STF acha que Bolsonaro quer guerra
Foto: Reprodução
Os ministros do Supremo Tribunal Federal enviaram diversos recados nos últimos dias a Jair Bolsonaro e seus aliados mais próximos, todos numa única direção: se quiser contar com a boa vontade da corte depois de deixar o governo, o presidente da República deve parar de insuflar questionamentos sobre o resultado das urnas e atuar para desmobilizar os manifestantes que estão aglomerados nas estradas e nas portas dos quartéis Brasil afora, pedindo intervenção militar.
O portador da mensagem, na maior parte das vezes, foi o ministro Gilmar Mendes, decano da corte, que se reuniu com o presidente da República na terça-feira da semana passada para uma longa conversa, e também falou com ministros e pessoas da confiança de Bolsonaro.
No encontro com o presidente, que ocorreu na véspera da apresentação do relatório do PL que subsidiou uma ação pedindo a anulação de parte dos votos do segundo turno, Gilmar não colocou as coisas nesses termos, pelo contrário.
Mas disse que cumpre a Bolsonaro exercer suas funções constitucionais – e que, ao invés de questionar o resultado das urnas, ele deveria estar dedicando seus últimos dias de mandato à organizar a oposição a Luiz Inácio Lula da Silva.
Gilmar ainda sondou o humor do presidente sobre a transição de governo e as manifestações. Na volta da conversa, relatou aos colegas de corte que Bolsonaro estava tranquilo, mas nem tinha interesse em discutir a questão do relatório e da ação do PL e tampouco demonstrou qualquer intenção de pedir que seus seguidores saíssem das ruas.
Em outra frente, o próprio Gilmar conversou com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, com o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e com o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Jorge Oliveira, nomeado por Bolsonaro e amigo do presidente da República.
Nessas ocasiões, foi mais enfático. Argumentou que na prática o governo acabou e que o ideal seria que o presidente usasse os dias que restam para acabar com qualquer requisito de tumulto institucional antes de deixar o Planalto — e, claro, demonstrar que merece um crédito de confiança do Supremo.
Ninguém falou da possibilidade de Jair Bolsonaro ou de seus filhos serem presos após o final do governo. Nem precisava. O medo que o presidente da República tem de ser punido pelo Supremo no âmbito do inquérito das fake news ou no das milícias digitais, é conhecido.
Por isso mesmo, é assunto constante das conversas de seus aliados com interlocutores de fora do governo. Quando falam com integrantes do STF, eles sempre argumentam que Bolsonaro se sente injustiçado pela corte para defendê-lo.
Nesse contexto, preocupa os ministros a ideia sempre disseminada nos protestos de que o presidente da República está esperando as aglomerações populares “engrossarem” para agir.
A violência empregada em alguns locais — como no Mato Grosso, onde vários pontos da BR-163 foram bloqueados e ônibus queimados — também assusta.
Tanto os ministros do Supremo como o círculo mais próximo de Lula temem que as manifestações continuem ocorrendo mesmo depois da posse do petista. Nesse caso, o novo governo já teria que começar desmobilizando protestos, cenário que o presidente eleito quer evitar.
Tanto Ciro como Jorge Oliveira e Valdemar se propuseram a ajudar, mas não se sabe até que ponto vão conseguir demover Bolsonaro de seu ânimo beligerante.
Depois de três semanas recluso no Palácio da Alvorada, recebendo poucas visitas e falando menos ainda, Bolsonaro voltou a aparecer em público no final de semana, em uma formatura da Academia Militar das Agulhas Negras. Mas passou o evento todo calado.
Valdemar e seus aliados do PL tem tentado também convencer o presidente a aproveitar os últimos dias do mandato para defender seu governo e fazer propaganda de seus feitos. “Se ele não fizer, quem vai fazer por ele?”, argumenta um correligionário. Não tiveram sucesso nem nisso.
Difícil acreditar que venham a conseguir fazer com que o último ato de Bolsonaro seja o de desmobilizar os atos golpistas.