Richarlison ensina ética e futebol a Neymar
Eduardo Guimarães
Sempre me perguntei por que alguém tão rico quanto Neymar deixaria de pagar impostos a ponto de ser processado no Brasil e no exterior por sonegação. Seguramente é por razão fútil, por egoísmo e avareza. E falta de consciência social.
Neymar venceu na vida financeira e profissional, mas continua um mendigo em termos de ética. E a prova do desprezo do atleta pela ética veio por vias indiretas, através de sua opção política por Jair Bolsonaro, outro insensível ao sofrimento do povo brasileiro.
Apesar da origem humilde, Neymar não se preocupa com nada mais além de colecionar namoradas embevecidas, boa parte das vezes, pela conta bancária e pelos luxos que ele pode proporcionar.
E na bola? Apesar de não ser um grande ‘connoisseur’ do futebol, não vejo tudo isso no pavão futebolístico. É até um bom jogador, mas poucos negam que ele prefere apelar ao “cai-cai” para explicar desempenhos aquém do esperado.
E é na Copa do Mundo no Catar que apareceu um atleta que, além de estar ensinando futebol a Neymar, ensina ética.
Nossa Seleção brilhou na estréia na Copa. Que jogo. Que equipe. Neymar, apagado e sempre metido no cai-cai, não brilhou mais que todos os outros dez atletas em campo. Felizmente, quem brilhou mais foi um jovem muito mais humilde e consciente, Richarlison, um nome que começa a ser inscrito na história do futebol.
O segundo gol desse não tão reconhecido atleta revela um talento que Neymar não mostrou em toda a sua carreira, mas não é isso o que chama atenção. É o que está na cabeça e nas palavras de Richarlison que acaricia a alma.
Circula por aí uma entrevista de Richarlison ao jornal O Globo dada em 2020. O texto mostra que não é só futebol que ele pode ensinar a Neymar, um bolsonarista irresponsável, incapaz de se dar conta de todo o mal que seu político de estimação tem praticado.
Com a palavra, Richarlison:
“(…) Ultimamente, em toda entrevista que eu dou, uma pergunta é certa: ‘Por que você se posiciona?’ Mas talvez o melhor fosse ‘Por quem você se posiciona?’ É muito importante que isso fique claro.
As pessoas de onde eu venho não têm voz e nem vez. Poucos, até hoje, procuraram saber o que é importante ou o que falta para que elas vivam melhor. No Brasil é assim, muitos só recebem atenção em época de eleição.
Falando nisso, vocês sabem, eu nunca tive um partido político. Para ser sincero, nem me interesso, porque não preciso de um para saber que é errado faltar energia elétrica por 22 dias em um estado inteiro. Ou ainda que é um direito básico ter comida na mesa, saúde, educação e moradia.
Também nunca entrei num laboratório. Ainda assim, eu posso dizer a todos que a ciência é a nossa única saída em todos os momentos. Eu vejo isso no meu dia a dia como jogador. Meu corpo precisa da ciência e da medicina para que eu possa fazer o que mais amo.
Bom, eu sequer terminei meus estudos. Mas não é necessário um diploma para enxergar que muita gente é intimidada, encurralada e morta pelo racismo todos os dias no Brasil. Li numa matéria que 75% da população pobre é preta, e que 76% das pessoas mortas todos os anos também são pretas. Coincidência? Não precisa ser o rei da matemática para concluir o óbvio (…)”.
Poucas vezes a vida nos dá lições poéticas e edificantes, mas a lição que reside na mente e nos pés de Richarlison é um presente dos deuses. Dá esperança a todos nós em relação a essa espécie tão questionável quanto é a espécie humana.
Viva Richarlison! Viva o Brasil!
Redação