Lira nega aliança com Lula

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Foto: Paulo Sergio/Agência Câmara

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse que pretende ficar “independente” em relação ao governo comandado por Luiz Inácio Lula da Silva, a partir de janeiro de 2023. Mesmo depois de ter se reunido com o presidente eleito, Lira afirmou que não agirá como oposição, mas também não terá alinhamento ao Palácio do Planalto. O aviso da distância regulamentar agradou ao chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, mandachuva do PP, mas irritou os petistas, que vão apoiar novo mandato para Lira à frente da Câmara e querem reciprocidade.

Líder do Centrão e aliado do presidente Jair Bolsonaro, o deputado de Alagoas tem afirmado, ainda, que o Congresso não recuará um milímetro sobre o orçamento secreto. Nos bastidores, a bancada do PT interpretou que Lira, chamado na campanha por Lula de “imperador do Japão”, deseja mesmo negociar seu apoio a cada problema que aparecer no caminho do Planalto. E não serão poucos.

Os obstáculos levantados por deputados e senadores para aprovar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que permite ao novo governo pagar o Bolsa Família de R$ 600 passa longe da preocupação com as contas públicas. O que está em jogo nesse “estica e puxa” é a eleição dos presidentes da Câmara e do Senado, em 1.º fevereiro, além de cargos e da sobrevivência do orçamento secreto.

Há um pacote a ser embalado, que também envolve a distribuição de comissões importantes, a exemplo da de Constituição e Justiça (CCJ) – por onde passam os principais projetos de interesse do Planalto –, a relatoria do Orçamento e ministérios de visibilidade, como os da Infraestrutura e do Desenvolvimento Regional.

“Estamos no terceiro turno da disputa. Ou o Lula permanece em campo ou a coisa não sai”, resumiu o deputado Paulo Pereira da Silva, presidente do Solidariedade, que não foi reeleito.

No Senado, o PT apoiará a recondução de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que deseja emplacar o aliado Alexandre Silveira na Esplanada. É na Casa de Salão Azul que Lula enfrenta mais cotoveladas e dificuldades na interlocução política.

“O governo fez uma opção pelo Centrão”, criticou o senador Renan Calheiros (MDB-AL), aliado do petista e adversário de Lira. “Nós agora somos todos coadjuvantes.”

Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), presidente da CCJ do Senado, também se movimenta para “ajudar o Brasil”, como ele diz. No mercado da política, a tradução é “cobrança de fatura”, que inclui um ministério para chamar de seu ou uma autarquia para continuar controlando, como a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).

Alcolumbre esteve nesta terça-feira, 29, com Lula. Quer apoio do PT para voltar a comandar o Senado na gestão de 2025-2026. Mas nessa fila também desponta o senador eleito Renan Filho (MDB-AL). Ao que tudo indica, a PEC para furar o teto de gastos virou a conexão do novo governo com as velhas práticas do Congresso.

Estadão