Especialistas elogiam decisão de Lula de não convocar GLO

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Foto: Eraldo Peres/AP Photo/picture alliance

Duas referências nos estudos sobre a relação entre as Forças Armadas e a política, os professores Francisco Teixeira, da UFRJ, e João Roberto Martins Filho, da Ufscar, convergem em alguns pontos sobre o 8 de janeiro e a tensão entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e os militares. O grande acerto do governo depois dos atos golpistas, dizem, foi não aplicar a Garantia da Lei e da Ordem (GLO), que colocaria um general no comando da intervenção na segurança do Distrito Federal.

“Há uma novidade republicana fundamental: não recorremos às botas e às baionetas para proteger a República. É o trabalho correto para superar o trauma e o vício da tutela militar”, afirma Teixeira. “Uma coisa é muito clara: cada operação de GLO empodera os militares. O movimento bolsonarista resolveu criar um ato gravíssimo que levasse o Lula a declarar GLO. Lula já começaria o governo enfraquecido”, diz Martins.

Outro ponto pacífico é a necessidade de, a longo prazo, interferir na formação dos oficiais brasileiros. Não é possível, apontam, manter viva na caserna a ideia de que são um “poder moderador” da República e responsáveis por tutelar a política. Esse aspecto, contudo, é visto como difícil num primeiro momento, cujo foco deve ser uma “limpeza” dos militares nomeados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro que ainda têm cargos no governo. Nessa terça-feira, 43 que trabalhavam na segurança da Presidência foram exonerados.

Para Teixeira, a relação de Lula com as Forças Armadas precisa ser firme – se algum general ousar bater de frente com o presidente, diz, precisa ser mandado para a reserva. Já Martins classifica a dinâmica como um jogo de xadrez: é necessário saber a hora de avançar, como Lula fez na semana passada ao dizer que os militares não são um poder moderador e que houve conivência de parte deles no 8 de janeiro.

Se o presidente é hoje vítima de um processo de politização das Forças escancarado por Bolsonaro, os especialistas também comentam que o próprio petista empoderou demais os militares em seus primeiros governos. A operação com brasileiros no Haiti, por exemplo, teria dado a eles um aperitivo que alimentou o desejo de atuar também em solo nacional, como nas favelas do Rio. Em 2018, no governo de Michel Temer (MDB), o general Walter Braga Netto foi nomeado interventor da segurança fluminense: “Os militares não gostam de Lula, não vão gostar nunca”, afirma Martins, ao responder o porquê de mesmo esse apoio às Forças não ter minado o antipetismo na caserna.

Valor Econômico