Lira quer que Lula ‘compense’ fim do orçamento secreto
Foto: Paulo Sérgio/Agência Câmara
A uma semana das eleições que vão escolher os presidentes da Câmara e do Senado, o Palácio do Planalto age para ampliar a base no Congresso, com promessas de cargos após o resultado das disputas, marcadas para 1.º de fevereiro. Embora a principal preocupação do governo esteja no Senado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta se aproximar cada vez mais de Arthur Lira (PP), favorito para ocupar novo mandato à frente da Câmara.
Dois dias antes de embarcar para Buenos Aires, Lula jantou com Lira. O presidente quer evitar que a ofensiva do PT para ocupar espaços provoque mais um atrito com o deputado que controla o Centrão.
Há quem veja com bons olhos a candidatura do deputado Chico Alencar (PSOL) e de algum nome da direita, ainda que para marcar posição. O apoio do PT a Lira está mantido, mas o tamanho da vitória é importante e muitos torcem para que não fique mais poderoso.
A reação à intentona golpista de 8 de janeiro serviu para estreitar o relacionamento entre Lula e Lira. Nenhum dos dois, no entanto, dá ponto sem nó. Em mais de uma ocasião, o presidente da Câmara disse necessitar de “instrumentos” para entregar votos a Lula. “Não sou pai de santo”, justificou.
Aliados de Lira afirmam que o Planalto precisa encontrar uma fórmula para compensar o fim do orçamento secreto, decretado pelo Supremo Tribunal Federal, se quiser “fidelizar” a base. Não é raro ouvir queixas de que o PT entregou a chefia de ministérios a partidos como o União Brasil, mas ocupou os principais cargos e, se não recuar, receberá o troco no plenário. Circula na frente ampla a provocação de que, até agora, só correntes do PT têm “porteira aberta” para nomeações.
No Senado, onde Rodrigo Pacheco (PSD) concorre à reeleição com aval do PT, o Planalto montou uma estratégia para atrair desafetos: vai “inflar” o PSB do vice-presidente Geraldo Alckmin na Casa em que prevê enfrentar forte oposição.
Ex-vice-líder do governo de Jair Bolsonaro, o senador Chico Rodrigues (União Brasil), flagrado com R$ 30 mil na cueca, em 2020, é um dos que negociam a migração para o PSB. Virou Lula desde criancinha. Se bem que, verdade seja dita, a “moda” da cueca também já atingiu o PT. Defensor do porte e posse de armas, o senador Jorge Kajuru, por sua vez, deixa o Podemos para retornar às fileiras socialistas.
Alvo de campanha que mais parece temporada do gabinete do ódio nas redes sociais, Pacheco deve ser reconduzido à presidência na disputa contra Rogério Marinho (PL). Na prática, o tamanho real da base aparecerá quando houver a primeira votação. Ao que tudo indica, a lua do presidente será de fel.