de gênero. Essas declarações homofóbicas, além de revelar um atraso do ponto de vista civilizatório, eram utilizadas como ferramentas para contornar propostas sobre o estado que o meu então adversário não tinha.
Como vê a postura do presidente de ter se mantido em silêncio por dois dias após a eleição e não reconhecer o resultado das urnas?
É preocupante. Democracia é um regime em que se perde as eleições e a vida segue. Quem perde sabe que tem oportunidade de fazer oposição e pode voltar daqui a quatro anos.
Qual a avaliação do senhor sobre os bloqueios dos caminhoneiros e a postura da própria PRF no dia da eleição?
Lamentável. Mas tenho confiança de que as instituições e as lideranças não permitirão retrocesso democrático. Ademais, gera prejuízos ao país. O bem do Brasil é estabilidade e a credibilidade.
O senhor planeja voltar à disputa presidencial em 2026?
Estou focado no Rio Grande do Sul. Depende também de como estará o desempenho do governo, o que terá acontecido politicamente. É prematuro fazer qualquer avaliação.
Qual será a marca da sua nova gestão?
No primeiro mandato de governo nós precisávamos colocar as contas em dia, retomar capacidade de investimento e reduzir impostos. O primeiro passo foi arrumar a casa. Agora digo que é arrumar a escola e qualificar rede de ensino. A meta é alcançar 50% da escolas de ensino médio em tempo integral e ter avanços no Ideb. O estado tem perfil demográfico que antecipa o que o Brasil vai vivendo em termos de envelhecimento. A produtividade depende de gente. Precisamos produzir mais com menos.