Ex-STF e ex-Defesa defende Múcio
Foto: Elaine Menke/Câmara dos Deputados
Ministro da Defesa durante o segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, Nelson Jobim afirmou, ontem, que apoia a permanência do atual ministro da pasta, José Múcio Monteiro, após os atos golpistas em 8 de janeiro. Ele argumentou que Múcio tem habilidade na interlocução com as Forças Armadas e destacou a importância de se nomear um civil para a chefia do ministério após o fim do governo Jair Bolsonaro, quando se fortaleceu um processo de militarização da Defesa.
“Temos hoje um homem competente na Defesa, que é José Múcio”, afirmou o ex-ministro. “Fernando Henrique Cardoso começou esse processo de entregar o comando (da Defesa) para um civil, e isso foi progressivo. O processo de militarização da Defesa começou primeiro com o ministro Aldo Rebelo, no governo Dilma, quando ele indicou o militar Silva e Luna para secretário-geral, que é o cargo civil mais importante”, frisou, durante seminário promovido pela Fundação Fernando Henrique Cardoso. “Depois, no governo Temer, houve também um problema quando criou-se o Ministério da Segurança Pública, e o general Silva e Luna subiu para a Defesa.”
Ele afirmou que Bolsonaro “militarizou toda a estrutura” e argumentou que o ministério deve ter um civil que circule bem entre militares e políticos. “Múcio tem habilidade para tanto”, disse.
Após a invasão às sedes dos Três Poderes em Brasília, uma ala do PT passou a pressionar para a demissão de Múcio, argumentando que o ministro não deu uma resposta “firme” aos problemas de segurança observados em 8 de janeiro. Petistas também esperavam uma postura mais “agressiva” de Múcio contra os bolsonaristas que acampavam na frente dos quartéis e se frustraram quando o ministro afirmou que não desmobilizaria “ninguém na marra”.
Jobim citou as recentes declarações de Lula que provocaram mal-estar com as Forças Armadas. Na semana passada, o presidente afirmou que os militares “não são poder moderador como pensam que são”. O ex-ministro relembrou que, em 2020, uma liminar do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, deixou claro que as Forças Armadas não são poder moderador, e criticou o fato de o petista ficar “retomando assuntos”.
“Há um extenso voto de Fux deixando isso claro. As Forças Armadas não são poder moderador. Não tem essa discussão”, afirmou Jobim. Na liminar em questão, formulada em resposta a uma Ação Direta de Inconstitucionalidade movida pelo PDT, Fux afirmou que o poder das Forças Armadas é limitado, “excluindo-se qualquer interpretação que permita sua utilização para indevidas intromissões no independente funcionamento dos outros Poderes”.
O ex-ministro defendeu que a reação aos atos golpistas de 8 de janeiro ocorra com “destreza e sapiência”, sem “retaliação”. Segundo ele, determinar a prisão de “todo o mundo” radicaliza a sociedade e fortalece Bolsonaro. “Se os democratas começarem a agir de acordo com o fizeram (os extremistas), fazendo uma retaliação, surge uma radicalização e se fortalece o Bolsonaro”, sustentou. “Para se ter apoio é preciso ter um inimigo. Precisamos ter sapiência ao tratar o ocorrido no dia 8. Não se pode induzir que, daquela multidão, todos foram para fazer quebra-quebra. Havia pessoas com criança no colo, que estavam lá para fazer uma manifestação.”
Ele se disse contra, no mérito, à prisão do ex-secretário de Segurança Pública do DF Anderson Torres e do ex-comandante da Polícia Militar no DF, Fábio Augusto Vieira. Defendeu que a melhor maneira de desmobilizar os extremistas não é por meio do confronto, mas do estímulo ao crescimento de uma direita democrática que, segundo destacou, pode assumir o espaço que hoje é ocupado pelo bolsonarismo.
“Prender todo mundo só radicaliza. Precisamos estimular a formação da direita democrática, encontrar líderes para a direita democrática, pois é ela que tem potencial para reduzir o bolsonarismo e o extremismo da extrema direita”, avaliou. “O bolsonarismo vai desaparecer se tivermos a habilidade de desmanchá-lo por dentro, estimulando o crescimento da direita democrática. Não faremos isso na base do confronto.”