Xandão calou a boca das redes bolsonaristas
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Após mais de vinte dias da derrota de Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno das eleições presidenciais, apoiadores se esforçam nas redes para manter o questionamento dos resultados em alta, mas tem enfrentado cada vez mais dificuldades. Até mesmo a ação do presidente do PL Valdemar Costa Neto de ir ao Supremo Tribunal Federal para pedir a invalidação da maior parte dos votos do segundo turno da disputa presidencial não se destacou.
As manifestações dos bolsonaristas estavam potentes nos dias que sucederam as eleições. Atualmente, mesmo com as tentativas de reavivar os protestos, a base não tem engajado no Twitter. Um levantamento da consultoria Bites feito com exclusividade para o jornal O Globo aponta que, desde o último dia 4, o movimento nas redes está em declínio.
Nesta terça-feira, o pedido de Valdemar Costa Neto gerou um pico de 526 mil menções associadas à anulação de votos e falsas denúncias de fraude nas urnas, o que representou 2,7% do conteúdo produzido em português na plataforma. Esta quantia é igual a um quinto do engajamento do dia 1º de novembro. Na data, o incentivo aos atos antidemocráticos gerou 2,8 milhões de menções, 11,4% da produção brasileira na rede social naquele dia. Até o dia 3, o volume ficou acima de 1 milhão.
Quando levado em consideração o período das eleições, os protestos do dia 7 de setembro movimentaram 1,3 milhões de atuações, mais que o dobro do endosso atual. Segundo o diretor-adjunto da Bites, André Eler, a queda no engajamento reflete a falta de um comando central.
— Bolsonaro tem dado sinais dúbios e não tem organizado de forma explícita essas manifestações. Por mais que os bolsonaristas se animem com a contestação do PL, por exemplo, ainda é um sinal muito frágil por não ter uma declaração de apoio do presidente. Há uma resignação da classe política, o que torna difícil uma resposta coesa tanto nas ruas quanto nas redes sociais — explica.
Nos últimos dias, os trending topics — assuntos mais comentados da plataforma — reúnem temas ligados à Copa do Mundo. Opositores do governo, como a deputada federal Joice Hasselmann (PSDB-SP), notaram o principal opositor da base bolsonarista: “Um dos temores de Bolsonaro é a Copa do Mundo enfraquecer a mobilização na porta dos quartéis”, publicou a parlamentar.
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Embora a hashtag #caminhoneiros tenha tido 200 mil menções nos últimos 7 dias, ela já foi ultrapassada por #fifaworldcup, com 226 mil. A segunda hashtag levantada por apoiadores do presidente com mais interações é #sosFFAA, com 131 mil menções nos últimos 7 dias, atrás de mais uma da Copa (#qatarworldcup2022, com 164 mil interações).
Os dados refletem o cansaço em continuar pautando o debate digital, na mesma medida em que outros assuntos tomam a atenção do público. Diante da ressaca dos eleitores, novas estratégias são utilizadas. Uma plataforma americana de monitoramento de contas falsas no Twitter, o Bot Sentinel, identificou, entre o dia 22 e 23, ao menos 168 tuítes que mencionam os termos “forças armadas”, “SOS forças” e “Supremo” publicadas por contas consideradas suspeitas.
Em outras plataformas, deputados federais eleitos coordenam ações no intuito de manter de pé mobilização. É o caso de Cabo Gilberto (PL-DF) que, nesta terça-feira, lançou uma campanha no Instagram para que a conta oficial do Exército Brasileiro ultrapasse o número de seguidores do presidente eleito Lula (PT).
Apesar da resistência de quórum em relação aos questionamentos eleitoral, no passado, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro já inundaram as redes com postagens em endosso a ações que colocavam em xeque as urnas eletrônicas.
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Em agosto de 2021, quando o voto impresso foi derrotado por 23 votos a 11 na comissão especial da Câmara dos Deputados, bolsonaristas estiveram com força nos canais digitais para defender a bandeira.
No YouTube, postagens sobre o tema nos 270 maiores canais de direita somaram 203 vídeos entre abril e o desfecho no Congresso Nacional. O número é mais de oito vezes maior do que os 24 vídeos compartilhados nos cinco meses anteriores. E grande parte deles disseminava a narrativa de que havia fraudes no sistema eleitoral brasileiro. Os dados são de um relatório da consultoria Novelo Data.
A perda de influência da pauta também se verificou no setor evangélico. De acordo com relatório produzido pela Casa Galileia entre os dias 14 e 20 de novembro, os assuntos políticos perderam força no Facebook, Instagram e Youtube. Nesta última plataforma, mais da metade dos vídeos de maior engajamento são orações.
Do outro lado, alguns pastores que integram a base bolsonarista seguem nas redes incentivando os atos antidemocráticos e engajando as menções em torno do relatório produzido pelo presidente do PL.