Lula vai proibir bolsonaristas nos quartéis
Foto: Camila Costa da Cunha/Estadão Conteúdo
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva quer pôr fim aos protestos, na entrada de quartéis, que contestam o resultado das urnas e pedem intervenção militar no País. A remoção de manifestantes será a primeira orientação de Lula na conversa com os novos comandantes-gerais das Forças Armadas, nos próximos dias.
Antes mesmo dos atos de vandalismo cometidos em Brasília na noite de segunda-feira, dia 12, após a diplomação do presidente eleito, Lula já havia compartilhado com parlamentares de sua base aliada que trataria com os generais do plano de encerrar as aglomerações e acampamentos no entorno das organizações militares.
No fim da semana passada, Lula recebeu a cúpula do Avante no hotel onde despacha, em Brasília. O encontro ocorreu na quinta-feira, 8. Estiveram com o presidente eleito, entre outros, os deputados federais André Janones e Luís Tibé, ambos de Minas Gerais.
Na ocasião, Lula disse a eles que começaria no dia seguinte a apresentar seus novos ministros. Afirmou, então, que apontaria José Múcio Monteiro como novo titular da Defesa e que gostaria de conversar com os futuros comandantes logo, já que acabar com os atos nos quartéis era uma de suas prioridades. Lula disse aos líderes do Avante que considera as concentrações um “desrespeito” às próprias Forças Armadas.
Há no cenário uma possibilidade de que os comandantes apontados por Lula assumam as respectivas Forças antes da hora. Isso porque os comandantes atuais deram sinais de que pretendem deixar os cargos que exercem dias antes da posse de Lula, em 1º de janeiro de 2023. Mesmo que não sejam nomeados por Jair Bolsonaro, eles poderiam comandar interinamente, como oficiais de quatro-estrelas mais antigos da tropa.
Os oficiais-generais que assumirão Exército, Marinha e Aeronáutica já foram selecionados por José Múcio Monteiro. Lula planejava conversar com o general Julio Cesar de Arruda (Exército), com o almirante Marcos Olsen (Marinha) e com o brigadeiro Marcelo Damasceno (Aeronáutica) na tarde de sexta-feira, dia 9. O encontro foi adiado a pedido de Múcio, segundo integrantes do governo, para que ele pudesse fazer uma reunião prévia com o atual ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira. A conversa ocorreu nesta terça-feira, 13. Além de Oliveira, participaram da reunião integrantes da alta cúpula da Defesa, como o secretário-geral Sérgio José Pereira, e o chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, general Laerte de Souza Santos.
Como o Estadão mostrou, os comandantes atuais do governo Bolsonaro publicaram carta em que expressam apoio às manifestações de inconformidade com o resultado das eleição, desde que não ocorram “excessos”. Eles ignoraram no texto dirigido “ao povo e às instituições” o teor intervencionista e o clamor por um golpe de Estado perpetrado por militares.
Um dia antes da publicação, o comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, determinou aos generais da ativa que não reprimissem pela força a realização de marchas, concentrações e discursos diante do Quartel-General (QG) em Brasília e nas unidades militares em todo o País. Mas ordenou que eles não estimulassem os atos.
No entanto, oficiais e praças da ativa e da reserva já foram flagrados incentivando e participando dos acampamentos, a despeito da ordem superior.
Um parlamentar que aconselha Lula no diálogo com a caserna disse ao Estadão que não se trata de um pedido, mas da necessária articulação, já em andamento, para acabar com as aglomerações e que o maior problema é justamente a participação de integrantes da reserva e da família militar nos atos, bem como o apoio dos Clubes Militares.
O assunto tem de ser levado aos generais porque os atos ocorrem em perímetro de segurança de área militar, sob a responsabilidade dos comandos das Forças Armadas – e não das Secretarias de Segurança pública dos Estados. Assim, o patrulhamento é controlado pela Polícia do Exército.
Na madrugada desta terça-feira, dia 13, o secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Julio Danilo, afirmou que a manutenção ou não do acampamento no QG em Brasília será “reavaliada” após os atos de vandalismo registrados horas depois da diplomação de Lula, na sede do TSE.
Ele ponderou, no entanto, se tratar de área militar, e que ao governo local cabem apenas ações acessórias, de ordem pública e limpeza. O delegado garantiu que os envolvidos nos crimes serão alcançados, onde quer que estejam.