Lula fecha acordo com o Centrão
Foto: Carlos Moura/SCO/STF
Em visita a Brasília após a vitória no pleito de outubro, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez acenos ao Centrão e pregou o restabelecimento da harmonia entre os Poderes. Depois de uma audiência com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, o petista disse que é “plenamente possível recuperar a normalidade da convivência”.
“Eu me candidatei com o compromisso de que é possível resgatar a cidadania do povo brasileiro, de que é possível a gente recuperar a harmonia entre os Poderes, de que é plenamente possível recuperar a normalidade da convivência entre as instituições brasileiras”, enfatizou. “Instituições que foram atacadas, que foram violentadas pela linguagem nem sempre recomendável de algumas autoridades ligadas ao governo”, acrescentou ele, em referência, principalmente, ao presidente Jair Bolsonaro.
Na entrevista coletiva, Lula exaltou as urnas eletrônicas, classificadas por ele como um orgulho nacional pela tecnologia e rapidez na totalização dos votos. O presidente eleito evitou comentar sobre o relatório da auditoria das Forças Armadas, divulgado ontem, mas frisou que Bolsonaro deve aceitar o resultado do pleito. “Cabe a um presidente reconhecer sua derrota. Cabe a ele fazer uma reflexão e se preparar para, daqui a uns anos, concorrer outra vez. Assim é o jogo democrático. É respeitar a decisão da maioria do povo brasileiro”, destacou.
Questionado sobre as manifestações antidemocráticas que paralisaram rodovias federais, Lula apontou a necessidade de identificar os financiadores desses atos. “Essas pessoas que estão protestando, sinceramente, não têm por que protestar. Deviam dar graças a Deus pela diferença ter sido menor que aquilo que nós merecíamos ter de votos. E eu acho que é preciso detectar quem é que está financiando esses protestos que não têm pé nem cabeça. Ofensas a autoridades, ameaças de fechamento, agressão verbal”, listou.
Lula também afirmou que pretende manter uma relação cordial com o Congresso e com o Centrão. “O governante tem de ter clareza que tem que lidar com as pessoas que foram eleitas. Temos de convencer das coisas importantes para o país. Não tem que olhar o Congresso e ‘ah, o Centrão’. O Centrão é um conjunto de partidos que temos que conversar e tentar convencer das nossas propostas”, minimizou. “Não enxergo dentro da Câmara, dentro do Senado, essa coisa de Centrão. Eu enxergo deputados que foram eleitos e que, portanto, nós vamos ter de conversar com eles para garantir as coisas que serão necessárias para melhorar a vida do povo brasileiro.”
Ele prometeu trabalhar “24 horas por dia” e aproveitou para dar alfinetadas em Bolsonaro. “Nós voltamos a governar o país. Não há tempo para vingança, não há tempo para raiva, não há tempo para ódio. O tempo é de governar. Eu não vou trabalhar apenas 3, 4 horas por dia. Vou trabalhar um dia inteiro, porque nós temos uma dívida a resgatar com o povo pobre deste país”, destacou. “Temos uma dívida a resgatar com milhões de crianças que durante a pandemia não tiveram a oportunidade de estudar, e essas crianças estão muito atrasadas em relação àquelas que puderam estudar.” Sobre a formação dos ministérios, o presidente eleito afirmou que só começará a pensar no assunto depois que voltar da COP27, a conferência do clima realizada no Egito.
O futuro chefe do Executivo teve agenda cheia em Brasília. Antes do encontro no TSE, ele se reuniu com a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, e com os outros ministros da Corte. As pautas foram a transição de governo e a importância da harmonia entre as instituições democráticas. Por meio de nota, o tribunal disse que os magistrados apontaram “preocupações para o Brasil, como a necessidade de investimentos em educação e meio ambiente” e que o presidente eleito “afirmou que atuará pela reconstrução da união” do país.
Também participaram do encontro a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann; o senador Randolfe Rodrigues; o senador eleito Flávio Dino (PSB-MA), o deputado federal eleito Paulo Teixeira (PT-SP), o ex-ministro Aloizio Mercadante, os advogados Eugênio Aragão e Cristiano Zanin e o procurador da Fazenda Nacional Jorge Messias.
Na saída da audiência, Flávio Dino disse que “acabou a era de ataques”. “O presidente Lula enfaticamente declarou esse desejo de paz e normalidade entre os tribunais; convidou o tribunal a participar de outros debates importantes, a exemplo da questão ambiental, da questão das armas; reiterou a visão dele no sentido de garantir o desarmamento como princípio fundamental para que nós tenhamos o cumprimento da boa segurança pública”, ressaltou.