Bolsonaro tenta sitiar Lula no Senado
Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo
À medida que a eleição para a presidência do Senado se aproxima e os bolsonaristas tentam reeditar o clima de polarização que dominou a campanha para a Presidência, um personagem de fora do Congresso ganhou status de “anti-cabo eleitoral” de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) na tentativa de se reeleger: o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
Candidato de Jair Bolsonaro para a presidência do Senado, Rogério Marinho (PL-RN) aposta na rejeição a Moraes e nas críticas de “subserviência” na relação entre Pacheco e o Supremo para angariar mais votos na difícil campanha pela chefia do Congresso.
Marinho e seus aliados têm insistido no argumento de que o Senado não é independente e que Pacheco “não defende o parlamentar” – como afirmou em entrevista ao Globo, nesta sexta-feira, o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto.
A fala de Valdemar reflete o discurso feito pelos bolsonaristas para o público do Congresso, explorando decisões de Moraes como o bloqueio de páginas de parlamentares por defender atos antidemocráticos ou o afastamento do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), por 90 dias, na esteira da repercussão dos atentados terroristas que culminaram com a invasão e a depredação da sede dos três poderes.
Moraes cogitou mandar prender Ibaneis, mas desistiu da ideia por considerar que o afastamento seria uma medida mais apropriada e equilibrada.
Ainda assim, o afastamento de Ibaneis incomoda uma ala do Senado, casa formada por políticos com maior experiência e vários ex-governadores.
Até mesmo aliados de Moraes acreditam que o afastamento de Ibaneis por três meses foi exagerado, considerando que a intervenção federal no DF durou apenas 30 dias e já está se encerrando.
A suposta submissão de Pacheco ao Supremo – e, agora, ao governo Lula – também tem apelo para determinados grupos, especialmente os que consideram que não se pode dar muita força ao Executivo em detrimento do Legislativo.
“Se Marinho ganha, o governo Lula terá que negociar com o Senado em outros termos”, diz um aliado de Marinho.
Nas redes sociais e grupos de WhatsApp, bolsonaristas têm pressionado senadores para impedir a vitória de Pacheco e tentar enquadrar Lula.
Na prática, o que boa parte da bancada do PL quer mesmo é emplacar um impeachment contra integrantes do Supremo, especialmente Moraes, relator de inquéritos que já fecharam o cerco sobre o clã Bolsonaro: o das fake news, milícias digitais e dos atos antidemocráticos.
À frente do Senado, Pacheco arquivou sumariamente um pedido de impeachment do próprio Bolsonaro contra Moraes, o que enfureceu aliados do ex-presidente da República.
Nas contas de aliados de Marinho, o ex-ministro de Bolsonaro tem 35 votos na disputa contra Pacheco. É muito, mas ainda não é o suficiente para impedir a recondução de Pacheco ao cargo.
Por isso mesmo, o próprio Marinho tem feito um discurso dúbio em relação ao impeachment. Embora não se comprometa com a abertura dos processos de impeachment contra ministros do STF, ele tem feito críticas a decisões do tribunal e prometido um Senado “independente”.