Violência bolsonarista pode desidratar posse de Lula

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Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles

No dia 1º de janeiro de 2023, milhares de pessoas se reunirão no centro de Brasília para acompanhar a cerimônia de posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o terceiro mandato como presidente da República. No entanto, depois dos atos violentos que eclodiram na capital na última segunda-feira (12/12), apoiadores do petista relatam receio de que os episódios de hostilidade se repitam.

Organizadores do evento estimam que entre 100 mil e 150 mil pessoas devem ir à capital federal para o evento. O público pode ser maior do que o da posse de Jair Bolsonaro (PL), em 2019, que contou com 115 mil espectadores. Além da solenidade oficial, a equipe prepara o Festival do Futuro, uma festa com a presença de mais de 20 artistas e dois palcos.

A Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) prevê que os estabelecimentos da categoria tenham ocupação de 90% em dezembro. Alguns hotéis da capital federal já estão sem vagas para o dia 1º de janeiro.

O cientista político e estudante de filosofia Eduardo Gonçalves, de 26 anos, morador de Brasília, planejava comparecer ao evento pela primeira vez. Porém, depois de ficar ilhado na universidade onde estuda por causa da rebelião dos bolsonaristas, ele está reavaliando a participação.

“Estávamos vendo as notícias, perplexos. Helicópteros passando e nenhum ônibus andando… Diversos alunos tiveram que dormir na própria universidade, porque não tinham como voltar para casa”, lembra o jovem. “Foi um clima de muito desespero, e isso causou uma grande insegurança de como a atmosfera da posse pode acabar sendo muito pesada”, pondera.

Eduardo afirma que tem receio de que haja algum tipo de ataque contra o presidente eleito. Nas redes sociais, bolsonaristas insatisfeitos com o resultado da eleição têm proclamado que Lula “não vai subir a rampa”.

O cientista político também teme pela própria segurança e lamenta a possibilidade de o clima de tensão atrapalhar a festa. “Estamos saindo de um governo que desincentiva a cultura e o acesso a ela. Então, começar assim [com os shows] seria incrível”, comenta ele. “Ao mesmo tempo, precisamos pensar na nossa própria segurança, pois, como foi visto nos últimos dias, a polícia não está protegendo a população como deveria ser.”

A cerimônia de posse do presidente eleito contará com 100% do efetivo da Polícia Militar do Distrito Federal. A corporação determinou que militares da ativa, prestadores de serviço e servidores civis comissionados que atuam no expediente administrativo fiquem mobilizados em 1º de janeiro.

A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) informou que o plano para garantir posses tranquilas ao novo presidente da República e ao governador reeleito de Brasília Ibaneis Rocha (MDB) está em fase de elaboração.

A segurança do evento é preparada pela Polícia Federal em conjunto com GSI, Congresso, Supremo Tribunal Federal (STF), Itamaraty e Comando Militar do Planalto (CMP). A SSP-DF participa da coordenação da cerimônia, em parceria com os órgãos federais.

Vitor Zaupa, 26, designer gráfico e secretário da Juventude do PT no DF, garante que o episódio de violência não despertou receio de comparecer ao evento, mas acendeu um alerta. “Infelizmente, a violência e os ataques à democracia têm sido a política do bolsonarismo há anos. Segunda foi apenas mais uma amostra disso”, argumenta.

Mesmo diante do cenário, Vitor se diz animado para acompanhar a posse de Lula, para quem fez campanha durante as eleições. Em 2002, aos 6 anos, ele acompanhou a cerimônia pela primeira vez, ao lado do pai. Foi também a primeira vez em que Lula recebia a faixa presidencial.

“Chama atenção a falta de capacidade do governo do DF em desmobilizar e repreender esses atos e os acampamentos antidemocráticos, ação diferente do que já vimos em atos progressistas, de estudantes e trabalhadores, com reinvindicações democráticas. Mas não é algo que me desmotive a estar na posse, principalmente porque será o dia de confirmação da vontade do povo na volta de Lula”, avalia o designer.

“Esse é um momento histórico para o Brasil e principalmente para a nossa democracia. É a volta da esperança e a expressão da vontade do povo brasileiro nas urnas.”

O sentimento é o mesmo para a estudante de enfermagem Júlia Eduarda Porto Lins, 21, que vai acompanhar a posse pela primeira vez. Ela diz que teve medo de ir ao evento depois dos ataques, mas não pretende abrir mão da comemoração.

“Minha mãe pediu para que eu não fosse, em virtude da minha segurança, mas acredito que haverá um esquema de segurança muito grande. Além disso, acho que eles [bolsonaristas] querem isso mesmo: impor medo”, observa.

Ela afirma que vai adotar medidas de segurança, como andar em grupo e levar poucos pertences no dia do evento, para evitar dores de cabeça. “Como cidadã, acredito que tenho direito, e não vou limitar uma vontade minha por causa de ameaças golpistas.”

Na última segunda, manifestantes bolsonaristas tentaram invadir a sede da Polícia Federal, entraram em confronto com agentes da corporação e da Polícia Militar, atiraram paus, pedras e placas de trânsito, além de atearem fogo em carros e ônibus.

Os vândalos alegaram que as ações ocorreram em resposta à prisão de um indígena bolsonarista. Os atos transformaram o centro de Brasília em campo de guerra e deixaram um rastro de destruição por quilômetros. Apesar do grau de violência, ninguém foi preso.

No mesmo dia, o futuro ministro da Justiça de Lula, Flávio Dino, convocou uma entrevista coletiva para tratar dos ataques. Ele assegurou que o episódio não vai impedir a cerimônia de posse. “Estamos aqui para emitir uma mensagem de tranquilidade acerca do principal: a diplomação presidencial ocorreu como manda a lei. O presidente Lula, hoje [segunda-feira, 12/12], oficialmente, foi diplomado e está apto a tomar posse em 1º de janeiro”, disse Dino à imprensa.

Conforme noticiou o Blog do Noblat, do Metrópoles, Lula e a futura primeira-dama, Janja da Silva, vão desfilar em um carro aberto, um Rolls-Royce, pela Esplanada dos Ministérios. Ficou decidido que Geraldo Alckmin (PSDB), vice-presidente eleito, e a esposa dele, Lu Alckmin, vão desfilar logo atrás, em um carro semelhante.

A previsão é que os veículos saiam da Catedral às 14h30. Depois, Lula e Alckmin vão para o Congresso, onde subirão a rampa e tomarão posse em uma sessão na Câmara.

O Congresso Nacional divulgou, na quinta-feira (15/12), o roteiro para a sessão, que terá início às 15h. O documento define horários para a chegada dos empossados, dos chefes de Estado (até o momento, são 17 líderes internacionais confirmados), das autoridades e dos convidados.

O roteiro também estabelece a ordem das etapas da sessão de posse: compromisso constitucional, assinatura do termo de posse e pronunciamentos do presidente da mesa do Congresso e presidente do Senado, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e do presidente Lula – que, na ocasião, já estará empossado.

A cerimônia terá início às 15h, com a sessão solene de posse presidencial, e será finalizada às 16h20, com a saída do presidente Lula e do vice Alckmin para o Palácio do Planalto.

Metrópoles