Lula afaga centro-direita e mercado
Foto: Miguel Schincariol / AFP
O vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB), abriu formalmente, ontem, os trabalhos do governo de transição, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), com sinalizações claras para o mercado financeiro e a classe política. O PSD passa a integrar, oficialmente, o staff do Conselho de Transição, que já contava com os representantes dos partidos da coligação vitoriosa no primeiro turno das eleições.
O MDB entra no time com a senadora Simone Tebet (MS), confirmada no grupo temático que vai avaliar as políticas sociais. Na economia — outro grupo estratégico —, dois dos “pais” do Plano Real dividirão o colegiado com uma dupla de economistas ligada ao PT. A futura primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, foi nomeada coordenadora das festividades de posse do marido, em 1º de janeiro.
Com os anúncios de ontem, são 12 os partidos comprometidos com a governabilidade a partir do ano que vem: os 10 da coligação que elegeu a chapa Luiz Inácio Lula da Silva-Geraldo Alckmin (PT, PSB, Solidariedade, PSol, Rede, PV, Pros, Agir, PCdoB e PDT), no campo da esquerda, mais MDB e PSD, de centro.
O presidente do PSD, Gilberto Kassab (SP), indicou o deputado federal pela Bahia Antônio Brito para participar da transição. Com isso, o partido praticamente assegura uma vaga no primeiro escalão do futuro governo, assim como o MDB, que já tem na ex-presidenciável Simone Tebet uma candidata forte para a futura equipe de ministros.
Outra mensagem importante foi dada para os agentes de mercado. O grupo temático que avaliará a situação econômica e fiscal que Lula herdará do presidente Jair Bolsonaro (PL) terá os economistas Pérsio Arida e André Lara Resende — da equipe que elaborou e implementou o Plano Real no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, ambos ligados ao PSDB —, trabalhando lado a lado com dois nomes ligados ao PT: Guilherme Mello, quadro do partido ligado à Unicamp, e Nelson Barbosa, que foi ministro do Planejamento e da Fazenda no governo Dilma Rousseff. Alckmin disse, ainda, que o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega deverá auxiliar os trabalhos do grupo como voluntário.
Perguntado sobre como será a convivência dos economistas do Real com os nomes ligados ao PT, o vice-presidente eleito foi pragmático. “Não são visões opostas, são complementares. É importante você ter no grupo técnico visões que se complementam, que se somam. Para você discutir e colaborar com as propostas”, argumentou.
No CCBB, Alckmin fez questão de ser acompanhado pelo núcleo duro da transição. Com ele estavam a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que coordenará a interlocução política do gabinete provisório; Aloizio Mercadante, coordenador dos 31 grupos temáticos; e o ex-deputado Floriano Pesaro, nome de confiança de Alckmin, nomeado coordenador executivo do governo de transição. Ao longo desta semana serão anunciados os nomes que integrarão as equipes setoriais.
No time temático da assistência social, também com quatro coordenadores (padrão para todos os grupos), Tebet integrará um colegiado com maioria de mulheres. Além da senadora, foram indicadas as ex-ministras de Desenvolvimento Social e Combate à Fome Márcia Lopes e Tereza Campello, e o deputado André Quintão, do PT de Minas Gerais.
No CCBB, Alckmin assinou três portarias como coordenador-geral do processo. A primeira institui o Gabinete de Transição Governamental. A segunda define a estrutura do gabinete, cujas atribuições são reunir informações sobre o funcionamento dos órgãos e entidades que compõem a Administração Pública Federal e preparar os atos de iniciativa do presidente eleito para as primeiras semanas da nova gestão, a partir de janeiro.
Alckmin ressaltou, como tem feito em suas entrevistas, que os nomes da transição não têm relação direta com a futura equipe de governo. “Podem participar (do governo Lula), podem não participar, mas são questões bastante distintas. Esse é um trabalho de 50 dias”, frisou o vice eleito, ao referir-se ao prazo de validade do governo de transição, que acaba logo após a posse de Lula.
Alckmin explicou que os grupos técnicos poderão convidar outras pessoas para o trabalho, como representantes da sociedade civil e lideranças políticas. “Gleisi Hoffmann esteve com os partidos políticos: todos os partidos do primeiro turno, os 10, e os que também vieram no segundo turno vão participar também. Na medida em que forem chegando esses nomes, a gente vai incorporando”, explicou ele.
A terceira portaria solicita ao presidente em exercício do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, cópias dos relatórios de tomadas de contas, auditorias, inspeções e levantamentos feitos na administração pública federal para ajudar nos trabalhos do gabinete de transição. “O Tribunal de Contas tem um trabalho muito apurado e vai nos ajudar com essas informações”, destacou Alckmin.
Confirmada como coordenadora da área de Desenvolvimento Social na transição de governo, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) disse que está a postos para ajudar a reconstruir o Brasil. O nome dela foi anunciado pelo coordenador da transição, o vice-presidente Geraldo Alckmin, ontem, em Brasília.
“Fico feliz em poder colaborar com a equipe de transição de governo do presidente Lula e do vice-presidente Geraldo Alckmin eleitos na área de Desenvolvimento Social. Nessa divisão, não poderia haver outra opção”, escreveu Tebet nas redes sociais. “Vamos tratar da fome, da geração de emprego e renda e de recursos para fazer políticas públicas. Vamos colocar as pessoas em primeiro lugar. Contem comigo para trabalhar pela reconstrução do Brasil.”
No anúncio, Alckmin enfatizou os dois grandes desafios do próximo governo: “Um na economia e o outro social”. “E eles não disputam, eles são sinérgicos. Eles se somam, se complementam, não são excludentes. É preciso ter uma agenda de eficiência econômica e de competitividade, e de outro lado, uma rede de proteção social que é extremamente importante”, ressaltou o vice-presidente eleito. “Então, a Simone, com a sua experiência, com a sensibilidade, a força da mulher, vai trabalhar conosco na área do desenvolvimento social, que é uma área importantíssima”, acrescentou.
Tebet ficou em terceiro lugar na corrida presidencial. Após o primeiro turno, anunciou apoio a Lula e participou ativamente da campanha. Foi um dos nomes mais importantes na eleição do petista.