Militares blindam coronel golpista

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Foto: Reprodução

Excluído do grupo de fiscalização das eleições por decisão dos ministros Alexandre de Moraes e Edson Fachin, o coronel do Exército Ricardo Sant’ana segue intocado — e bem posicionado — dentro da corporação, como chefe de um setor que cuida de tecnologia e segurança da informação.

Sant’ana havia sido indicado pelas Forças Armadas para integrar a “comissão de transparência” criada pelo Tribunal Superior Eleitoral, o TSE, para acompanhar as eleições e vinha trabalhando na análise do chamado código-fonte das urnas.

Em agosto, acabou afastado do grupo após a coluna revelar que, em suas redes sociais, ele publicava notícias falsas, inclusive sobre as urnas eletrônicas, e fazia militância pró-Jair Bolsonaro.

Apesar das provas incontestes da postura que adotava na internet, a ponto de o TSE ter decidido retirá-lo da comissão por meio de um despacho público, o coronel não sofreu sanções funcionais relevantes dentro do Exército.

Ele segue exatamente na mesma função que ocupava antes da confusão: é chefe da Divisão de Sistemas de Segurança e Cibernética da Informação do Exército.

O papel dos militares no processo eleitoral vem gerando polêmica há tempos. Convidados pelo TSE a participar da “comissão de transparência”, eles acabaram virando personagens da retórica de Bolsonaro contra o processo eleitoral.

Com a campanha já em curso, o Ministério da Defesa anunciou que faria a conferência de boletins de mais de 380 urnas escolhidas por amostragem, comparando os números colhidos presencialmente nos boletins físicos expedidos nas seções eleitorais com os dados que chegavam ao TSE.

Os militares fariam, ainda, a verificação do teste de integridade das urnas, destinado a averiguar se os equipamentos estavam aptos a receber os votos dos eleitores.

Era esperado que as conclusões do trabalho fossem divulgadas após o primeiro turno. O próprio Jair Bolsonaro chegou a dizer, publicamente, quando soube que disputaria a etapa final da eleição com Lula, que só responderia se confiava ou não no sistema de votação depois de conhecer o relatório dos militares.

O Ministério da Defesa, porém, silenciou. A postura tem duas explicações. A primeira é que os militares não divulgaram o relatório porque não encontraram qualquer indício de inconsistência — como de fato não há, apesar do discurso bolsonarista. A segunda: era preciso, antes, esperar o resultado final do pleito — se Bolsonaro ganharia ou perderia — para, enfim, tornar público o documento, chancelando a regularidade do processo ou lançando dúvidas sobre ele. Uma estratégia esperta, que estaria alinhada ao interesse do atual ocupante do Palácio do Planalto.

Após a proclamação do resultado oficial das eleições pelo TSE, com a derrota de Bolsonaro, o Ministério da Defesa finalmente anunciou que vai entregar o relatório à Corte. Em nota oficial, a pasta informou que o documento será remetido nesta quarta.

Aliados do atual presidente manifestaram ao longo desta semana a expectativa de que as conclusões dos militares contenham elementos que possam ser usados politicamente por ele para questionar o processo em que acabou derrotado.

Metrópoles