PSDB e PSB encolhem por ideologia dúbia

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Foto: Mauricio Tonetto/Flickr Eduardo Leite e Tati Beling / ALESR

Depois de um primeiro turno frustrante, com derrotas em estados-chave e redução drástica das bancadas no Congresso Nacional, PSDB e PSB voltaram a respirar depois das vitórias para os governos estaduais neste segundo turno.

No domingo (30), os tucanos elegeram Eduardo Leite (RS), Raquel Lyra (PE) e Eduardo Riedel (MS). Os pessebistas, João Azevêdo (PB) e Renato Casagrande (ES), e já tinham vencido no primeiro turno com Carlos Brandão (MA).

Com o fim das eleições, os dois partidos começam a definir estratégias para se reconstruir a partir dos estados onde venceram e tentar se recuperar dos reveses sofridos em seus principais redutos eleitorais.

O PSDB sofreu a principal derrota em São Paulo, estado que governou por quase 28 anos, com pequenos períodos preenchidos por vices tampões. Já o PSB tinha como joia da coroa o estado de Pernambuco, onde venceu quatro disputas consecutivas.

A redução de peso dos dois partidos não se resumiu apenas aos estados considerados chave. Na Câmara dos Deputados, a bancada tucana diminuiu em quatro anos de 29 para 13 parlamentares. Já a do PSB, recuou de 32 para 14 no mesmo período.

No Senado, o PSDB terá quatro cadeiras nos próximos quatro anos, nenhuma delas conquistada nesta eleição. Os pessebistas, por sua vez, terão no Senado apenas Flávio Dino, ex-governador do Maranhão que se filiou à legenda apenas em 2021.

A retomada de forças deve passar pelas eleições municipais de 2024 e pelo desempenho dos governadores eleitos nos estados.

Nos últimos quatro anos, o PSDB viu a maior parte da sua base eleitoral migrar para o bolsonarismo. Agora, vive uma indefinição sobre a posição que adotará no governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Eduardo Leite e Raquel Lyra têm adotado cautela até o momento. Os dois têm realçado a necessidade de diálogo com o governo federal, mas sem defender uma participação no governo.

“A posição do PSDB ainda vai ser discutida no partido, [o presidente da sigla] Bruno Araújo chamou para uma conversa sobre o tema. O Brasil precisa estar unido para enfrentar o momento que a gente vive”, afirmou Raquel Lyra, em entrevista à Folha, na segunda (31).

Leite diz não ver espaço para a sigla na base de Lula, mas prega “uma oposição responsável”, “nunca buscando inviabilizar um governo”. Em entrevista à Folha na terça-feira (1º), falou em auxiliar no processo de “cicatrizar feridas” e clamou por uma relação republicana com o Planalto.

Ligado ao governador eleito Eduardo Riedel (MS), o deputado federal Beto Pereira (PSDB-MS) afirma que o momento é de rever os erros, entender os problemas e projetar o futuro. E diz que há conversas em curso para a formação de um bloco no Congresso com Cidadania, MDB e Podemos.

“Vamos tentar unir esses partidos em torno de um centro democrático. A ideia é que seja um bloco para dar o tempero necessário entre os dois lados”, diz Pereira, destacando que este grupo não faria oposição, mas seria independente do novo governo.

Entre líderes e parlamentares do partido, há uma expectativa de readequação das forças internas após a derrota em São Paulo. Até 2026, o PSDB estará na federação junto com o Cidadania, mas há possibilidade de a união avançar para uma fusão.

Nos pesos e contrapesos no ninho tucano, conta o número de deputados eleitos pelo PSDB de cada estado. São Paulo e Minas Gerais, que prevaleciam na bancada, elegeram respectivamente três e dois deputados federais. O restante da bancada vem de Mato Grosso do Sul (três), Rio Grande do Sul (dois), Bahia, Paraná e Goiás (um cada).

Na opinião de Lucas Redecker (PSDB), um dos dois deputados reeleitos no RS e presidente estadual da sigla, o ocaso da sigla em São Paulo é um “final de ciclo” que começou com a saída de Geraldo Alckmin, em 2021. Agora, o crescimento de um PSDB mais independente do Sudeste pode pavimentar a candidatura de Leite ao Planalto. O tucano tem 37 anos e não pode concorrer à reeleição em 2026.

“Vejo nele todas as qualidades e características para isso. Mesmo tendo perdido as prévias passadas [para João Doria], o processo deixou claro que ele é um líder nacional. Mas essa é uma escada que precisa ser subida degrau por degrau. O próximo degrau é repetir um bom mandato como governador”, diz.

Já o PSB vê como principal válvula de escape para os próximos anos a participação no governo Lula. O vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, é do PSB.

“Vamos viver quatro anos de mais diálogo e moderação na forma de fazer política. Isso abre caminho para o PSB, que vai ter um papel importante”, afirma o deputado federal eleito Pedro Campos (PSB-PE), irmão do prefeito do Recife, João Campos (PSB).

Integrantes do partido esperam a participação em ao menos dois ministérios do futuro governo Lula. São cotados, por exemplo, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, o ex-governador paulista Márcio França, além do próprio Alckmin, que pode acumular funções.

Um ministério para Paulo Câmara é visto como uma sobrevida para o PSB de Pernambuco, grupo que teme uma eventual perda de protagonismo.

A partir da possível atuação na Esplanada, o PSB pretende fortalecer os palanques municipais para as eleições de 2024. O partido pretende lançar candidatos a prefeito em São Paulo, Recife, Rio de Janeiro, Curitiba, Rio Branco e avalia o cenário em São Luís.

A eleição de apenas 14 parlamentares na Câmara foi considerada muito ruim pelo presidente do PSB, Carlos Siqueira, em conversas com interlocutores. Parte da bancada, por outro lado, avalia que foi um erro o partido não ter ingressado na federação com PT, PV e PC do B.

O partido deve convocar integrantes da Executiva do partido para um debate reflexivo sobre o cenário eleitoral, nas próximas semanas.

“Estamos em uma fase de avaliação para identificar os erros e corrigir os rumos. Temos que exercer a autocrítica”, afirma o deputado federal Danilo Cabral (PSB), derrotado na disputa pelo Governo de Pernambuco.

Folha