Janja deve virar primeira-dama mais atuante da história
Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo
Ao despachar com a equipe de transição no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), em Brasília, a futura primeira-dama Rosângela Silva, a Janja, ensaia o protagonismo que terá no futuro governo. Além de ser a responsável pela organização da cerimônia de posse, ela tem influenciado na escolha de nomes e na discussão de políticas públicas das futuras pastas da Cultura, Mulheres e Direitos Humanos. Até mesmo a definição da nova diretoria da Itaipu Binacional, estatal na qual trabalhou por 15 anos, deve passar pelo crivo da mulher do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva.
O movimento mais recente com as digitais de Janja foi a indicação do secretário nacional de Cultura do PT, Marcio Tavares, para ser o número dois do Ministério da Cultura. Tavares ganhou a confiança da futura primeira-dama após os dois se aproximaram durante a organização de atos da campanha eleitoral com a presença de artistas. A cantora Margareth Menezes, escolhida para comandar a pasta, tinha outros nomes em mente.
No caso de Itaipu, Janja tem amigos, conhece os servidores de carreira, as demandas da empresa e, de acordo com auxiliares, costuma ser consultada por Lula quando o assunto se refere à hidrelétrica. De 2005 a 2020, a socióloga trabalhou nas áreas de Assistência da Diretoria-Geral, Assessoria de Energias Renováveis, Assessoria de Responsabilidade Social e Divisão Regional de Recursos Humanos em Curitiba. Cargos na diretoria e no conselho da estatal, porém, costumam ser usados para contemplar aliados políticos.
E é de Itaipu também uma das apostas da futura primeira-dama para o Ministério da Mulher. A professora paranaense e ex-diretora da hidrelétrica Maria Helena Guarezi, filiada ao PT, trabalhou com Janja em 12 dos 15 anos em que a socióloga esteve na empresa. A professora integrou o grupo de trabalho de Mulheres durante a transição.
Embora a autoridade da primeira-dama não seja questionada publicamente, a forma como ela conduz algumas indicações tem gerado ruído no entorno do presidente eleito. No caso da pasta das Mulheres, a avaliação de integrantes do PT é que a definição de quem vai comandar a pasta deve ser alvo de debate com a militância do partido e movimentos sociais que atuam na área, em vez de uma escolha pessoal. A defesa é por um nome que tenha protagonismo nos grupos de discussão e ligação com a academia. A antropóloga Debora Diniz é uma das citadas.
Quem convive com a futura primeira-dama, contudo, assegura que ela deverá dar palpite em diversos ministérios e terá interlocução com vários nomes do primeiro escalão.
— Temos que aproveitar isso para fazer gestão, ajudar no desenvolvimento do país e (garantir) que as políticas do governo federal desçam para os estados e municípios. A Janja pode pautar política porque a bandeira que ela abraçar, quem é o ministro que vai dizer não? As causas que forem abraçadas por ela terão força. Podem até reclamar e não gostar, mas terão força — afirma a vice-governadora do Sergipe, Eliane Aquino (PT), integrante do grupo de Direitos Humanos na transição.
Janja vai quase diariamente ao CCBB e frequenta a sede do governo de transição mais que Lula, que tem despachado a maior parte do tempo de um hotel na área central de Brasília.
A partir de janeiro, a futura primeira-dama ganhará uma sala no Palácio do Planalto, a poucos metros do gabinete presidencial. Ela tem avaliado nomes para formar a equipe com quem vai trabalhar. Atualmente, só tem uma assessora pessoal.
Pessoas próximas ao casal afirmam que essas funções deverão ser preenchidas por assessores com os quais Janja já trabalhou na campanha, amigas do Paraná e petistas que estiveram com ela durante a vigília “Lula Livre”, na época em que o presidente eleito esteve preso em Curitiba.