Bolsonaristas ameaçam mulheres de esquerda

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Foto: Câmara Municipal de São Miguel do Oeste e Reprodução

Vereadoras de esquerda em cidades onde Jair Bolsonaro (PL) venceu Lula (PT) nas eleições contaram ao UOL Notícias como tem sido o trabalho de oposição desde que o petista foi eleito presidente.

Minorias em Câmaras compostas sobretudo por homens de partidos aliados de Bolsonaro, elas afirmam que tiveram que mudar suas rotinas por medo de intimidações e que evitam falar sobre a política nacional com os colegas — além de serem alvo de ameaças e pedidos de cassação.

A vereadora Maria Tereza Capra (PT), 53, diz que precisou deixar São Miguel do Oeste (SC) no início de novembro devido às ameaças que recebeu, após criticar supostos gestos nazistas que ocorreram durante um ato contra a derrota de Bolsonaro na cidade.

Pediram minha cabeça, foi horrível. Tinha gente escrevendo ‘não queremos só cassação, tem que ter eliminação’. O que me assustou muito é que as pessoas estavam relatando os meus passos num grupo. Escreveram xingamentos no meu carro”Maria Tereza Capra, vereadora em São Miguel do Oeste

Ela é a única representante da esquerda na Casa, que só tem duas mulheres entre 13 vereadores. Desse total, 11 assinaram uma moção de repúdio contra Maria Tereza, criticando-a pela forma como se referiu ao “ato cívico e pacífico” realizado na cidade.

O que me espanta é que a maioria das pessoas que estão sendo perseguidas são mulheres. Mas não vou me dobrar, estou fazendo minha defesa”

Em licença médica, Maria Tereza deixou o estado com a família e não revela onde está. Ela pede que as autoridades providenciem segurança para retornar à cidade — a Câmara disse não ter sido informada sobre as ameaças.

Foram protocolados dois pedidos de cassação contra ela — um deles reuniu cerca de 1.300 assinaturas. A Câmara informou que as denúncias foram acatadas, e um inquérito, aberto.

A vereadora de Criciúma Giovana Mondardo (PC do B), 29, também foi alvo de ameaças e pedido de cassação — já arquivado —, por criticar a manifestação em São Miguel do Oeste.

Ela é a única de oposição entre os 17 vereadores — só há três mulheres na Câmara.

Uma iniciativa como essa, que traz para essa Casa uma tentativa de cassar um mandato de um vereador pela sua posição política, nada mais é do que ameaçar não só a democracia mas a permanência e a presença de cada um de nós”Giovana Mondardo, vereadora de Criciúma (SC)

O Ministério Público de Santa Catarina afirmou que não viu apologia ao nazismo — crime no Brasil — no ato denunciado pelas duas vereadoras.

Única petista e única mulher entre 15 vereadores de Sinop (MT), Graciele Marques dos Santos, 37, foi atacada ao menos duas vezes por grupos de manifestantes golpistas em sessões na Câmara no fim do ano passado.

O motivo: uma fake news que circulou em grupos de apoiadores de Bolsonaro de que a vereadora iria protocolar um projeto de lei para retirar na cidade os acampamentos pró-golpe de Estado.

Posso contar nos dedos de uma mão as vezes que saí de casa desde os ataques que sofri. Quando saio, sempre estou acompanhada”Graciele Marques dos Santos, vereadora em Sinop

A cidade, um dos principais pontos do agronegócio no país, é também um reduto bolsonarista e registrou diversos atos golpistas no após as eleições.

Graciele diz que já teve seu o carro riscado duas vezes e precisou ir cinco vezes na delegacia para registrar ocorrências, duas por ameaças de morte.

Ela é defensora da pauta LGBTI+, do combate ao racismo e da não privatização da educação e da saúde, pautas que, segundo ela, “incomodam demais”.

Derrotamos o Bolsonaro, mas não o bolsonarismo ainda. Teremos que lidar por muito tempo com o ódio dessas pessoas, com a violência, principalmente com a violência política de gênero.

Única mulher e única petista entre 15 vereadores de Canguçu (RS), Iasmin Roloff, 25, já teve que lidar com o machismo no trabalho. Em 2021, foi eleita contra a própria vontade para ocupar o posto de segunda vice-presidente para “embelezar” a mesa diretora.

Nas últimas eleições, ela disse que adesivos do PT foram arrancados de seu carro e que o veículo de um amigo, com adereços do partido, foi vandalizado um dia depois do segundo turno.

Segundo Iasmin, o combinado entre os vereadores agora é não discutir a política nacional e tratar apenas de assuntos do município — já que, diz ela, “os ânimos na cidade seguem” acirrados depois Lula tomou posse.

Fiz um discurso falando sobre a bandeira do Brasil, dizendo que não é uma bandeira partidária, falando dos cortes, que patriota é quem ama o país, e meus colegas só faltaram me morder, me atacaram, atacaram a minha forma de trabalharIasmin Roloff, vereadora em Canguçu

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