Bolsonaro extinguirá Comissão só para “causar”
Foto: Stephanie Rodrigues/g1
O bolsonarismo guardou um factoide para a reta final do governo. Quer extinguir a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, criada em 1995 pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.
A ex-ministra Damares Alves entregou o órgão ao advogado Marco Vinicius Pereira de Carvalho, admirador do golpe e da ditadura militar. Ele convocou uma reunião para a próxima semana com o objetivo de decretar o fim do colegiado.
A notícia, revelada pelo jornal O Estado de S. Paulo, produziu as reações esperadas. A Comissão Arns recorreu ao Ministério Público Federal contra o que classificou como uma ameaça ilegal. A Procuradoria lembrou que o Brasil ainda não cumpriu suas obrigações com a Corte Interamericana de Direitos Humanos, que determinou a busca e a identificação de ossadas dos mortos na Guerrilha do Araguaia.
Na prática, a canetada de Carvalho terá efeito limitado. Se for mesmo extinta, a comissão tende a ser recriada pelo novo governo no início de janeiro. A intenção do bolsonarismo é outra: chocar a opinião pública e provocar indignação na esquerda. O capitão vive disso desde 1991, quando debutou em Brasília como deputado do baixo clero.
No quarto mandato na Câmara, Jair Bolsonaro mandou imprimir um cartaz com a inscrição “Desaparecidos do Araguaia: Quem procura osso é cachorro”. A peça foi pendurada na porta de seu gabinete. Rendeu fotos nos jornais e discursos inflamados na tribuna.
Há dois dias, o futuro ex-presidente usou o Diário Oficial com o mesmo objetivo. Nomeou André Porciuncula, capitão da PM baiana, como secretário especial da Cultura. O bolsonarista se notabilizou como um provocador de extrema direita. Em março, tentou direcionar verbas do audiovisual à produção de filmes e podcasts para incentivar a compra de armas.
Porciuncula foi o número dois do ex-secretário Mário Frias, ex-galã de “Malhação” que reapareceu como bobo da corte bolsonarista. O PM deixou o cargo para se candidatar a deputado, mas não conseguiu se eleger. Ao resgatá-lo no apagar das luzes do governo, Bolsonaro faz o deboche final com os artistas — e tenta atrair os últimos minutos de fúria e atenção.