Parte do PL não quer se opor a Lula
Foto: Cristiano Mariz/O Globo
Cacique da maior bancada eleita da Câmara, com 99 deputados, e presidente do partido de Jair Bolsonaro, Valdemar Costa Neto anunciou que o PL, apesar do histórico de adesismo a diferentes gestões do Planalto, fará oposição ao governo Lula. Além das estimativas feitas até por dirigentes da legenda, longe dos microfones, de que por volta de 40 parlamentares terão inclinação a negociar apoio à gestão petista, vários deputados eleitos já deram sinais públicos de diálogo com o PT ou mesmo já integraram base aliada do partido em outros anos.
A maioria deles vem do Nordeste. Levantamento do GLOBO mapeou 25 parlamentares eleitos pelo PL que não fizeram campanha para Bolsonaro no segundo turno, parabenizaram Lula publicamente pela vitória ou que já foram aliados do PT. Desse total, 21 são da região onde Lula venceu de forma esmagadora.
No auge do acirramento da disputa entre o petista e Bolsonaro, no segundo turno, 12 deputados eleitos pelo partido do atual presidente se abstiveram de pedir votos para ele nas redes sociais. Depois do resultado, outros cinco correligionários de Bolsonaro não seguiram seu posicionamento e reconheceram explicitamente a vitória de Lula, inclusive parabenizando o presidente eleito.
Parabenizo o presidente eleito, Luís Inácio Lula da Silva. Desejo a ele sabedoria na condução do Brasil para a prosperidade e com oportunidades para todos. Na Câmara Federal apoiarei todos os projetos que visem melhorar a vida dos brasileiros e brasileiras.
Viva a democracia! 🇧🇷— Yury Do Paredão (@YuryDoParedao) October 31, 2022
Alguns já dizem abertamente que o diálogo é “necessário”. Yury do Paredão (CE) deu parabéns a Lula e declarou que na Câmara apoiará “todos os projetos que visem a melhorar a vida dos brasileiros”. O deputado federal Zé Vitor (PL-MG) se colocou à disposição para conversar com o novo governo, prometendo, porém, fazer uma “oposição construtiva”:
— O diálogo é sempre necessário, independente do presidente, não abriremos mão disso. Serei uma oposição construtiva, vigilante para que não haja retrocesso.
Natural de Guaranhuns, cidade natal de Lula, o deputado federal eleito Fernando Rodolfo (PL-PE), publicou no Twitter uma mensagem em que aspirou sorte ao presidente eleito. Ao GLOBO, disse estar alinhado às pautas do partido.
— Defendo a pauta de costumes e sou contra o aborto e regalias para criminosos. Mas o que for bom para o Brasil terá o meu apoio.
Entre as bandeiras brancas recebidas por Lula, destacou-se a do ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, que integrou um núcleo mais duro da base bolsonarista. No Twitter, ele pediu por serenidade. No passado, Salles assumiu a secretaria estadual de São Paulo durante o governo do atual vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB).
Ex-filiado ao PT, o deputado federal Altineu Côrtes, atualmente presidente do diretório fluminense do PL, afirma que não haverá dificuldade em manter a bancada do partido coesa no objetivo de fazer oposição ao mandato de Lula. No passado, ele chegou a disputar a prefeitura de São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, em 2008, atrelado à imagem do presidente eleito para o terceiro mandato.
Um dos mais próximos de Valdemar no comando do partido, Altineu diz cogitar até a possibilidade de sanções aos parlamentares que não se mantiverem fiéis aos ideais estabelecidos pela direção do PL. Ele diz não ver possibilidade de “puladas de muro” em direção à base governista. Sobre o passado petista, diz com frequência que “nunca foi ligado ao PT, embora tenha concorrido a cargos pela legenda”.
— Estamos todos unidos e temos o desejo de fazer uma oposição responsável. Caminharemos juntos, sempre lembrando que o nosso eleitor é quem votou no Bolsonaro.
Há na bancada do PL até mesmo quem já foi ministro de governos do PT. Antônio Carlos Rodrigues (SP) foi da base aliada de Dilmar Rousseff e em 2015 assumiu o Ministério de Transportes, onde permaneceu até o impeachment da petista, em maio de 2016. Já Wellington Roberto (PB) é o único parlamentar da bancada que votou contra a saída de Dilma do Planalto.