Partidos de Moro e Bolsonaro querem rifar ex-juiz

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Foto: Nelson Almeida/AFP

Há alguns dias, o presidente eleito, membros da equipe de transição e líderes do União Brasil discutiam a melhor estratégia política para aprovar, sem sobressaltos, a PEC que vai permitir o pagamento do Bolsa Família a partir do ano que vem. Feitas as simulações de voto, ficou evidente a necessidade de o futuro governo ampliar sua base de apoio no Senado. Na legislatura que começa em fevereiro, calcula-se que 46 dos 81 parlamentares da Casa assumirão uma postura de oposição ou de independência em re­lação ao Planalto. Ciente disso, Lula arti­cu­la alianças com alguns partidos. O União Brasil é dono da terceira maior bancada do Congresso, elegeu 59 deputados e poderia somar dez senadores ao bloco. No momento em que se fazia essa contabilidade, um dos presentes lembrou, em tom de brincadeira, que um dos senadores eleitos pelo partido era Sergio Moro, o ex-juiz da Lava-Jato que prendeu Lula e parte da antiga cúpula do PT em 2018. O comentário poderia ter gerado um tremendo constrangimento, mas, para surpresa de todos, não foi o que aconteceu. “Será divertido ver o Moro defendendo o meu governo”, disse o petista, antes de uma gargalhada.

A aliança entre o PT e o União Brasil ainda é uma hipótese remota, envolve negociações delicadas que passam pelo compromisso de trocar apoio por cargos e enfrenta resistências. O partido é resultado da fusão entre o PSL, que elegeu Jair Bolsonaro em 2018, e o DEM, a legenda que Lula disse um dia que precisava ser extirpada. Mas a política, como as nuvens, se move conforme o vento. No caso específico de Moro, apesar da espirituosidade do presidente eleito, a possibilidade de uma aproximação não existe. Por isso, depois de lembrar do problema, os representantes da ala (sempre) governista do União Brasil se apressaram em apontar a provável solução: convencer ou mesmo forçar o ex-juiz a deixar o partido. Logo após a reunião, o ex-presidente do Senado Davi Alcolumbre (União-AP) disse a interlocutores estar pronto para ele próprio liderar este movimento.

Moro ouviu rumores sobre esse plano e, na quarta 7, reuniu-se com o vice-presidente da legenda, Antonio Rueda, e tratou do assunto. Foi informado de que realmente há conversas com o PT e Lula, mas que poderia ficar tranquilo, já que a tendência defendida pelas principais lideranças do União Brasil é a de manter uma posição de independência em relação ao futuro governo. A ver.

Em outro percalço surgido no horizonte, a ala paranaense do PL acaba de entrar na Justiça com um pedido para tentar cassar o mandato do ex-juiz. O argumento é que Moro iniciou sua campanha quando ainda era filiado ao Podemos e pretendia concorrer à Presidência. No limite do prazo, ele foi para a União Brasil e se lançou ao Senado. Se não bastasse, o Tribunal Regional Eleitoral do Paraná deve julgar na próxima semana a prestação de contas de sua campanha depois de a área técnica da Corte ter elaborado um parecer em que recomenda a rejeição. Entre as irregularidades encontradas estão divergências em notas fiscais, erros na contratação de militantes e supostas ilicitudes em assinaturas de contratos.

O ataque do PL tem poucas chances de prosperar, assim como a ação do TRE, mas a ameaça de rompimento de Moro com o União Brasil é real, apesar das promessas de Rueda. Uma eventual saída dos quadros partidários teria desdobramentos importantes. Rosangela Moro, a esposa do ex-juiz, foi eleita deputada federal pelo União em São Paulo. Ela certamente acompanharia o marido numa eventual mudança de legenda. Ao contrário do senador, porém, um deputado só pode trocar de partido com autorização da Justiça, se houver a fusão com uma nova legenda, se provar que a sigla se desvirtuou de seus ideais ou que há grave discriminação ao filiado. Não é um bom momento para o casal comprar mais essa briga. Romper com o partido logo na largada não é uma boa estratégia e só aumentaria a já extensa lista de confusões no tumultuado início da carreira política do ex-juiz.

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