General bolsonarista fala em “guerra ao comunismo”
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O Clube Militar do Rio de Janeiro enviou a seus associados na última sexta-feira (6) um e-mail com texto do general Marco Aurélio Vieira, ex-secretário especial de Esportes do governo de Jair Bolsonaro (PL), em que o oficial afirma que o Brasil de hoje “vive um dilema análogo ao pós-guerra de 1945”.
Em artigo intitulado “A Nossa Guerra Fria”, Vieira alardeia uma suposta “intenção de estabelecer o comunismo e suas práticas no Brasil” e aponta para a necessidade de mudança de estratégia das “hostes democráticas brasileiras”, que estariam hoje exauridas “e sem a possibilidade de reação em força”.
“Recordamos que a intervenção militar foi descartada pelos detentores da violência institucional do Estado por motivos que a história um dia vai elucidar”, escreve Vieira, fazendo mistério sobre o fracasso do projeto golpista que assombrou as eleições e o final do governo Bolsonaro.
“É a experiência histórica que nos aponta a solução estratégica: uma organizada e sistemática ‘guerra fria nacional’”, afirma o general, que foi o primeiro presidente do Instituto General Villas Boas, organização cujo conselho editorial ele hoje preside.
Em seu exercício retórico, o general afirma ser preciso “conter os ataques às liberdades desse governo que, sem qualquer pudor, está instituindo organismos ditos de ‘democracia defensiva’ e de ‘combate à desinformação’, com inconfessáveis objetivos de maior capacidade de intervenção na vida das pessoas, como já vem acontecendo por abuso de autoridade do STF”.
Além de atacar a suprema corte, Vieira acusa o processo eleitoral de falta de transparência, a imprensa de “conivência desonesta” e magistrados de “medidas ilegais para oprimir os cidadãos”. A mensagem causou desconforto em parte dos associados do clube, que protestaram contra a diretoria da instituição pela promoção e difusão do texto.
Procurado, o Clube Militar não retornou à Folha até o fechamento deste texto.
General da reserva do Exército desde 2002, Vieira foi diretor-executivo de Operações da Rio-2016 e cuidou do evento da tocha olímpica. Empossado como secretário especial do Esporte em dezembro de 2018, ele foi exonerado do cargo no governo Bolsonaro em abril de 2019. A demissão de Vieira é resultado de um desgaste com o ministro. O general não teve no período na secretaria liberdade de montar sua equipe.
No texto enviado aos sócios do Clube Militar, o general afirmou que “os valores democráticos, as crenças conservadoras e os princípios liberais estão sofrendo seguidas baixas, vítimas de uma guerra assimétrica, orquestrada por um sistema escudado em interpretações tendenciosas da Constituição, que libertou um ex-presidente preso por corrupção e certificou sua eleição em um pleito sem transparência”.
“Se ainda acreditamos na importância dos valores democráticos, guerra é a palavra por onde devemos começar”, escreveu.