STF e TSE detalham estrutura dos golpistas
Foto: Pedro Ladeira/Folhapress
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o Supremo Tribunal Federal (STF) apuram a existência de uma organização criminosa formada principalmente por empresários, que seriam responsáveis por patrocinar e coordenar bloqueios nas rodovias de todo o país, em protesto de caráter antidemocrático contra a derrota do presidente Jair Bolsonaro (PL) nas urnas. Dos 1.079 bloqueios em estradas federais pelo país iniciados após a eleição de 30 de outubro, três continuavam parcialmente ativos até o final da noite de terça-feira, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Em reunião realizada nesta terça-feira, os procuradores-gerais de Justiça de São Paulo, Santa Catarina e Espírito Santo apresentaram ao presidente da Corte, ministro Alexandre de Moraes, informações que podem levar à identificação dos responsáveis pela manutenção dos pontos de interdição. As investigações iniciais apontam para um “fluxo financeiro” envolvendo vários empresários no Brasil, com o propósito de garantir que manifestantes permaneçam obstruindo as estradas, em descumprimento a decisões judiciais.
A estrutura necessária para tanto teria sido oferecida aos manifestantes: banheiros químicos, transporte e alimentação. “Ainda são dados incipientes para informarmos quantos empresários ou qual o valor envolvido. Mas vamos fazer um grande cruzamento de dados. O TSE vai nos fornecer algumas informações, nós trouxemos outras. Vamos trabalhar em conjunto contra qualquer movimento que possa atentar contra a democracia”, disse o procurador-geral de Justiça de São Paulo, Mário Sarrubo. Também será apurado se os manifestantes que protestam em frente aos quartéis o fazem de forma espontânea ou a mando da organização criminosa, após terem sido dispersados das rodovias.
Segundo o Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP), o apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF) ao movimento foi “absolutamente localizado” e não houve conivência generalizada da instituição. Outra frente de investigação se destina à atuação do empresariado para boicotar empresas que defendem o respeito ao resultado da eleição presidencial, vencida por Luiz Inácio Lula da Silva. “A divulgação dessas listas [com nomes das empresas] representa um embaraço à livre iniciativa do comércio”, disse a procuradora-geral de Justiça do Espírito Santo, Luciana Andrade.
Em São Paulo, uma investigação conduzida pela Polícia Federal (PF) pode ajudar a identificar empresários e outros suspeitos de integrar a suposta organização criminosa que financiaria a realização de bloqueios em rodovias paulistas e manifestações em frente a quartéis, conforme apurou o Valor.
O inquérito criminal é conduzido em segredo de Justiça e conta com interceptações telefônicas e quebras de sigilos bancários. Ele servirá como linha auxiliar no rastreamento dos recursos financeiros disponibilizados para viabilizar atos antidemocráticos no Estado de São Paulo.
A investigação da PF deverá ser compartilhada com promotores do MP-SP. O inquérito conta com atuação de um procurador do Ministério Público Federal (MPF).
“Existe um movimento organizado que teve início nas rodovias. Essas pessoas então passaram a ir para a frente de quartéis, unidades militares, e estamos acompanhando. Há uma grande organização criminosa com funções pré-estabelecidas, que conta com financiadores e arrecadadores de recursos”, disse Sarrubo ao Valor. “Também existem mensagens com números de PIX. Estamos estabelecendo quem exercia qual função”, afirmou o procurador de São Paulo, que disse ainda ter buscado apoio do procurador-geral da República, Augusto Aras, para que o MPF colabore com os promotores paulistas, compartilhando informações.
Uma força-tarefa foi criada em São Paulo para investigar os atos golpistas pós-eleições e conta com membros do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e das promotorias de Habitação e Urbanismo da capital paulista.